Apesar da barreira do idioma, neném tem se saído bem na presença da minha família.
Acho que o fato deles terem se apaixonado por minha namorada desde o começo tenha ajudado muito também. Não fiquei surpresa, na verdade, porquê era praticamente impossível não gostar de Shuhua.
Não fui à Lapa com Laura e Adrian naquele mesmo dia, achei que seria mais coerente deixar a neném descansar um pouco. Eu sabia que para Shuhua existia uma barreira que para mim e eles não existia. Cabia à mim, como namorada dela, respeitar.
Foi por isso que optei por ficar em casa com Shuhua naquele dia. Principalmente porque eu sabia que ela estava cansada da viagem tanto quanto eu. Minha avó achou o máximo, na verdade, porquê passou a tarde toda tentando se comunicar com a coitada. Neném nunca a entendia, mas tratava de sorrir e balançar a cabeça em afirmação.
Eu sabia que não escaparia de Adrian e Laura no dia seguinte, porém.
Sabendo que minha avó e minha tia precisariam de ajuda para fazer o almoço de domingo, acordei um pouquinho mais cedo para ajudá-las. Não acordei neném porquê sabia que ela estava cansada.
Minha avó estava super animada falando o quão boa garota Shuhua era, que estava feliz por eu ter encontrado alguém de boa índole para namorar e aquilo me fez sorrir orgulhosa. Ela estava certa, mas ouvir alguém elogiando minha namorada em voz alta não tinha preço.
As crianças também pareciam fascinadas pela presença de Shuhua, acho que principalmente pelo fato dela não falar português. Era engraçado ver suas carinhas quando neném soltava alguma frase em inglês misturado com francês.
Os únicos que ainda estavam reclusos, é claro, tio Marcos e Juninho. Daqueles dois eu não esperava muito, não fiquei surpresa com a cara de bunda que tio Marcos fazia toda vez que me via junto com a minha neném. Um homofóbico de merda, sem tirar e nem pôr.
- Ela é muito boazinha, tadinha, quase não fala. Você viu, Lena? Ficou quietinha ontem à tarde toda quando voltou da praia com a Soojin e a Laura. - a voz animada da minha avó preenchia a cozinha. Me encostei na pia, mordendo a maçã enquanto a assistia debater sobre minha namorada. - Me passa o tomate, filha.
Fiz que sim, entregando a tigela de tomate lavado para minha avó.
- Ela não fala porquê não entende você, mãe. - tia Lena tentou fazê-la entender, rindo baixo. - A menina é gringa, lembra?
Vô Amélia franziu a testa, batendo o cabo da faca na testa.
- Acho que ela me entende um pouco, sim. Ela não é francesa, Soojin? - virou para mim.
- É, vó. Mas o que isso tem a ver?
- Não é francês que tem umas palavras parecidas com o português, filha?
Segurei o riso.
- Não, vó. Francês não tem nada parecido com português. E não, a neném não entende nada do que a senhora fala. Talvez algumas coisas quando a senhora gesticula.
Tia Lena concordou com a cabeça, partindo o tomate com calma.
- Viu, mãe?! Desse jeito a senhora vai acabar espantando a menina!
- Vou nada, Lena, deixa de besteira. Acho que a namorada da Soojin gostou muito de mim. - vó Amélia virou o rosto para me encarar. - Gostou, né filha?
- E tem como não gostar da senhora, vó? - deixei a maçã de lado pra abraçar ela apertado, deixando um beijo estalado em sua bochecha. Quando me afastei, vovó sorria orgulhosa. - A neném só não gosta muito de contato físico, vó. Sei que aqui a gente não tem isso, todo mundo se agarra mesmo, mas a senhora mesmo diz que nem todo mundo é igual.
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CODINOME BEIJA-FLOR
Teen FictionShuhua é a filha renegada do magnata francês Pierre Bastien e seu sobrenome é tão importante quanto os negócios da família, que consiste na empresa de tabacos mais famosa de toda França. Financeiramente, ela não precisa de nada. Mas isso não parece...