Capítulo XXXI

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Depois de algum tempo sozinha, a porta do pequeno quarto se abriu, atraindo a atenção de Lisbela. Por sorte, não estava mais empenhada na tarefa de protegê-la.

Os instantes que haviam se passado anteriormente foram suficientes para concluir que estava em uma embarcação, que a sua embarcação não era uma oficial e que ela não fazia ideia de quais eram as outras circunstâncias que haviam a levado para ali.

Certamente, não eram boas.

Não havia nenhuma figura familiar ali e, certamente, se fosse um navio de seu reino, não haveria um soldado apontando-lhe uma espada, tampouco um quarto tão estreito à sua disposição.

Mas quando seus olhos se ergueram, encarando a figura que acabara de entrar, foi como se em um lapso de segundo tudo fizesse sentido.

Elara, a Rainha de Jasgônia, a fitava com um olhar fulminante.

O mesmo olhar fulminante que preenchia a sua recordação do que supostamente havia acontecido antes de tudo se tornar uma absoluta escuridão.

O baile, sua noite ao lado de Romeo, aqueles olhos, um cheiro forte e alcóolico e nada mais além daquilo.

Lisbela engoliu em seco.

Estava arruinada.

Sim, certamente, ela estava.

Não havia motivo algum para estar ali se não fosse a ruína de seu plano e de seu reino.

Deus – murmurou, de forma quase involuntária.

– Não tenho nem mesmo um nome para chamá-la – falou Elara, em um tom de voz tão corrosivo quanto ácido. – Lenora não é o seu nome e disso eu sei muito bem. A questão é: quem é você?

Lisbela engoliu em seco.

Não havia motivo algum para esconder sua identidade quando toda a verdade já parecia estar escancarada.

De que adiantaria mentir naquele momento?

Naquelas circunstâncias, absolutamente nada.

– Lisbela, Majestade. Meu nome é Lisbela.

– Lisbela – repetiu, estalando a língua no céu da boca. Atrás da Rainha, entrou o seu conselheiro, que fechou a porta atrás de si. O quarto era tão pequeno que não havia a menor possibilidade de se distanciarem. Lisbela havia sido praticamente obrigada a encará-la.

– O que a levou a assumir o lugar de Lenora, Lisbela? – perguntou, levantando uma das sobrancelhas. – Você foi a responsável pelo assassinato da princesa?

– Não! – interferiu Lisbela. – É claro que não! Eu... Eu jamais assassinaria uma pessoa, Majestade!

– Por que eu deveria acreditar na senhorita? Quero dizer, já mentiu uma vez. Uma mentira de proporção catastrófica. Me parece muito natural para você falar uma inverdade qualquer.

Não era mentira.

Mentir nos últimos meses havia se tornado tão medular para Lisbela quanto respirar.

E, a cada acusação, aquela realidade que havia preferido ignorar por tanto tempo tornava-se cada vez mais próxima e nítida.

– Eu jamais assassinaria alguém – tornou a repetir – e só aceitei substituir Lenora pois acreditei que estaria fazendo um bem ao meu povo. Nunca tive qualquer ambição pessoal em tudo isso.

– Nunca teve qualquer ambição pessoal? A senhorita e o Rei me pareciam muito felizes. Não te alegrou a possibilidade de se casar com ele, no lugar de Lenora?

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora