As vezes, por um acaso encontramos pessoas que, no futuro serão importantes para nós. Talvez mais importante que a nossa própria vida. Mas um dia essa pessoa irá sair das nossas vidas do mesmo jeito que entrou, do nada. A dor de perder alguém querido pode doer mais do que qualquer lâmina. É um machucado interno, incapaz de ser curado apenas com uma simples cirurgia. Dói, e não há nada que você possa fazer.
Eu nunca senti isso. A criatura que se possa ser considerada querida pra mim não existe no mundo. Mas existe aqui, na minha mente. É difícil, quase impossível acreditar que o ser que eu vejo acordar todo dia não é real. Ele é mais real que muitas pessoas pra mim, meu único amigo. E sempre foi assim. Nem sei se posso me considerar louca por ter um melhor amigo fantasma com dezesseis anos, mas eu acho que, se ele é só um fruto da minha mente, foi criado porque ninguém nunca quis me escolher como uma amiga.. Lucas, é o nome do gasparzinho que salvou minha vida.
Aliás, meu nome é Nay.
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Uma garota solitária com sete anos, na véspera de seu aniversário, completamente sozinha – isso já não era novidade. Nunca esteve acompanhada de verdade, não sabia oque era ter um amigo. Sempre rodeada de pessoas felizes com suas famílias e amigos, uma coisa que ela não tinha. Não por ser órfã ou por ter sido abandonada de verdade, mas se sentia jogada de canto.
Tudo o que ela ouvia do quarto da sua mãe eram alguns ruídos que com certeza só demonstrava uma tentativa de esconder o seu choro. Acontece que ela não tinha uma figura paterna, às vezes se perguntava como as coisas seriam diferentes com um pai.Olhando para lua desejou do fundo de seu coração alguém com que ela possa contar. Não importa a origem ou a distância, ela só queria alguém para que pudesse contar como foi seu dia. Sua mãe vivia fora de casa, era muito ocupada. E com toda razão, manter uma casa de pé sozinha não é nada fácil.
Depois de seu pedido, alguns dias se passaram.. e em uma manhã ensolarada, ao abrir os olhos a menina se deparou com um garoto dormindo calmamente ao seu lado. Ao vê-lo leva um grande susto, se afastando rapidamente. A criatura possuía cabelos negros e lisos, levemente ondulados. Uma pele branca e pálida como a própria neve. Nay curiosa se aproxima lentamente, desce da cama e com passos lentos se aproxima do menino que continua dormindo. Sua mão se aproxima tremendo, ao tocar a bochecha dele com o indicador, a criança abre os olhos, lentamente, mostrando suas lindas meduzas azuis
- Por favor, me diga que você é real!!– gritou, com todo entusiasmo.
A criança se afastou um pouco, cortando o contato físico, com um semblante surpreso. Olhou em volta, sem entender nada.
"Oque deu nela?" Era provavelmente oque se passava na cabeça do moreno.
Ela se empolga ao pensar na possibilidade de ter um amigo, as suas preces foram finalmente atendidas.
- Qual seu nome ? - seus olhinhos de jabuticaba ainda encaravam ele firmemente.
- Me chamo Lucas, e você ? - responde, calmo.
- Me chamo Náthaly! Muito prazer.
Não conseguiram conversar por muito tempo, a porta é aberta e Hannah a atravessa depressa.
- Oh, Nay minha filha.. Oque faz neste chão gelado ?
Nay se levanta apressadamente do chão, que realmente estava gelado.
- Mãe! E... Eu só estava...
Seus olhos são direcionados pro lugar que Lucas deveria estar, mas bom.. ele sumiu.
A menina encara a cama confusa, mexe nas cobertas a sua procura, mas não tinha nada ali além de uma menina fazendo papel de doida – era só início.
Hannah franze a testa e coloca as mãos na cintura
- Olha, eu tenho que sair. Vou voltar tarde, tem comida no microondas.
Manda um beijo com a mão e sai fechando a porta. Seus saltos fazem barulho enquanto desce as escadas, ao estralar da porta sendo fechada, uma pequena mão rela o ombro da garota. Seu corpo se vira rapidamente e quando seus olhos presenciam o tal fantasma novamente, seu corpo se arrepia e quase deixa um grito escapar. Ele cobre sua boca e a olha preocupado. Em um sussurro, pronuncia:
- Meu deus, você está bem? - pergunta se aproximando.
Nay grita e sai para o outro lado do quarto
- Oquê diabos é você?!
O garoto se assusta com o grito agudo de Nay, coloca o indicador nos lábios indicando Silêncio.
- Calma, eu.. - ele tenta dizer alguma coisa.
Tenta se aproximar mas a garota récua
Ele se sentiu como um monstro.
Outra vez..- Escuta, Náthaly.. eu não sei o porquê ela não me viu.. acredite em mim! - diz.
Seus olhos eram tão confuso quanto os dela. Seu olhar tremia e tentavam fixar no rosto da menina arrepiada em sua frente.
Então viu que ele era apenas um garotinho perdido naquele quarto. Se aproxima dele e segura suas mãos pálidas
- Eu acredito em você. - afirmou ela com um sorriso amigável no rosto.
E este foi o nascimento de uma grande amizade.
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Depois daquele dia, nós descobrimos várias coisas sobre Lucas, e mesmo assim viramos melhores amigos. Talvez tenha sido por falta de opção dos dois..
Lucas era visível para outras pessoas, mas conseguia interagir normalmente com qualquer objeto. Atravessava pessoas e paredes. Minha mãe logo notou a existência de Lucas, pois eu vivia falando "sozinha". Ela me disse que é normal ter isso quando jovem, mas na adolescência meus amigos imaginários sumiriam junto com a minha imaginação. Mas eu não ia sentir a dor da perda, seria algo normal.
E aqui estou eu, com dezesseis anos nas costas. Conversando sobre coisas aleatórias com Lucas outra vez.
(..)
Estava tarde da noite, havia acabado de acordar após ter tido um sonho estranho novamente. A iluminação da lua invadia meu quarto, conseguia escutar a respiração de Lucas dormindo. Eu estava de costas para ele, apenas encarando a janela. Certamente não consiguiria dormir de novo..
Uma mão quente abraça minha cintura vagarosamente, Lucas aproxima seu corpo do meu
Lucas- Acho melhor você ir dormir. Amanhã volta às aulas.
Escuto sua voz rouca e sinto meus músculos se relaxarem, respiro fundo e sinto o perfume de Lucas invadir minhas narinas, seu cheiro meigo me acalma. E logo o sono me atinge novamente.
O sol invadia meu quarto e um vento calmo e sereno balançava as cortinas, abro os olhos devagar. Era manhã. Tateio a cama na procura de Lucas, mas não sinto nada. Me viro e ele realmente não estava ali.
Inclino as costas e encosto os pés naquele chão gelado, caminho calmamente ate o banheiro. Na pia havia o meu uniforme dobrado e um bilhete 'bom dia'. Sorrio, visto minhas roupas e penteio o cabelo. Desço as escadas com a mochila nas costas. Encontro um ser que usava uma camisa preta colada, uma calça jeans preta e um avental branco. Fazia um pilha de panquecas enquanto cantarolava uma musica baixa. Me aproximo e sento em uma das cadeiras do galpão, Lucas dirige seu olhar pra mim;
Lucas- Como você consegue demorar tanto pra acordar? As vezes eu acho que você entrou em coma.
Sorrio debochadamente.
Nay- incrível. Agora, cadê minha comida?
Lucas- as vezes eu me sinto meio abusado, sabe?- começa a desabafar. - tipo um empregado pessoal.
Apoio a cabeça nas mãos e aliso seu ombro.
Nay- não se preocupe. É exatamente isso que você é.- tento conforta-lo.
Ele me entrega o prato com panquecas e um copo de suco. Estava como sempre, muito bom.
Faço um joinha com o polegar demonstrando que ele é um bom empregado pessoal....
1232.
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Meu melhor amigo imaginario
Fantasi"As pessoas são passageiras, e passam por nossas vidas. Ciclos se encerram, e isso dói. Mas é o certo a ser feito." É isso que as pessoas normalmente dizem por aí. São palavras que aguçam a minha curiosidade. Pois, eu nunca senti essa dor da perda...