Aquele das primeiras sensações.

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O suor pinga de meus cabelos que estão presos em um rabo de cavalo meio mal feito e desce pela minha testa, me obrigando a secar rapidamente com a palma da mão virada.

Montecito costuma ser quente pra cacete, grande parte do tempo. Não quente, mas abafado. Só que, hoje em específico, o carinha lá de cima parece bem animado em mandar um sol do fundo do inferno pra aterrisar aqui na Califórnia.

Ainda é manhã, não são nem dez horas ainda, e o sol me atinge como se eu estivesse dentro de um caldeirão, fervendo feito um boneco de gesso bem mal feito mesmo.

Minhas mãos estão suadas, assim como meu cabelo, que gruda em minha testa de tão molhado que está. Meu coração lateja com tanta força em meu ouvido, que parece que vou ter um troço a qualquer momento.

O cheiro de grama invade minhas narinas e tenho vontade de correr para longe. Só que, ao invés disso, eu faço o contrário. Elevo meu rosto um pouco mais, sobre o meu ombro, na altura em que possa enxergar as minhas colegas de time do outro lado do campo.

Seco o suor que escorre por minha bochecha, sinto vontade de um banho agora, mas não posso. Minha respiração está alta, entrecortada, e até parece que estou jogando na seleção brasileira pelos espasmos que meu estômago dá. Sinto a pressão escorrendo por meus poros, e o olhar de nosso treinador não ajuda em muita coisa também. E nem o de Minnie, que me encara do outro lado do campo quando passo o olhar pelo ombro.

- Vamos lá, Soojin! - grita minha amiga, a capitã do time, que está bem atrás de mim com as outras garotas enquanto esperam pelo pênalti perfeito que juram por tudo que é mais sagrado que eu vou marcar para acabar logo com isso.

Elas estão agitadas atrás de mim, algumas soltam gritos de guerra terrivelmente patéticos e chego a pensar se não estamos mesmo jogando nas intercolegiais agora.

Só que não estamos. Isso é só um treino para o que ocorrerá daqui há uma semana, mas essa gente não sabe mesmo como é levar algo na esportiva.

Muito menos eu, já que me cobro muito mais do que o treinador e Minnie, que jura diante todos os cosmos que eu a substituirei ano que vem.

- Você consegue!

Não faço ideia de quem está gritando agora, mas tenho vontade de pedir pra todas elas calarem a merda da boca. Será possível que elas não sabem ficar quietas um só segundo, cara? Nas intercolegiais vou ter que encarar essa merda, também?

Estico o pescoço de um lado para o outro, pressiono os olhos em uma linha e encaro a goleira com precisão. Ela me encara de volta, com seriedade e atenção redobrada. Todo mundo sabe que eu sou boa, porra. Uma das melhores, na verdade. Se é assim, por quê é que estão tão preocupados que eu vá errar uma merda de um pênalti assim?

Lanço um olhar de lado para o treinador Simon, que levanta o queixo com a sobrancelha fechada e a boca travada. Ele também está preocupado com as merdas das intercolegiais porquê, caso perdermos, isso significa que ele não é tão bom treinador assim. Foi ele mesmo quem disse essa merda uns dois dias atrás, quando Alison cometeu um pequeno erro de nada.

- Chuta!

Outro grito.

Mordo o interior da bochecha e me posiciono estrategicamente para longe da bola. A garota que está perto das redes, a goleira, me olha intensamente por alguns minutos e acho que ela esperava que eu vá errar. Esboço um sorriso ladino para ela, e então corro para chutar a bola que está parada bem em minha frente.

A garota que protege o gol se curva para um lado, provavelmente esperando que eu chute nessa direção, então faço uma curva para distraí-la e... Boom!

CODINOME BEIJA-FLOR Onde histórias criam vida. Descubra agora