Ter a neném no Rio de Janeiro foi, de longe, uma das melhores coisas que poderiam vir a acontecer comigo naquele ano.
Eu a levei para tudo quanto é ponto turístico nas semanas que seguiram; o Cristo, Pão de açúcar, os Arcos da Lapa, Museu do Amanhã, a praia de copacabana - Shuhua não gostou muito, a areia incomodou ela - e alguns restaurantes específicos que eu costumava ir com meu pai quando era mais nova.
Minha neném estava deslumbrada com a minha cultura, repetia o tempo inteiro sobre o quão lindo o Rio era, apesar de fazer muito calor, e desejou vir mais vezes.
Apesar da barreira do idioma, minha avó e ela se aproximaram como vovó jamais fez antes com alguma namorada minha. As vezes eu as deixava sozinhas num cômodo da casa, conversando entre caras e bocas e gestos, admirava tudo aquilo e não podia deixar de pensar sobre o quão irreal aquilo parecia. Shuhua não dizia, mas bem que ela gostava de toda atenção que recebia da minha avó e tia Lena.
Tio Marcos não voltou mais com Juninho depois da discussão pequena tivemos, o que eu sinceramente achava muito bom. Já não gostava dele antes - e era completamente recíproco - agora, então, eu não gostava nem de imaginar aquela cara de cu dele olhando pra minha namorada.
Apesar disso tudo, foram semanas boas e divertidissimas. Minha mãe não me ligou durante nossa estadia no Brasil, apenas mensagens, acho que ficou receosa do pessoal querer falar com ela ou algo do tipo. É, ela tinha muito a trabalhar nessa questão. Tia Lottie, porém, ligou de chamada de vídeo todos os dias pra neném e eu. Ela estava preocupada, mas eu sabia bem que a curiosidade pra conhecer minha família era ainda maior.
Laura e Adrian se apaixonaram por ela, obviamente falando.
Não tinha como ser contrário, eles tinham a personalidade super parecidas. Fiquei pensando que seria uma dor de cabeça danada quando eles se conhecessem pessoalmente. Vovó também se encantou com Lottie, apesar de não entender nada do que ela falava, e disse que as portas de casa estariam sempre abertas para quando ela quisesse vir passear e conhecer o Brasil.
Não vou falar muito sobre isso, mas vamos apenas especular que quando Lottie viesse ao Brasil, tio Matheus e ela teriam muito a conversar.
- Tem certeza que não quer ir comigo, neném?
Minha pergunta nervosa chamou a atenção de Shuhua, que tirou os olhos do uno para colocá-los em mim.
Enrolei Ana Clara e seu grupinho por quase duas semanas inteiras, às vezes fingindo não ver suas mensagens ou desconversando quando tocava no assunto de sairmos juntos.
Não é que eu não quisesse sair com eles, juro que não era isso. É só que... Vibes diferentes, sabe? Além do mais, ainda tinha Shuhua. Não fazia sentido para mim trazê-la para cá e não levá-la para os lugares comigo. Beirava a falta de nexo, na verdade. Trazer uma garota que tem uma cultura completamente diferente da minha, que não sabe nada do português, e deixá-la sozinha?
Mas eu também sabia que não dava para fugir para sempre. Chegou uma hora que eu já não sabia mais que desculpa eu daria para Ana Clara, sabendo que ela já havia manjado a situação toda. Por isso, quando aceitei, perguntei se poderia levar Shuhua. Só que aí a neném encanou de ficar em casa com Adrian e João. A Laura havia saído pra sei lá onde, não sabíamos dela.
- Eu prefiro não, Soojinnie. - sorriu para me fazer acreditar que estava tudo bem. - Você sabe que eu não gosto muito de lugares movimentados assim. Se quiser me apresentar a eles, podemos marcar com seus amigos outro dia.
- Você tem razão. - eu disse, coçando a testa. - Então eu vou ficar também.
De canto de olho, percebi Adrian revirando os olhos.
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CODINOME BEIJA-FLOR
Teen FictionShuhua é a filha renegada do magnata francês Pierre Bastien e seu sobrenome é tão importante quanto os negócios da família, que consiste na empresa de tabacos mais famosa de toda França. Financeiramente, ela não precisa de nada. Mas isso não parece...