CAPÍTULO XII

10 2 0
                                    

O restante daquele último dia se deu perfeitamente bem. Lisbela descobriu, pelas palavras do próprio marido durante a noite, quando jantaram juntos em seus aposentos, que lorde Jorgian havia sido enviado para as dependências de lorde Petrius, seu tio e uma das sete espadas que guardavam o reino. Provavelmente, teria alguma lição de honra e valores morais na companhia do respeitado guardião.

Pela tarde, Lisbela participara de um torneio de jogos de tabuleiro na companhia de suas damas e outras senhoritas da corte, cujo resultado não poderia ser diferente: a rainha havia vencido a competição. É claro que Lisbela colocara em prática os truques sujos que havia aprendido nas tabernas mais imundas da cidade, mas, uma vez que ninguém havia descoberto suas trapaças perfeitamente executadas, ninguém mais precisaria saber daquilo.

A noite também havia sido tranquila, assim como a manhã: quando a luz do dia despertou-lhe de seus sonhos, não havia nenhuma companhia inesperada em sua cama. E, o pior de tudo: Lisbela nem sequer sabia dizer ao certo se aquela havia sido uma surpresa boa ou ruim.

De qualquer modo, Romeo havia se ocupado durante todo o dia com suas inúmeras obrigações reais e ela havia recusado educadamente um convite do seu trio de amizades para provar os novos tecidos que haviam chegado do oriente. Em sua única experiência com a elaboração de novas roupas — pouco tempo antes do casamento, quando Constance convenceu-lhe de que precisaria de vestidos exclusivos e um enxoval suficiente para seus quarenta dias de núpcias — Lisbela havia jurado que não faria aquilo novamente tão cedo. A costureira espetara-lhe ao menos cinco vezes com a ponta dos alfinetes e, depois do quinto modelo de tecido que fora induzida a provar, a jovem havia se convencido de que nem mesmo o mais nobre dos panos era agradável depois da terceira prova.

Não havia restado opção alguma a ela senão perambular pelo castelo, completamente sozinha, já que, naquele dia especialmente quente de verão, onde a brisa morna que pairava sobre a cidade invadia o castelo pelas suas frestas tornando-o algo bastante parecido com uma fornalha, Pimpom também havia optado por permanecer em seu fresco e espaçoso canil — o lugar onde dormia desde quando Romeo ocupara seu lugar ao lado de sua dona.

Naquela curta caminhada, Lisbela descobrira mais coisas do que podia imaginar. Haviam pátios secretos na parte interna do castelo que guardavam jardins floridos e fontes de água fresca e cristalina, que jorravam entre esculturas gloriosas de mármore e pedra-da-lua. Haviam também salões de jogos muito maiores do que o que conhecera no último dia, salas de recepção com instrumentos musicais imponentes e delicados e galerias espaçosas que abrigavam todos os tipos de arte: de esculturas muito maiores que ela até quadros dos mais renomados artistas da Península.

Era mágico. Como um novo universo.

Mas, de todas as coisas, o que mais lhe agradara era a casa de banho que havia descoberto no final do corredor que contornava os seus aposentos. Usualmente, Lisbela utilizava suas próprias dependências para banhar-se, mas aquele lugar era, sem dúvidas, muito mais convidativo — especialmente naquela tarde veranil, onde a calmaria predominava naquele recinto.

Lisbela correu os olhos ao seu redor, maravilhada. As pilastras marmorizadas que cresciam em cilindros perfeitamente esculpidos até o teto estavam presentes nos quatro cantos, entre paredes de gesso coloridas em um tom claro de azul. Na parede oposta, grandes arcos se abriam em janelas cuja vista das colinas que cercavam o castelo em sua fachada era absolutamente estonteante.

No centro do cômodo, a banheira igualmente construída em mármore branco, com espaço suficiente para que duas pessoas ocupassem-na, estava cheia de água até quase transbordar.

A fumaça que emergia pela atmosfera ao seu redor, em uma dança invisível, a convidava em uma proposta irrecusável.

Lisbela aceitou-a, prontamente.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora