45_ seja sincera..

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No fim, acabei alugando os livros pra terminar de ler. Jhonatan se ofereceu pra nos levar em casa, mas Lucas insistiu que seria melhor irmos apé. Com passos largos, começamos a caminhar pela cidade, comentando um com o outro tudo de mais aleatório possível.
Aquela parte da cidade, tinham grafites na parede, alguns mais coloridos que os outros, mas o que mais me chamou atenção foi um com asas de anjo; coloquei o Lucas no meio delas e tirei fotos o suficiente pra fazer um álbum.

Dizendo ele que queria preparar uma noite especial, então fomos logo pra casa - eu andei tanto que pensei que fosse morrer.

Destranquei a porta da sala e encarei aquele sofá tão convidativo me chamando, já Lucas foi correndo até a cozinha, escolheu algumas panelas e lavou as mãos numa velocidade incrível.

- ô pequena.. - me chamou. - pega esse avental pendurado na cadeira pra mim?

Me esforcei o máximo que conseguia pra colocar força nas minhas pernas cansadas e segurei o avental, em vão, estava manchado e melecado com alguma coisa muito esquisita.

- credo, o que é isso?- levantei o avental numa altura que ele enxergasse. - parece que gozaram nele..

Ele deixou um riso escapar.

- parece mesmo, não tem outro?

Tinham vários no armário que fica no quarto da minha mãe - dizendo ela - mas assim que entro lá, percebi que era um lugar totalmente desconhecido pra mim. Me perguntei se eu já tinha entrado ali alguma outra vez na vida.
Tinham cremes e perfumes organizados por cores, cheirava a lavanda e a sua cama estava perfeitamente arrumada. Faz sentido quando dizem que o quarto é o reflexo da mente.

Fui até um armário beje procurando um avental, eu podia jurar que eram dois. No meio de toda aquela organização em excesso, em um cantinho excluído e isolado, havia uma caixinha pequena, toda azul com detalhes dourados e ela aparentava estar ali a muito tempo.
Era a única coisa entre muitas naquele quarto que parecia abandonada, tinham algumas teias de aranhas e cores desbotadas. Segurei ela com as duas mãos e aproximei do meu rosto, era bonitinha, com uma fechadura a moda antiga, o que fez minha curiosidade ter vida própria.

Abri ela com calma, como se quisesse apreciar qualquer coisa que seja que esteja ali dentro, mas todos os meus sentidos travaram assim que vi aquela fotografia. Ela estava rasgada em sua lateral, parece que já foi amassada, mas o mais importante, havia um homem sorridente ao lado da minha mãe, um homem que era inegavelmente o meu pai. Eu pude perceber de quem eu tinha puxado aquele nariz ridiculamente grande e fino, era dele.
Minha mãe esbanjava um sorriso no qual eu nunca tinha visto no seu rosto, era verdadeiro, diferente dos outros que ela faz.

Meu coração gelou por um momento. Como seriam as coisas se ele estivesse aqui?

Tomei coragem de continuar mexendo naquelas relíquias, mesmo que não fosse da minha conta. Me deparei com a cereja do bolo, uma carta escrita a mão.

"Meu amor..."

Li as primeiras palavras e senti um choro reprimido chegando.

"Meu amor, escrevo essa carta em nome do seu futuro marido. A está altura, provavelmente já escutei as vozes do meu coração gritando por ti e pedi a sua mão. Ou pelo menos, assim espero!

Me apaixonar por você com certeza foi a aventura mais maluca e satisfatória que eu jamais tive coragem de fazer. Sou eternamente grato por ter sido escolhido pelos seus olhos tão brilhantes com um estranho reflexo de 'lar', somos apenas nós, hoje, amanhã e todos os dias após esse..."

Três batidas na porta.
Dobrei a carta lida na metade na velocidade que consegui e escondi ela atrás de mim.

- já faz uns dez minutos que você subiu atrás desse avental..- resmungou. Era o Lucas, graças a Deus, era ele.

Meu melhor amigo imaginarioOnde histórias criam vida. Descubra agora