CAPÍTULO XVII

19 3 0
                                    


— A senhora fica muito bem de azul, Majestade. Safiras?

— Safiras — concordou Lisbela, e a criada contornou seu pescoço com o colar de pedras tão azuláceas quanto o próprio mar — a mesma cor do vestido que escolhera para aquele jantar.

O traje, costurado em um tipo nobre de cetim, deixava seus braços expostos e se aprofundava em um decote na altura do seu busto que valorizava o contorno do seu corpo, finalizando em uma saia aberta que a cobria até a ponta dos pés.

— Miladies — gracejou Romeo, logo que entrou no quarto. Estava visualmente cansado e não havia nada em sua roupa que sugerisse qualquer compromisso próximo. O traje simples, nos mesmos tons escuros que o rei sempre vestia, não era adequado para nada além de um evento casual.

Lisbela enviou um único olhar para a criada, sinalizando que a mesma estaria dispensada dali em diante. O rei esperou a porta se fechar atrás de si para anunciar:

— Não precisa se dar ao trabalho de se arrumar para o banquete. Jantaremos em nossos aposentos essa noite.

— Não deveríamos nos juntar aos outros? — questionou Lisbela, confusa.

— Receio que a nossa relação com o conselho e o restante da nobreza não seja a melhor de todas — admitiu Romeo, enquanto desabotoava seu colete, afastando as extremidades opostas da camisa de linho que usava sob ele de forma suficiente para revelar seu peitoral e permitir que a brisa gelada do verão aliviasse o seu calor interno. — Ou, pelo menos, por enquanto.

— Aconteceu algo na reunião mais cedo? — indagou Lisbela, aproximando-se do marido. Seus olhos transpareciam preocupação e, mesmo que Romeo estivesse tão calmo e sério quanto o habitual, sabia, dentro de si, que havia algo errado ali.

— Os conselheiros não concordaram com o aumento dos impostos sobre a nobreza, como era de se esperar — respondeu, coçando a barba espessa que já cobria boa parte de seu rosto.

— E então, os impostos foram aumentados sobre a plebe... — supôs Lisbela, em um ar tristonho. A rainha caminhou até a janela à sua frente, inclinando o corpo de forma suficiente para que o vento da noite soprasse as madeixas do seu cabelo, parcialmente presas por uma presilha de cristais na porção posterior da sua cabeça.

— Lisbela... — Romeo aproximou-se alguns passos, perto o suficiente para que ela pudesse sentir a sua presença atrás de si, mas longe o bastante para que não se tocassem. — Você é a rainha. Eu sou o rei. A porra dessa cidade é nossa. Você realmente acha que alguém pode dizer o que devemos ou não fazer? — completou, orgulhoso. O sorriso discreto que se formava em seu rosto era um tanto sugestivo.

— Romeo! — Lisbela vibrou, virando-se de imediato. Então, em um reflexo quase inconsciente, ela lançou-se sobre ele, enlaçando seu pescoço com os braços enquanto selou os lábios em sua bochecha. — Isso é...

— Deus do céu! — exclamou o rei, que não hesitou em envolvê-la pela cintura. — Se eu soubesse que era tão fácil arrancar um beijo da senhorita, já teria mandado que entregassem esse castelo ao povo e jogassem todo meu ouro pelas ruas da cidade — sussurrou, galanteador, e foi inevitável para Lisbela corar.

— Não me envergonhe, eu só... — Lisbela mordiscou o lábio inferior, afastando-se alguns passos — mesmo que seu corpo implorasse para permanecer perto. — Eu só estou feliz, sim? É como se... É como se, pela primeira vez, o povo realmente vencesse em algo nesse reino. Você...

Lisbela subiu os olhos até que encontrasse o olhar de Romeo. Uma sombra de sorriso adornava o rosto do marido, e, surpreendentemente, seus olhos habitualmente tão misteriosos e obscuros denunciavam algo muito parecido com alegria.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora