CODINOME BEIJA-FLOR

Aquele em que Shuhua vai para o internato.

Graças ao meu pai, sou uma especialista nata em vícios.

Meu nome é Shuhua... Shuhua Bastien, e sou herdeira do proprietário da maior empresa de tabaco da França. Por isso, eu sei tudo sobre o tabaco. O tabaco tem mais de quatro mil substâncias tóxicas e mais de seiscentas substâncias viciantes com um único objetivo: torná-lo viciado. Quanto mais viciados, mais rico o meu pai fica, simples assim.

Eu sei tudo sobre tabaco e vícios, sei exatamente o que é um vício. E não, o meu não é um vício em cigarros, o meu é outra coisa. Veja bem, você tem que entender a lógica do vício. O viciado acredita que sua abstinência termina a partir do momento em que consome a substância na qual está viciado, mas na verdade, no momento em que termina de consumir aquele cigarro, começa a gerar abstinência, que vai crescendo até se tornar um sentimento insuportável. Essa é a lógica do vício: o bálsamo que acalma sua abstinência é o mesmo que está causando sua abstinência.

Não existem apenas viciados em tabaco ou álcool, existem viciados em trabalho, viciados em comida ou viciados em fome, viciados em solidão ou viciados em ansiedade. Há viciados em outra pessoa e há viciados em seu próprio ego. Existem vícios muito estranhos, como o vício em adrenalina que alguns criminosos parecem demonstrar claramente. 

Existem muitas formas de vício, e todos nós somos viciados em alguma coisa. O importante é não se confundir e entender qual é o verdadeiro vício por trás do vício. Eu, por exemplo, não sou viciada em sexo, drogas ou bebidas: sou viciada em me punir por atitudes alheias. Principalmente as de meu pai.

No começo, é como um sussurro, depois é como uma mão coçando e, no final, é como um grito. Um grito alto, mas ao mesmo tempo, silencioso. É torturante, doloroso, difícil de aguentar.

Os vícios são difíceis de eliminar porque não os vemos como um problema, mas como uma solução. Tabaco, álcool, comida, um relacionamento ruim, adrenalina ou abuso... Seja qual for o vício, todos nos garantem algo; por um tempo, deixaremos de sentir aquela dor profunda que sempre carregamos como uma cruz.

Acredita-se que o vício tem uma força mais poderosa que a vontade. Na verdade, o viciado tem força de vontade. Ele tem a vontade de não sentir aquela dor profunda em sua alma. Não é na violência que uma pessoa violenta é viciada, mas naquela adrenalina que por um momento mascara sua dor. Afinal, por que uma pessoa machuca a outra repetidamente? Porque ele pode. Porque o espancado permite.

Na década de 1960, quase ninguém sabia que fumar era ruim para a saúde. Hoje, ninguém ignora. Que razão poderosa leva alguém a fazer algo sabendo que é ruim para eles?

O viciado em jogo sabe que o cassino sempre ganha, ele sabe que vai perder. Alguém acredita que um jogador joga para ganhar? O viciado sabe muito bem o que perde, mas também - e só ele - sabe o que ganha. É uma emoção tão forte que o deixa atordoado, anestesiado. Os viciados de fato possuem uma coisa em comum;

Todos nós sentimos muita dor.

- Você sabia que grande parte da serotonina, na verdade, é produzida no intestino?

A pergunta que paira levemente pelo ambiente fechado é minha, com uma pequena pitada de euforia por trazer essa nova informação. Ao me ouvir, tudo o que recebo em resposta é o rosto torcido, a confusão pesando na face feminina.

- Como é?!

- É verdade! A maior parte da serotonina presente no organismo é produzida no trato gastrointestinal. É o que influencia nosso humor quando temos prisão de ventre.

- Por quê eu tenho para mim que você agora irá falar sobre os percentuais?

- 95% é produzida no intestino, 90% sintetizada em células enteroendrócrinas e 10% nos neurônios.