– Quem foi o responsável? – questionou Romeo, com a voz mais rouca e baixa que o normal. Seu punho, cerrado sobre a mesa, tremulava com a tensão que colocava nos nós de seus dedos, despidos de qualquer perfusão enquanto o Rei os pressionava uns contra os outros.
– Majestade... – o Conselheiro Geral ensaiou uma resposta, sem êxito. Não havia prova alguma sobre o que havia acontecido e, no estado em que Romeo se encontrava, dizer aquilo poderia ser mais perigoso do que o esperado. – Não encontramos qualquer suspeito d-...
– Não encontraram qualquer suspeito? – esbravejou o Rei, que colocou-se de pé ao mesmo tempo em que as palmas de suas mãos encontraram a madeira em um baque estrondoso, que ecoou em uma advertência aos três cavalheiros que o acompanhavam naquele escritório. – A Rainha foi envenenada dentro do inferno deste castelo e não são capazes de encontrar qualquer suspeito? O que mais não são capazes de encontrar? Quais são os membros da nobreza? Quem compõe o corpo de criados da fortaleza? As próprias calças?
Os lordes entreolharam-se assustados, sem que qualquer um deles ousasse responder o Rei. Seus olhos avermelhados, tomados por uma cor mais escura que o habitual, denunciavam o estado em que seu espírito se encontrava.
Estava atordoado. Em uma mistura de fúria e dor, Romeo era incapaz de controlar seus próprios impulsos cada vez que gesticulava ou dizia algo.
Não conseguia ser menos que cruel.
Ninguém havia se preocupado em ser gentil quando viu Lisbela daquela maneira.
– Já faz algum tempo desde a última vez que a Coroa contratou novos serviçais para o castelo, milorde – defendeu o mordomo do castelo, receoso. Romeo fuzilou-o com o olhar caído, e foi necessário que o homem quase totalmente calvo respirasse fundo antes de prosseguir. – Se tivessem que servir a algum propósito maligno, certamente já teriam o feito. Conheço bem os meus funcionários e sei que nenhum deles faria tal coisa.
Romeo sorriu, irônico. O Rei bebeu um gole do vinho que preenchia seu cálice e aproximou-se, encarando-o.
– Então o senhor sugere que não seja alguém da criadagem o responsável pelo envenenamento? Talvez alguém da nobreza?
– Não! É claro que não! – Lorde Eliazar interviu, de uma forma que soou um tanto suspeita aos ouvidos de Romeo. – Isso é loucura. Suspeitar de qualquer um da côrte nesse momento é trazer a instabilidade política para dentro dos nossos muros, senhores, e devem saber tanto quanto eu de que isso é o prefácio de um desastre. Mais do que nunca, precisamos nos mostrar fortes para lutar contra as forças obscuras que tentam derrubar a Coroa.
– Forças obscuras? – provocou Romeo, que pouco se importava com os olhares apreensivos que recebia em troca. – Não me diga que o senhor sugere que os eventos dos últimos tempos foram provocados por algo sobrenatural.
– Não, Majestade. Me refiro à obscura Força Revolucionária. Eles já tramaram contra a Rainha uma vez, por que não o fariam em uma segunda oportunidade?
– Por que ela? – rosnou Romeo, em uma pergunta quase retórica. A verdade era que mal conseguia controlar a indignação que crescia dentro de si. Não suportava a ideia de que Lisbela havia sido adotada como um alvo de seus piores inimigos. O Rei se contentaria facilmente em ter sido o escolhido em todos aqueles ataques. Poderia ter perdido a sua vida de bom grado se aquele fosse o desfecho escolhido por Deus, mas era incapaz de aceitar que Lisbela fosse a mais vulnerável dentre toda a corte a sofrer com aquele tipo de retaliação. Mais do que qualquer golpe, vê-la machucada lhe provocava a dor mais intensa que já havia sentido em toda a vida.
– Atingir a Rainha é atingir duas grandes monarquias em um único golpe – defendeu o conselheiro, enquanto coçava a têmpora. – Além disso, a Rainha é uma figura notável, tem o potencial de ganhar a admiração do povo com seus últimos feitos... Devo lembrar também de sua função única na corte. É ela quem poderá prover à Coroa o seu herdeiro, se é que já não o fez.
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A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e Guerra
RomanceDesde a última grande guerra envolvendo a Península Lesíada, os reinos de Jasgônia e Verdela estreitaram as suas relações e decidiram selar a aliança entre as duas maiores monarquias da região em um casamento entre Lenora, princesa das Terras Fértei...