37_ Pombos ambulantes..

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Acordei, por conta do calor.
Me remexo na cama e olho pro lado, lá estava ele, dormindo calmamente. Olhar pra Lucas dormindo me fazia sentir que a vida seria fácil com ele por perto.

Mas as vezes, ele me fazia pensar que seria bem ao contrário disso.

Não queria ficar de pé, por mais que aquele lençol quente me fizesse querer entrar numa piscina de gelo, eu odiava levantar e saber que eu não teria nada pra fazer depois disso.
Remexi minhas pernas na cama, na procura de apenas uma parcela de lençol frio, coloquei as mãos debaixo do meu travesseiro, procurando mais uma vez qualquer coisa que me convence-se a ficar ali; mas estava quente, muito quente.

Liguei meu celular, chegaram notificações do G1, e por talvez coincidência, todas elas falavam sobre: "o aquecimento global faz com que..."
"O aquecimento global atingiu..."

O aquecimento global.

Desliguei meu celular assim que senti a sua tela esquentando. iPhone é uma bomba de qualquer forma.

Coloquei os pés no chão, e foi a primeira coisa minimamente gelada que eu senti desde então. Comecei a caminhar até o banheiro, tudo que se passava e repassava na minha cabeça envolvia um banho gelado, gelado trincando.
Distraída o suficiente para bater meu dedinho na quina da cama.
Senti aquela dor subindo pra cabeça e fechei os olhos, tentando não gritar pra não acordar o garoto que dormia na minha cama.

Porra, caralho, merda, droga, puta que pariu...

Respirei fundo e continuei andando – meio que mancando, mas continuei andando. Cheguei na porta do banheiro e logo tirei a roupa e entrei no chuveiro gelado.

Nem mesmo aquela água fria foi capaz de tirar o meu calor.

Lavei meu cabelo, e aquele banho pra esfriar a temperatura do meu corpo levaram em média 30 minutos. Certamente daria pra matar parte da sede no mundo com a água que eu usei.

Me enrolei numa toalha e fiquei mais alguns minutos pensando na morte da bezerra, com uma preguiça enorme de mover qualquer músculo para vestir roupa; os músculos iam se aquecer e o calor voltaria.
Mas, vencida pela agonia de ficar apenas com um pano enrolado no corpo, me levantei e vesti minhas roupas.

Abri a porta e senti uma estranha brisa agradável passando pela minha pele úmida.
Olhei para frente e vi Lucas, acordado e sentado na cama me encarando.

– porque você não me chamou?– cruzou os braços.

Encarei seus olhos que estavam semicerrados.

– não te chamei?

– É. Pro banho.– falou como se fosse algo óbvio. – tem ideia do calor que está aqui nesse quarto?

– e desde quando tomamos banho juntos?– franzi o cenho.

– não podemos?– ele arqueou as sobrancelhas.

Comecei a me aproximar da penteadeira; assim que alcancei, peguei meu pente e levei até o cabelo.

– não é que não podemos, mas você nunca me disse que queria isso.– falei e logo em seguida dei de ombros.

– é o tipo de coisa que eu preciso dizer, Náthaly Willians?

Meu nome não é Náthaly Willians, mas ele me chamava assim às vezes.

– claro que é?

Ele se levantou e caminhou até mim, pegou o pente das minhas mãos, e bem de perto, encarou os meus olhos.

– tudo que você fizer, eu quero ir junto. Por mais estranho que a coisa seja.– falou e logo em seguida abriu um sorriso. – considere-se avisada.

Meu melhor amigo imaginarioOnde histórias criam vida. Descubra agora