Capitulo 28

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Acordei no susto com um ofegar de Carina no meio da noite.

Do nada ela me buscou com a mão e virou de barriga para cima.

-O que foi? Está bem? - perguntei.

Carina ofegou novamente, se sentando de súbito.

-Estou bem, estou bem - garantiu, soltando meu braço de seu aperto.

-O que aconteceu? - perguntei.

-Eu só me assustei. O bebê está se mexendo muito... ele é forte... - suspirou, caindo sobre o colchão e os travesseiros novamente enquanto acariciava a barriga.

-Ah, eles fazem isso mesmo - me espreguicei, ainda a observando.

-Isso é hora?! - questionou Carina com uma careta, me fazendo rir.

-Você está só com trinta e uma semanas, daí pra frente só piora. Eu não conseguia dormir com a peste da sua filha se mexendo a noite toda. E quando ela começou a chutar minhas costelas... ai... dói só em lembrar!

Carina fez uma careta novamente e murmurou algo como "fica quietinho, bebê", mas não entendi direito porque não passou de um resmungo.

-Se te serve de ajuda, talvez conversar com ele pode resolver. Funcionava comigo.

Carina soltou um gemidinho.

-Eu só quero dormir! Não consigo nem raciocinar de tanto sono...

Me aproximei dela e pousei uma mão sobre sua barriga, acariciando de leve.

-Tudo bem, vamos conversar um pouco - murmurei para ela - que tal você me contar sobre o que tem te deixado tão estressada?

Nessa última semana Carina havia voltado a ficar muito sensível. Chorou como uma criança quando nos despedimos de nossos pais e passou a viagem toda em silêncio, o que não estranhei de pronto porque ela tinha medo de viajar de avião e passava o voo todo quietinha e calada.

Porém, quando os dias foram passando ela continuava quieta e nervosa, o que me tirava o sono.

Carina suspirou.

-Tive uma conversa com minha mãe antes de irmos.

Pronto. Isso de certa forma bastava.

A mãe dela, na verdade, era uma ótima mãe, muito carinhosa e às vezes cuidadosa até demais, além de rigorosa, então eu sabia que parte dos problemas de autoestima de Carina e as demais causas ocorridas por isso eram causados também por ela.

Eu só não me metia, mas se ela tivesse perturbado o juízo de Carina, iria se ver comigo.

-O que ela disse?

-Que achou muito precipitada essa gravidez e não tinha certeza se eu ia dar conta de passar por tudo.

-Como não? Você já criou uma filha sozinha durante três anos e agora eu estou aqui contigo.

Carina suspirou novamente.

-Ela não estava falando sobre isso, mas sim sobre minha cabeça suportar todos os acontecimentos. O parto, o pós parto, a recuperação de meu corpo, que ela diz que vai mudar muito e tem uma grande tendência a não voltar ao normal... ela tem medo que eu entre em depressão pós parto.

-Você não vai ter isso.

Carina baixou os olhos.

-Não sei quanto a isso - falou - minha cabeça não funciona direito, sabe disso.

-Mas você está em terapia, vai conseguir passar por isso numa boa e se não for numa boa eu vou estar ao seu lado para te ajudar.

-Como... - mordeu o lábio.

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