Meu pai gostava de dizer que os seres humanos não sabem viver o presente.
Meu velho ficava preso em reflexões e pensamentos nostálgicos vez ou outra, então sempre soltava uma pérola dessas. E eu concordava, é claro. Ele dizia pra mim que as pessoas estavam tão presas num passado merda ou absolutamente desesperadas para avançar pro futuro, que acabavam se esquecendo de viver o agora.
Sempre pensei muito nisso, e era mesmo verdade. Todo mundo falava sobre o futuro pra mim; o que vou ser e fazer quando estiver mais velha, como vou acabar. Só que ninguém nunca diz pra outro alguém o que fazer com o presente. Por que? Estamos assim tão presos em uma fantasia de um mundo melhor?
Olho pra frente, numa tentativa falha de localizar Shuhua no meio de toda aquela multidão.
O colégio tem ficado meio alvoroçado desde o anúncio sobre a feira artística. Honestamente, esse é um dos melhores eventos de toda época do ano, e é o que difere a Holistic Institute do resto dos colégios da Califórnia.
Todos os alunos ficam ansiosos para a feira de artes, é uma época importante pra gente. Por mais defeito que exista na instituição, é incrível saber que estimulam a arte aqui.
Ninguém é obrigado a participar ou apresentar algo, mas normalmente a maioria sempre faz. A gente não fica pressionando porque é algo que todo mundo gosta e pode escolher um tema, sabe? E as coisas sempre variam muito, vou te contar. Algumas pessoas apresentam poemas, apresentações de canto e dança e uma porrada de coisa. Ano passado, uma menina fez uma exposição de fotografia no corredor do primeiro andar, foi foda demais.
A neném não quis participar, por mais que eu tivesse insistido pra que ela o fizesse. Segundo Shuhua, ela não tinha realmente um dom. Mas isso não a impediu de ajudar, porém. Pelo que fiquei sabendo, ela ajudaria Yuqi e Miyeon com a exposição de roupas que elas estavam planejando desde o início da semana.
Uma combinação estranha e barulhenta, eu presumo. Fiquei com pena da neném por ter que ficar presa com aquelas duas malucas em uma sala enquanto tenta ajudar.
Soyeon apresentaria uma música com Minnie e Dylan. Eles não disseram como seria, mas eu meio que sabia porque haviam feito a mesma coisa no ano passado. Enquanto Minnie provavelmente assumiria o microfone, Dylan estaria encarregado do violão e Soyeon do teclado. Eles foram bem no ano passado, tocando uma música do Sam Smith. Esse ano não tenho ideia do que irão apresentar.
Diferente do ano passado, resolvi participar. Então eu virei a noite, tentando dar uns retoques finais no meu desenho. Queria que tudo ficasse perfeito, já que uma porrada de gente o veria.
- Oi! O que você fez?
Limpei a mão suada na calça, levantando o rosto a tempo de encontrar a amiga de Shuhua do primeiro ano. Ela sorri, balançando as trancinhas escorridas de seu cabelo liso.
- Oi... É uma pintura. - segurei o pano branco com certa força de forma inconsciente, fixando-o para não descobrir o cavalete.
- Ah, que legal! Você viu a Shuhua por aí?
- Boa pergunta. Também estou procurando por ela. - forcei um sorriso, levantando o pescoço para olhar entre a multidão de alunos que se acumulava no pátio. - Se a vir por aí, pede pra ela me procurar?
A menina sorriu, mexendo nas trancinhas.
- Tá bom! Depois eu volto aqui pra ver o seu desenho, tá?
Fiz que sim com a cabeça, sorrindo quando ela acenou pra mim antes de se afastar.
- Ei, gatinha!
Virei o rosto, pronta pra estapear a cara de quem quer que fosse, mas relaxei ao ver o rosto despreocupado de Minnie.
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CODINOME BEIJA-FLOR
Teen FictionShuhua é a filha renegada do magnata francês Pierre Bastien e seu sobrenome é tão importante quanto os negócios da família, que consiste na empresa de tabacos mais famosa de toda França. Financeiramente, ela não precisa de nada. Mas isso não parece...