CAPÍTULO XI

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Lisbela sentiu a claridade do dia incomodar os olhos, mas recusou-se a abri-los. Sentia-se cansada ainda, e seu corpo implorava por mais alguns minutos de sono. Conforme seus sentidos foram retomados, conseguiu notar um peso por cima de sua barriga e o ar chocando-se de uma maneira quente e periódica por trás de seu pescoço, como se houvesse alguém respirando ali.

Tinha alguém respirando ali.

Lisbela abriu os olhos e viu o braço de Romeo contornando a sua cintura. Aquilo só podia ser um pesadelo.

— Mas o que... — ela não conseguiu terminar a frase. A mão do marido subiu até alcançar a sua boca, reprimindo qualquer som que pudesse sair dali.

— Shhhh... — Romeo sussurrou contra o seu ouvido, provocando-lhe um arrepio involuntário que percorreu todo o corpo. — As criadas estão subindo.

Lisbela imaginava que o sangue da última noite era o suficiente para constatarem que havia tido uma conjunção entre eles e que o futuro do reino estava garantido com um possível herdeiro. Mas aparentemente aquilo não era tudo. Além de forjar toda aquela situação, ainda precisava suportar Romeo acordando ao seu lado, em uma proximidade tão grande que conseguia sentir o contorno do corpo do rapaz modelar-se contra o seu.

Ela sentiu vontade de gritar.

Mas tudo o que conseguiu fazer foi fechar os olhos novamente, logo que ouviu o barulho da porta sendo aberta cuidadosamente, que mesmo diante do empenho em manter o silêncio que pairava sobre o quarto, não foi suficiente para encobrir o rangido da madeira.

Os dois conseguiram ouvir alguns sussurros femininos, alguns distinguíveis e outros nem tanto:

— Parece que a noite foi boa por aqui.

— Boa? Veja só a quantidade de sangue no lençol!

— Boa, sim! Dolorosa ou não, a primeira noite é sempre mágica!

— Só se for para você!

— Não importa. Vossas Majestades continuam dormindo, voltaremos mais tarde.

E então, ouviram o barulho da porta se fechando outra vez.

Lisbela esperou apenas o barulho dos passos pelo corredor se extinguir outra vez para se livrar de Romeo em um empurrão.

— O que foi isso? Dormir ao meu lado, abraçado comigo, sem nem sequer me avisar? — Lisbela saltou para fora da cama e cruzou os braços na frente do corpo, enquanto encarava Romeo com os olhos semicerrados. Ele, por sua vez, lutava contra a própria preguiça para conseguir abrir os olhos, e quando ela foi finalmente vencida, não fez nada além de cruzar os braços atrás da cabeça, enquanto esperava a repreensão por parte da esposa.

— O que a criadagem iria pensar se me encontrasse dormindo no sofá, querida esposa? Não seja tão convencida a ponto de pensar que eu vim até aqui abraçar a senhorita porque gosto de você. Eu gosto do meu povo e do meu reino, e, se a integridade da Coroa depende de fingir que tivemos uma ótima noite de núpcias, então eu o farei.

— É claro que eu não pensei nisso, querido esposo — era evidente a ironia de Lisbela naquelas últimas palavras. — Mas não acredito que seja respeitoso e cavalheiresco da sua parte deitar-se na minha cama sem sequer me avisar.

— Compreendo — disse Romeo, e Lisbela pôde notar que ele não olhava em seu rosto enquanto ela falava. Na verdade, seus olhos pareciam trilhar de uma forma um tanto invasiva o contorno de seu corpo. — A senhorita poderia ao menos vestir algo por cima dessa chemise. É difícil levá-la a sério quando está praticamente seminua na minha frente.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora