CAPÍTULO XX

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Dois longos dias.

Aquele foi o tempo que se passou desde quando Lisbela abrira os olhos.

Tudo no castelo parecia estar à beira do colapso.

Não havia mais qualquer sinal de alegria nos jardins e nos corredores, como costumavam ser os dias de verão.

"Veja bem, menina, os ventos da guerra em breve soprarão, eu posso sentir... E, quando as espadas forem erguidas, eu lhe garanto que implorará por continuar colhendo flores e bebendo vinhos pela tarde". A fala de lorde Soren ressoou dentro de si como uma lembrança. Ele estava certo. E, se Lisbela pudesse trocar a sua própria ânsia de manter-se ocupada pela paz dos dias passados, o faria sem pestanejar.

Em todo aquele tempo, Lisbela nunca estivera sozinha. Sempre havia ao lado de sua cama uma de suas damas, Constance, mestre Daemon ou algum de seus aprendizes, os conselheiros da Coroa ou algum nobre mais próximo. Pimpom, seu querido cachorrinho, também havia se instalado aos pés de sua cama e se recusava a deixar o lugar.

Mas nunca ele.

Romeo não havia aparecido desde quando se despediram naquela noite. O rei havia se recolhido ao seu aposento permanente com a justificativa de que Lisbela precisava de espaço para se recuperar e, desde então, passava todo o dia envolvido com qualquer tipo de compromisso que aparecesse.

Aquilo era uma tortura.

A mais cruel das torturas.

Lisbela passava o dia e a noite desejando que estivesse ali, no lugar de qualquer uma de suas companhias.

Ansiava mais do que qualquer coisa escutar as suas provocações insolentes no lugar das lamentações superficiais e repetidas que ouvia em um ciclo infinito.

E, principalmente, desejava tê-lo ali durante a noite. Quando o vento que anunciava o fim do verão soprava uma brisa gélida pelo vão entre as cortinas, desejava sentir o seu calor como havia feito na noite em que dormiram juntos.

Quando as criadas lhe serviam suas refeições, desejava tê-lo ali para assisti-lo beber a maior parte de seu vinho.

Era agonizante.

Sobretudo quando o silêncio pairava sobre o quarto e era impossível ignorar o barulho que havia dentro do seu coração, pulsando em um frenesi alucinante que tomava conta de suas batidas toda vez que seus pensamentos vagavam até ele.

Quando estava sozinha, Lisbela sabia que não havia para onde correr.

Romeo não era mais só uma companhia material.

Ele havia se tornado a parte mais importante de si.

Estava guardado, junto a todas as outras pessoas queridas, em um espaço especial dentro da sua alma, que pulsava e implorava por ele.

Aquilo era paixão. Com todas as letras, com todos os sentidos e com todos os perigos.

Não havia outra palavra.

Não havia como esconder.

E, principalmente, não havia mais como viver com aquele sentimento que lhe apertava o peito e sufocava sua respiração sem qualquer resposta que pudesse lhe remediar.

— Chega! — exclamou Lisbela, em voz alta, embora não houvesse nenhuma pessoa ali além de Pimpom naquele horário da madrugada. A Lua já ocupava o topo do céu e o silêncio pairava do lado de fora do quarto. Era mais que urgente a necessidade de resolver aquele impasse.

Lisbela levantou-se da cama e vestiu a capa de veludo que cobria até a extremidade de seus braços. Suas pernas ainda estavam parestésicas, mas a rainha se arrastou lentamente até a porta, abrindo-a com a maior discrição que era capaz.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora