CAPÍTULO XXV

5 2 0
                                    

A Rainha caminhou apressada pelo corredor que desembocava no saguão principal do castelo, como se o quanto mais rápido vivenciasse aquilo, também mais rápido estaria livre daquele fardo. Romeo andava logo atrás, esforçando-se para acompanhar os passos apressados da esposa, embora estivesse tão apreensivo a ponto de nem mesmo questioná-la sobre a sua velocidade. 

Então, em um instante, seus pés travaram. Sua respiração foi interrompida por um lapso de segundo e seus olhos se forçaram a serem erguidos. 

No centro do salão áureo, decorado em todas as suas paredes por pinturas aquareladas e esculturas de pedra polida, um seleto grupo murmurava entre si palavras inaudíveis que soavam aos ouvidos de Lisbela como um julgamento prestes a ser executado.

Dentre eles, havia uma mulher de cabelos negros espessos e encaracolados, presos em um coque baixo que não era sustentado por qualquer adorno opulento. Assim que o silêncio pairou entre os homens que a acompanhavam, seus pés giraram sobre o chão de mármore e seu olhar encontrou com o de Lisbela.

— Como você mudou, Lenora! — exclamou a Rainha, quando viu a filha cruzar o arco que delimitava o grande e iluminado saguão do castelo. Lisbela engoliu em seco. A pressão sobre si parecia ser multiplicada por mil quando ouvia aquele nome. Mas não havia tempo para hesitar.

— Você pode me chamar de Majestade, mamãe — gracejou, aproximando-se até que a distância entre ela e a monarca do reino vizinho não fosse mais que um metro. Suas pernas tremiam e, se não fosse por Romeo ao seu lado, provavelmente Lisbela já estaria no chão. A rainha sentia cada célula dentro de si saltitar. Sua barriga havia sido tomada por uma sensação gélida e incômoda que a lembrava a cada instante de que aquele não era um lugar seguro. Uma única palavra errada e tudo estaria arruinado. — Seja bem-vinda ao meu novo reino — completou, por fim, enquanto seus olhos passeavam pelas pessoas ali. 

A rainha Elara era uma mulher elegante, mesmo que fosse tão pequena quanto Lisbela mesmo era, e seu olhar espremido em um par de orbes escuras parecia mais investigador do que gostaria. Atrás dela, haviam dois guardas que carregavam nos ombros a capa da Armada de Jasgônia e, entre eles, um homem calvo de meia-idade e um rapaz mais jovem, que Lisbela deduziu tratar-se de um mensageiro pela bolsa de couro que carregava atravessada ao tronco.

Tudo era estranho.

Não haviam damas de companhia, tampouco qualquer outro membro da côrte. 

— Talvez você não tenha mudado tanto assim — retificou a Rainha, aproximando-se da menina. Lisbela sorriu, aliviada. Pelo menos sua atuação era razoável. — Mas, certamente, o Reinado vem lhe fazendo muito bem. Está radiante como nunca.

— Decerto. Carregar a coroa faz mal a alguém, por acaso? — rebateu, astuta.

— Certamente fez ao seu marido — comentou a Rainha, em um sussurro exclusivo para a jovem. Lisbela segurou a risada e assentiu, encarando Romeo de relance. É claro que ela o achava o mais encantador de todos os lordes - afinal, embora o Rei habitualmente fosse um dos mais belos homens de toda a península, Lisbela o conhecia suficientemente bem para saber que sua beleza ultrapassava o aspecto físico - mas, naquele mês, era óbvio para qualquer um que a aparência não era a preocupação imediata de Romeo. Seu cabelo estava maior e as ondas cresciam suavemente pelo seu comprimento, sua barba costumeiramente estava por fazer e as bochechas quase sempre rosadas denunciavam sua inclinação pelo álcool. 

— É bom vê-la, Lenora. Não sabe o quão aliviado meu coração está por saber que você está bem, querida — murmurou Elara, acariciando a lateral do rosto de Lisbela em uma carícia maternal. Seu crime parecia mil vezes mais errado naquelas circunstâncias. Como explicaria àquela mãe que seu tormento era verdadeiro e sua verdadeira filha não estava nada bem naquele instante? 

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora