33_Irreal..

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– tente não morrer de alegria.

Lucas quebra o silêncio entre nós. A sua voz soou estranho, parecia haver um pouco de insegurança nas suas palavras.

Direciono o meu olhar para o seu rosto e vejo ele com a cabeça inclinada me encarando.

Nay- se eu morresse de alegria, não poderia aproveitar a surpresa.

Ele sorri e segura em minha mão. Me puxa e paramos de frente para um antigo prédio abandonado.

– surpresaa!– gritou animado, apontando com os dois braços para o prédio a nossa frente.

Franzi o cenho e me aproximei da porta.

Nay- ô de casa!– não ironicamente, mas eu esperava uma resposta de alguém.

Bati duas palmas e vi Lucas cair na gargalhada.

É estranho como tudo faz ele rir...

Lucas- não é assim que se pede permissão para entrar no Wayssani.

Nay- do que você tá falando?– ri da sua estranheza, que estranhamente combinava com a minha. – Wayssani?

Lucas- isso.– apontou para o prédio. – de qualquer forma, estamos aqui pra conversar.

Concordei com a cabeça. Ele segurou meu pulso e me guiou para dentro da construção abandonada. Subimos algumas escadas, não muitas, pois o prédio era pequeno.
Chegamos ao terraço, e nele, havia um lençol no chão, algumas almofadas, uma cesta de comida e duas taças.
Pareciam aqueles filmes de Paris, aquele lugar era reconfortante, provavelmente por ter sido Lucas que arrumou.
Nos sentamos sobre o lençol.

– obrigada por me trazer aqui... Parece perfeito.– agradeci com um sorriso no rosto.

Nós ficamos lá, conversando e comendo.
Apenas o fato de desfrutar da companhia dele já era o suficiente pra mim.
Mas, Lucas parecia pensar em outra coisa enquanto a gente conversava sobre os velhos tempos. Oque há de errado aqui?

– agora, posso? Tenho que te falar uma coisa...

– falar? Claro, pode me dizer.– respondi o óbvio.

– antes, eu tenho um pedido. Não fuja de mim até que eu termine de falar, tudo bem?

Engoli em seco e assenti com a cabeça.

– você já deve saber, que quando éramos mais novos, nós só tínhamos um ao outro. Não sei se isso foi ruim pra você, mas quero que saiba que pra mim não foi.– me encarou nos olhos.

– não sei também se a minha companhia sempre foi o suficiente, ou se você se sentia solitária por conversar apenas com algo "irreal". Mas eu tô aqui agora pra te dizer que eu não fui apenas algo da sua cabeça esse tempo todo.

Prestei atenção em cada palavra. Era como se todos os seus machucados internos fosses perceptíveis a flor da pele agora.
Arregalei os olhos nessa última frase, oque ele quis dizer com isso?

– eu sou real.

– oque?

Nossos olhares se fixaram um no outro. E pra falar a verdade, ele parecia bem real naquele momento.
Senti a sua angústia de antes pular para mim. Minha mente começou a pensar como isso seria possível assim que a ficha caiu.

– ei...– me chama.

Sua mão se estende e tenta tocar a minha bochecha, mas recuo para trás antes mesmo que possa pensar no que eu estava fazendo.

– nay.– chamou novamente. – olha pra mim, por favor...

Encarei o chão, e naquele momento eu não estava escutando mais nada.
Durante a minha vida inteira, eu pensei que eu estava ficando louca, mas isso não era verdade?

Oque é ou não verdade aqui?

– espera, pequena... Eu não terminei de falar.

Mas, se eu soubesse que nunca foi real, porque eu andaria por aí até esse prédio? Oque ele realmente é?

Espera... Com que tipo de criatura eu estivesse dividindo a minha vida...?

– Náthaly...

– eu preciso ir.– falei.

Eu
Precisava
Ficar.

Meu coração me dizia essas coisas. Seja lá oque Lucas fosse naquele momento, ele parecia precisar de mim. Mas, eu precisava pensar um pouco... Não que eu acreditasse em espíritos, ou almas penadas, mas mesmo assim não pude repugnar aquele pensamento.

Oque você é?

– não, não...! Por favor, fica... Eu posso te explicar...– ele parecia tão confuso.

Parecia tão confuso como sempre foi.
No momento em que o conheci, ele parecia exatamente assim para mim.
A forma como eu recuei,
O medo,
A incerteza,
Até essas coisas são iguais ao momento em que nós nos conhecemos.

Por mais que eu adorasse encarar seus olhos, eu não conseguia aguentar o peso de olha-los agora.

Me levantei, com culpa, mas me levantei e sai dali. Não sei se era isso que eu queria, ou não. Mas, naquele momento, eu não sabia de nada.

A quanto tempo eu me perdi entre o real e o irreal?

Caminhei pelas ruas geladas e agora realmente desertas e solitárias. A lua parecia acompanhar meus passos.

Eu poderia apertar em um botão que desligasse os meus pensamentos de alguma forma?
















782.

Meu melhor amigo imaginarioOnde histórias criam vida. Descubra agora