— Você deve se casar em seis dias — sentenciou Constance, com a voz firme e decidida, indicando que, de fato, não havia qualquer caminho além daquele. — Não é o mais moral a se fazer, mas é o limite do tempo de luto. O trono não pode ficar vazio por mais nem um minuto sequer.
Romeo assentiu, dirigindo-se até a janela. O fogo brilhava nas pequenas chamas acesas pela cidade, iluminando de laranja aquele nascer da noite.
— A menina?
— Está de acordo. Eu reconheço que não é um casamento planejado, tampouco decente do ponto de vista das classes sociais. Você é um príncipe, em breve ocupará o trono e será rei, e por mais que ela tenha a aparência de uma donzela, ainda carrega o sangue da plebe — continuou Constance, enquanto servia-se com um cálice de vinho. — Mas, se existe algo que irá aprender em seu reinado, Romeo, é que certos sacrifícios necessitam ser feitos em nome de um bem maior. Às vezes ultrapassamos as leis, às vezes ultrapassamos os nossos princípios pessoais, às vezes arriscamos nossa própria vida por pessoas que não hesitariam em pedir nossas cabeças caso fossem razoavelmente convencidos — prosseguiu, deixando uma risada nasalada esvair pelas narinas. — Mas o fazemos mesmo assim. Fazemos porque prometemos diante de Deus e dos homens que assumiríamos esse papel independente de seus custos e abdicações.
Romeo escorregou os cotovelos pelo parapeito, espreitando-se entre o vitral. Queria entender onde a mãe chegaria com aquela conversa, já que, desde que o pai adoecera, todas as funções do Rei já haviam sido assumidas por ele – mesmo que a Coroa ainda não pousasse sob a sua cabeça - e, mais que nunca, havia presenciado como todas aquelas coisas que Constance enumerava eram reais.
— Você também prometerá diante de Deus e dos homens recebê-la como sua esposa e rainha. Prometerá amá-la, respeitá-la e unir-se à ela no exercício do governo de seu povo. O que eu quero dizer, Romeo... — Constance parou ao seu lado, escorregando a mão pálida e gélida sobre os dedos grosseiros e compridos do filho. — É que você deve honrar o seu compromisso. Seja um marido de verdade, faça com que tenham quantos filhos forem necessários para sustentar a dinastia e torne-a feliz. Não peço para que a ame, porque tenho plena ciência de quão complexos os sentimentos podem ser, mas estime-a. Ela é tão inocente quanto você em toda essa história e merece uma possibilidade mínima de ter a vida agradável.
O príncipe assentiu. Tudo aquilo fazia sentido, mas o mais remoto pensamento de tomar Lisbela como sua esposa o assustava.
Ela era impetuosa, de um temperamento imprevisível e a língua mais afiada que qualquer espada já forjada em todo o reino.
E, o pior de tudo: lhe causava uma inquietação atípica e exacerbada quando estavam próximos, e cuja etiologia Romeo era incapaz de compreender. Conviver com aquela senhorita, por um longo e incerto período de núpcias, seria, sem qualquer dúvida, o maior desafio de seu reinado. Muito mais que qualquer promessa de atormentá-la.
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A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e Guerra
RomanceDesde a última grande guerra envolvendo a Península Lesíada, os reinos de Jasgônia e Verdela estreitaram as suas relações e decidiram selar a aliança entre as duas maiores monarquias da região em um casamento entre Lenora, princesa das Terras Fértei...