Aquele em que Damian está disposto a se redimir.

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Vovô sempre gostou de me contar histórias sobre a adolescência de papai e tia Lottie. Numa dessas, ele disse que minha tia havia tido uma adolescência e começo de vida adulta um tanto quanto badalada.

Segundo vovô, tia Lottie era uma verdadeira rebelde sem causa, daquele tipo que usava jaquetas de couro e tudo mais. Só que, por alguma razão, isso tudo mudou com meu nascimento.

Eu não tinha muita certeza se tia Lottie havia deixado sua vida movimentada de lado porque teve de ser responsável por mim cedo demais, já que meus pais não se importavam, ou porque havia chegado a hora de se estabelecer.

Sempre fui muito curiosa, gostava de saber o porque de tudo. Por isso, quando estávamos juntas em mais uma de nossas sessões de filmes de desenho animado, perguntei para minha tia o porque de tudo aquilo. Eu estava genuinamente curiosa para saber se o motivo dela ter se estabelecido havia sido o meu nascimento, ou qualquer outra coisa.

Tia Lottie sempre foi muito sincera e assertiva, ela não dava voltas para falar o que queria e muito menos me tratava como uma criança de cinco anos de idade que não entendia nada. Ela não era como papai ou a mamãe. Tia Lottie era incrível e me tratava como gente grande, apesar que na época eu tinha uns doze ou treze anos.

Naquele dia, quando fiz a pergunta decisiva, ela não se moveu, mas me olhou com um meio sorriso e um arquear de sobrancelhas, então disse;

"Quando você não tem muito a perder, qualquer coisa vale, você não se importa muito com as consequências de seus atos. Quando você tem algo a perder, então você começa a ser cuidadosa com a própria vida. Antes eu não tinha nada. Agora eu tenho tudo."

Tia Lottie sempre foi muito importante na minha vida, mas eu não entendi muito bem suas palavras. Quero dizer, sim, eu sabia sobre o que se tratava. Foi por mim que ela parou de correr e se aquietou. Eu só não sabia qual era a providência desse sentimento.

Eu não sabia nada dessas coisas, e nunca havia sentido antes também. Até que... Até que vi Jacob por cima de Soojin, socando seu rosto e a deixando praticamente inconsciente. Depois daquela noite, eu nunca mais esqueceria as palavras de minha tia. Nunca mais.

Damian me ajudou a levar Soojinnie de volta para a escola, para sua casa. Eu tentei me manter firme durante o caminho, não queria chorar e parecer uma boba em sua frente, mas a verdade é que estava difícil... Puxa, difícil mesmo. E toda vez que eu olhava para o rosto ensanguentado de Soojin, tudo piorava.

- Vai doer um pouquinho. - eu disse, me abaixando em sua frente com o kit de primeiro socorros que Damian pegou na dispensa do banheiro. Soojin me olhou, mas nada disse. Na verdade, ela não falou nada desde a confissão de Damian. Não queria insistir para que ela falasse sobre, estávamos em um momento delicado agora, mas eu não gostava muito do silêncio dela. Eu não gosto do silêncio em si, acho.

Passei o algodão pela lateral de seu rosto, subindo para seu nariz arrebitado e a sobrancelha cortada. Captei uma pequena careta quando pressionei o machucado.

- Desculpa. - pedi baixinho, comprimindo os lábios.

- Você não deveria ter voltado, Shuhua. - ela sussurrou pra mim. - Já pensou se Jacob tivesse te machucado?

Meu queixo tremeu, mas não me permiti chorar.

- Ele machucou você. - apontei, mordendo o interior da bochecha. - É o bastante.

Ela sacudiu a cabeça, fechando os olhos quando voltei a limpar seus machucados.

- Deveríamos falar para meu pai...

CODINOME BEIJA-FLOR Onde histórias criam vida. Descubra agora