Prólogo

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A enorme carruagem era jogada para um lado e para o outro, e, por vezes, era ainda lançada para cima quando cruzava alguma pedra de tamanho destacado, fazendo com que as senhoras que ocupavam o seu interior fossem empurradas contra o teto rígido que cobria aquele veículo. O Sol já havia percorrido sua trajetória no céu por 38 vezes desde quando haviam deixado a sede monárquica do reino de Jasgônia. Entre as ladies que naquele transporte viajavam, era nítido que uma delas se destacava: a mais jovem carregava em sua fronte uma tiara cravejada de brilhantes, simbolizando o seu pertencimento à realeza. Pertencimento esse que ela fazia questão de exibir em cada situação, necessária ou não, apenas pelo mero prazer de esbanjar o título que carregava desde o seu nascimento.

Seu nome era Lenora e ela era a princesa do Reino de Jasgônia. E, agora, estava a caminho de se tornar algo ainda maior: a rainha de Verdela.

A última guerra da Península Lesíada, ocorrida oito anos atrás, requisitou um acordo entre os dois maiores reinos daquela região: o de Jasgônia e o de Verdela. Depois de sangrentas batalhas que culminaram na vitória daquela poderosa aliança, as relações entre as duas monarquias se estreitaram de tamanha forma que decidiram prolongar aquele alinhamento em um casamento entre a princesa das Terras Férteis do Sul e o príncipe - e futuro sucessor do trono - das Ricas Minas do Norte.

Agora, o rei ameaçava deixar o mundo a qualquer momento, e, portanto, era chegada a hora de selar aquele matrimônio que simbolizava um dos maiores acordos já vistos na história da humanidade. Desde quando lhe fora anunciado que seria a próxima rainha, Lenora não pensava mais em outra coisa. Até os dez anos de idade, havia sido perfeitamente educada para tornar-se uma princesa e cumprir com as suas obrigações reais, que, no fundo, não incluíam nada além de manter uma boa imagem e conceber herdeiros para o título de seu marido, que certamente seria algum lorde da realeza. Mas essa ideia não era suficiente para a ambição que ela nutria.

Lenora queria mais. Ela não havia nascido para cuidar da família, tinha plena certeza disso. Seu lugar era o trono, sua missão de vida era ser uma grande rainha. Conquistaria territórios como ninguém, acumularia tanta riqueza que seria capaz de comprar os astros celestes para si, caso assim desejasse. Reuniria um grande exército e atropelaria seus inimigos um por um, já que o discurso de governante misericordiosa não a apetecia.

Desde então, todos os seus esforços foram concentrados em edificar seu plano de reinado. Sabia tudo o que deveria fazer, do momento que pisasse no castelo pela primeira vez até o legado que deixaria quando morresse, que, por sinal, acreditava que aconteceria em uma idade tão avançada que os sábios jamais estimaram, pois tinha plena convicção de que os alquimistas teriam tantos recursos após a sua chegada ao trono que seria possível desenvolver um elixir forte o suficiente para que superasse um século inteiro de vida.

Ainda assim, não se considerava uma sonhadora. A confiança que cultivava era tão grande que não encarava aqueles planos como sonhos, mas sim como projetos. Concretizaria um por um, independente de quanto cada plano lhe custaria.

Enquanto era remexida incessantemente pela carruagem, que hora a jogava contra a velha ama que cuidara de si desde pequenina e agora também a acompanhava rumo ao novo reino, hora contra a dama de companhia que pouco gostava, mas era uma presença necessária, arquitetava em sua mente engenhosa como faria para melhorar as vias de seu futuro império. Aquelas estradas de terra esburacadas já haviam lhe tirado a paciência, e, se fosse necessário, ordenaria aos tecelões que produzissem um tapete tão grande que seria capaz de ligar os vilarejos do reino, unicamente para não passar por aquele desconforto novamente.

Sua linha de raciocínio foi interrompida por uma brusca frenagem do veículo, que fez com que seu corpo fosse brutalmente lançado para frente e, em seguida, retornasse com a mesma voracidade para trás, fazendo com que uma das pedras que adornavam o seu arco afundasse dolorosamente contra a pele de sua cabeça. No entanto, a fúria era tão imediata que ela sequer deu importância para aquele incômodo:

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora