Capitulo 26

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Oie, capítulo antes de sexta 😬
Se forem boazinhas e comentarem bastante amanhã tem mais ❤️





E chegamos, oficialmente, no último trimestre.

Com sete meses Carina estava parecendo uma bolinha branca, mas claro que eu não diria isso a ela. Seu rosto estava mais redondo, sua barriga realmente grande, suas mãos e pés gordinhos - não contando o leve inchaço em seus pés, claro.

Havíamos nos mudado há pouco tempo para a casa nova e estávamos nos adaptando, mas vira e mexe eu contemplava como talvez não tivesse sido uma boa ideia nos mudarmos para uma casa de andar, já que Carina estava com bem menos fôlego e uma mobilidade reduzida, mal enxergando os próprios pés.

Mas a casa era ótima.

Pouco depois da Ação de Graças, que passamos na casa de Amelia e Andy e na companhia de Vic, fomos a consulta com a obstetra e ela nos disse que estava tudo bem, mas que as consultas iriam ser mais frequentes para monitorar a situação do bebê e de Carina até o parto, e nos autorizou a viajar para as festividades de Natal e Ano Novo.

Estávamos na mesa de jantar, almoçando, quando a coisinha perguntou:

-Mamães, o que é isso?

A olhamos. Ela cutucava as costelinhas de porco.

Suei frio.

Encarei Carina, que parecia não saber o que dizer, mas tentou mesmo assim:

-Ahn... costelinhas, amor - falou, voltando a comer.

Ela arregalou os olhos para a carne.

-Mas... - começou - costelinhas não é isso que fica aqui?

A pestinha cutucou onde ficavam as costelas.

Troquei um olhar com Carina.

-Sim, mas não é costelinha de gente - a tranquilizei.

-E é costelinha de que?

Senti minhas mãos suarem e troquei outro olhar com Carina, que negou com a cabeça de forma penosa, como se esperasse por aquele momento a vida toda, mas não acreditava que houvesse chegado a hora.

-Hm... - fiz.

Carina suspirou.

-É de um bichinho criado para fazer comida para gente - falou.

-Que bichinho? - perguntou, parecendo aflita.

-Por que você não come e falamos nisso depois? - sugeri.

-Eu não vou comer bichinho! - exclamou, cruzando os braços.

-Cake... - Carina tentou chamar sua atenção suavemente, mas a menina escorregou da cadeira e pegou o tablet sobre o sofá, a quem ela recorria sempre que nós duas não conseguíamos corresponder às suas expectativas de respostas cada vez mais precisas.

Afundei o rosto nas mãos, prevendo a tragédia.

Tipo, ela estava crescendo e ficando cada vez mais exigente e esperta. Não tínhamos como conter que ela soubesse de algumas coisas, mesmo que preferissemos sua ignorância e inocência e a achassemos muito nova para algumas outras coisas.

-Mamães! - ela gritou e Carina e eu nos movemos em sua direção, eu rapidamente e ela o mais rápido que podia.

A pestinha estava agarrada ao porco e tinha uma expressão de pavor no rosto.

-Não é o que você está pensando - me adiantei como um cara sendo pego em flagrante com a amante.

Ela abriu e fechou a boca diversas vezes e foi a primeira vez que a vimos não saber o que dizer, tamanho choque.

Ouvi Carina suspirar ao meu lado e ela passou por mim e se sentou no sofá.

-Venha aqui - mandou - me dê o tablet, solte o porco e sente aqui comigo.

Ela ainda parecia congelada com seus grandes olhos arregalados e cheios de lágrimas e pavor, mas fez em um ato automático o que a mãe mandou.

Me acomodei do outro lado da criaturinha, que olhava para Carina a procura de uma explicação.

-Existe uma coisa na natureza que se chama cadeia alimentar - ela explicou - você ainda vai estudar isso na escola, mas eu vou te explicar mais ou menos como funciona, está bem?

A criança assentiu, ainda em choque, e Carina prosseguiu:

-A gente, para sobreviver, precisa comer e é assim com os animais também, só que cada um tem uma necessidade de comer coisas diferentes. Alguns bichinhos vivem bem comendo só plantas, alguns só comem carne, que vem de outros bichinhos, e outros, como nós humanos comemos plantas e carne, que vem de alguns animais. Está entendendo?

-Sim, mas por que todo mundo não come só planta? - ela perguntou.

-Porque cada tipo de animal, incluindo os seres humanos, funcionam de um jeito diferente. Eu quero que você entenda que comer carne é normal e que por isso as pessoas tem um monte de animaizinhos que são criados só para dar alimento para a gente. Eu sei que parece cruel e errado, algumas coisas funcionam assim pela natureza da gente.

-Então se eu não comer bichinhos eu vou morrer? - ela perguntou tristemente, fungando.

Carina suspirou pesadamente mais uma vez.

-Não, amor - optou pela verdade, como sempre tem sido - existem pessoas que não comem carne e encontram outra forma de conseguir os nutrientes que precisam.

-E por que todo mundo não faz isso? - questionou, parecendo indignada.

-Porque as pessoas pensam de forma diferente e veem as coisas de forma diferente. Algumas pessoas gostam de comer carne e está tudo bem.

-Eu não quero comer carne - disse com uma firmeza impressionante para seu tamanho e idade.

-E nós não vamos obrigar você, porque a entendemos. Gostaríamos que esperasse mais tempo para tomar uma decisão desse tamanho, mas é algo que já esperávamos que fosse acontecer. Só que você vai ter que comer outras coisas para repor esses nutrientes, comendo tudo o que a mamãe e eu colocarmos no seu prato sem reclamar ou você vai ter que comer a carne, entendeu?

-Sim.

-E você também precisa entender que as outras pessoas comem carne e não são obrigadas a pensar como você, então não pode controlar o que elas comem, entendeu?

-Entendi.

-E nunca mais saia correndo da mesa e pegue o tablet sem a nossa permissão, ou vamos cortar o uso dele - avisou Carina.

-Desculpa.

-Agora eu quero que você volte e coma tudo o que não é carne naquele prato - disse Carina.

-Está bem.

Ela se levantou e correu de volta a mesa. Encarei Carina.

-Acha mesmo que é certo uma mudança dessas tão nova? - perguntei.

Carin tombou a cabeça no sofá e suspirou exaustivamente.

-Eu não sei, Maya, mas não podemos fazer ela agir contra seus princípios nem dizer que ela é muito nova para te-los. Não sei se isso é certo. Talvez ela mude de ideia mais tarde, mas só podemos dar apoio e fazer ela entender o que está fazendo e dar a ela uma dieta segura. Se ela não mudar de ideia nos próximos dias vou marcar pediatra e nutricionista para ela.

-Tudo bem...

Ela respirou fundo.

-Desculpe. Eu nem perguntei o que você acha - gemeu baixo em frustração.

-Você tinha que agir, eu entendo. Além disso eu não sabia o que fazer e concordo contigo. Alguém tinha que ter o controle da situação e definitivamente não era eu.

-Certo, só me pare se eu for fazer algo que você não concorde e podemos conversar.

-Tudo bem.

-Vamos terminar de comer.

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