leiam as notas finais porque tenho algo importante pra conversar com vcs.
Quando meu avô ainda era vivo, costumava dizer que por trás de um grande homem, sempre havia uma boa mulher.
Esse ditado popular nunca me apeteceu muito, mas papai seguia os ensinamentos de meu avô à risca. Uma vez, quando estavam discutindo por algo bobo, tia Lottie gritou na cara de meu pai que minha mãe havia o deixado por isso, por papai tratá-la como se ela fosse inferior por ser uma mulher. Nesse dia, meu pai ficou tão bravo com as palavras de minha tia, que saiu de casa e só voltou duas semanas depois.
Mesmo quando mamãe ainda era casada com meu pai, sempre passei mais tempo com tia Lottie do que com ela, de qualquer forma. Acho que mamãe nunca gostou muito de mim, porquê também não gostava de papai. Segundo minha mãe, eu era igualzinho ao meu pai. Já papai achava que eu era a cara de minha mãe, até na personalidade.
Tia Lottie dizia que eu era parecida com a vovó. E, apesar de nunca tê-la conhecido por ter morrido antes de meu nascimento, ficava muito feliz com essa constatação. Vovó parecia uma mulher independente, brilhante e muito corajosa, segundo as histórias de tia Lottie.
Uns meses depois de mamãe fugir com o amigo do papai, tia Lottie ficou encarregada de cuidar de mim e tomar decisões como minha responsável, já que papai mal parava em casa. Mesmo ainda criança, a minha tia conversava comigo e me tratava como se eu fosse uma de suas amigas. Sempre gostei disso.
Na noite em que papai e tia Lottie discutiram feio e ela jogou na cara dele que minha mãe havia ido embora porquê meu pai sempre a tratou como se fosse inferior a ele por ser mulher, eu tinha uns nove anos de idade. Quando meu pai saiu de casa, muito transtornado pela briga que haviam tido, perguntei a tia Lottie o que aquilo significava.
Tia Lottie sentou comigo, nós conversamos por horas, e ela disse que papai ainda tinha muito que aprender sobre mulheres e relacionamento. Segundo ela, ele era tão antiquado e retrógrado quanto vovô.
A verdade é que minha tia nunca gostou de minha mãe, e ela nunca a perdoou por ter me abandonado também. Mesmo assim, ela dizia que a entendia, porquê ter que conviver com alguém como papai era pedir para ser infeliz, mesmo.
Na época, não entendi muito bem do que se tratava. Agora, quando olho para trás e reconheço toda a situação, vejo que minha tia sempre teve razão.
Existem pessoas que não estão preparadas para viver uma vida a dois, e meu pai é uma delas.
Ao decorrer dos anos, tia Lottie me passou seus ensinamentos sobre a vida. Ela fez o papel que meus pais se recusaram a fazer.
Diferente das ideologias ultrapassadas de meu avô e meu pai, tia Lottie sempre dizia que as mulheres não ficavam atrás dos homens, nem lado a lado. Lottie gostava de dizer que elas caminhavam na frente.
Nós podemos ser o que quisermos, Shuhua. Ela dizia com um grande sorriso no rosto, em mais uma de nossas caminhadas pelo jardim de casa. Depois, completava com um olhar divertido; nunca permita que um homem diga a você o que deve fazer. Torne as rédeas de sua vida. Entre um homem e sua carreira, escolha sempre a sua carreira. Homens são decepcionantes.
Tia Lottie sempre esteve certa sobre isso. Mulheres podem ser o que quiserem, eu digo. E até mesmo desenvolvem papéis melhores e mais eficientes do que os homens, não é?
Então por quê ainda somos tratadas como se fôssemos feitas para parir, fazer comida e limpar a casa?
Os homens nem gostam das mulheres. Eles apenas nos veem como uma máquina de fazer filhos. Eles gostam uns dos outros, tia Lottie costumava dizer.
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CODINOME BEIJA-FLOR
Teen FictionShuhua é a filha renegada do magnata francês Pierre Bastien e seu sobrenome é tão importante quanto os negócios da família, que consiste na empresa de tabacos mais famosa de toda França. Financeiramente, ela não precisa de nada. Mas isso não parece...