22. Transbordando

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Megumi ficou parado, olhando para a porta pela qual seu namorado havia acabado de passar, o deixando para trás. Não conseguia encontrar o caminho da própria voz, nem organizar os pensamentos. Era como se algo estivesse dolorosamente entalado em sua garganta.

Após um tempo, sentou-se novamente, encarando o nada. Agora ele finalmente começava a entender como estivera errado esse tempo todo.

Sempre pensou que precisava proteger a quem amava, antes mesmo de perder sua mãe. Era ele quem defendia as duas, não importava o quão novo ou pequeno fosse. Sempre achou que tudo dependia dele, principalmente anos mais tarde, já que era esse o trato com os Zenin desde o começo: ele seria um bom garoto contanto que cuidassem de sua irmã. Mas nem isso foi como o planejado, não é mesmo? Hoje ele conseguia enxergar certos detalhes que antes não estavam em sua capacidade.

E, por todos esses anos vinha tentando proteger o dono daquele sorriso caloroso, tentando mantê-lo ali, naquele rosto lindo. Mas será que Yuji também queria isso? Nunca havia passado por sua cabeça que a resposta fosse "não". Nunca lhe ocorreu a ideia de que ele não queria ser protegido e sim fazer parte de tudo, incluindo as coisas ruins. E que isso é que era de fato fazer parte da sua vida, completamente.

No fim, sentia que estava agindo como a família que tanto detestava, não parando nem para prestar atenção no que o outro pensava, sentia, queria...

Depois de um longo tempo, suspirou e apoiou o rosto nas mãos, o escondendo. Como pôde não ter percebido que vinha machucando seu namorado com suas atitudes?

– O que eu estou fazendo...? – Sussurrou para si mesmo, em um tom aflito.

Megumi ergueu o olhar para o corredor, agora mais escuro. Ficar se lamentando não era a melhor solução. Se não fosse tarde demais, ele precisava reparar isso tudo o quanto antes. E, por mais difícil que fosse, ele sabia o que precisava fazer – e que devia ter feito muito antes.

Levantou-se, sem qualquer noção do horário ou de quanto tempo realmente havia se passado, e seguiu até a sala, onde enxergava uma luz fraca. Logo chegou ao seu destino, encontrando Yuji sentando no sofá, que estava iluminado por uma luz fraca. Seus olhares se encontraram mais uma vez e então o moreno notou que tinha lágrimas escorrendo por seu próprio rosto. Ele sempre odiou chorar e nunca o fazia na frente de outra pessoa, mas pela primeira vez não ligou para isso.

Sua intenção era, desde o começo, chegar até o namorado e contar tudo o que vinha guardando dentro de si. Mas, olhando aqueles olhos castanhos amendoados, sempre tão doces e calorosos, amáveis e fortes, não conseguiu mais segurar a onda de emoção que pesava em seus ombros. E não pensou duas vezes quando Yuji o chamou silenciosamente para um abraço; mergulhou nele instantaneamente. E finalmente, Megumi desabou, permitindo que toda dor acumulada saísse enquanto era envolvido pelos braços quentinhos de seu refúgio.

Lágrimas e soluços escapavam quase incessantemente, enquanto as mãos calorosas se enroscavam nas mechas escuras e bagunçadas e pelas costas trêmulas. O jovem alfa dava todo carinho e conforto – que estivera disposto a proporcionar todo esse tempo – para o seu amor, que escondia o rosto na curva de seu pescoço.

Era estranho e íntimo para ambos, esse momento novo. Mas ao mesmo tempo, trazia uma sensação muito grande de alívio. Eles sentiam os corações quase juntos, naquele abraço apertado, e sentiam-se mais próximos do que nunca.

Após mais um longo e indeterminado tempo, o moreno finalmente se acalmou e afastou o rosto avermelhado do ombro do namorado, que acarinhou suas bochechas e seus olhos com as pontas dos dedos, enxugando o vestígio das lágrimas.

– Yuji... – o moreno começou a falar, com a voz falhando e extremamente rouca. Depois, pigarreou e continuou. – Eu fui um idiota... Nunca pense que não confio em você, isso não é verdade. Esse tempo todo eu só queria te proteger. E precisava ser forte pra conseguir isso. Tudo o que eu sei é ser forte... Ou melhor, eu achava que sabia.

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