CAPÍTULO IX

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O arauto soprou seu clarinete estridente para que todos pudessem ouvir, irrompendo o silêncio apreensivo que havia se instalado no Salão de Cerimônias do castelo com aquela melodia cadenciada em um prelúdio.

O toque nupcial prolongou-se por cerca de cinco segundos até que o rapaz desgrudou seus lábios do contorno metálico do instrumento.

Então, uma voz eufônica fez-se ouvir em toda a câmara, subindo em uma escalada de acordes harmoniosos pela cúpula que fechava o teto daquele lugar.

Os dois soldados que guardavam o salão empurraram as duas metades da grande porta de madeira, com a espessura maior que a silhueta de Lisbela, em uma abertura praticamente sincronizada.

A menina ousou erguer os olhos do chão, encarando toda a paisagem ao seu redor.

Lisbela estava absolutamente sozinha no final daquele imenso corredor que surgia entre pares de pés bem calçados e olhos julgadores, embora houvesse tantas pessoas naquele cerimonial que mal era possível enxergar qualquer detalhe na sala que destoasse das infinitas feições que a observavam sem qualquer descrição.

Era difícil caminhar — suas pernas tremiam como nunca acontecera e as mãos transpiravam a ponto de tornar úmido o par de luvas que vestia — mas precisava fazê-lo. Deveria se lembrar, a todo tempo, que não era mais Lisbela ali.

Era Lenora.

Uma princesa descrita pelos mais próximos como confiante, decidida e inflexível.

Aquele era o único pensamento que cultivava dentro de sua cabeça durante o percurso até o altar, que pareceu ter demorado uma eternidade para si, enquanto, para os outros convidados, não havia durado mais que vinte segundos, em uma caminhada ligeiramente mais apressada que o habitual e realizada com um olhar tão fixo no sacerdote como se aquela fosse sua única luz.

Nem mesmo a Romeo Lisbela ousara encarar.

Na verdade, acreditava que, caso o fizesse, perderia completamente o compasso que lhe deveria ser imposto.

Todos os olhares daquele lugar estavam sobre si — mesmo que não os observasse diretamente, era impossível desvencilhar-se do peso que cada par de olhos tinha naquele instante.

O velho sacerdote coçou a garganta quando a sinfonia melódica cessou, em um silêncio perturbador. Então, sua voz rouca e mais baixa do que seria adequado ecoou entre as colunas de mármore que sustentavam a abóbada vítrea que crescia sobre as suas cabeças.

— Senhoras e senhores do grande reino de Verdela! É com grande júbilo que nos reunimos hoje, sob o olhar de Deus e de todos os homens, para oficializar o matrimônio de Romeo Gaspar, da casa de Lanceforte e príncipe do reino de Verdela, e Lenora Nidália, da casa de Éfora e princesa do reino de Jasgônia. Altezas, é de livre e espontânea vontade, sob o mais sincero sentimento de amor e fraternidade, que se colocam neste dia, diante de tudo o que é mais sagrado, para unirem-se em um único coração?

— Sim — Romeo mentiu.

— Sim — Lisbela murmurou, tão falaciosa quanto.

O sacerdote esboçou um sorriso sugestivo em seus lábios pálidos e enrugados, voltando a descer os olhos até uma escritura depositada no centro do altar, cujas letras quase apagadas contrastavam com o tom amarelado do pergaminho centenário.

— Havendo como testemunhas os bons homens de nosso reino que aqui estão e o próprio Criador, que a tudo vê, os senhores devem, então, proclamar os seus votos matrimoniais.

Aqueles malditos votos.

Lisbela havia passado boa parte dos últimos dias em uma tarefa assídua de decorá-los, com cada letra e a entonação mais convincente que era capaz de proferir.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora