CAPÍTULO XIX

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Não morra, Lisbela, não morra.

Não morra, Lisbela, não morra.

Não morra, Lisbela, não morra.

Aquela frase ecoava como um mantra dentro da sua cabeça. Não conseguia ver nada além de uma tela escura, mas conseguia ouvi-la perfeitamente. Sentia frio. Tanto frio a ponto de tremer os lábios.

Não morra, Lisbela, não morra.

Gradualmente, conseguia notar os sentidos sendo retomados. O nariz era confortado por um cheiro familiar e havia algo fazendo cócegas em suas bochechas.

Foi então que Lisbela conseguiu abrir os olhos, e diferente do que pensava, aquela frase não era fruto de seu subconsciente:

— Não morra, Lisbela, não morra! Não quero ficar sem você. — Era Romeo. Mesmo com a visão turva, reconheceria aquele rosto entre mil outros. Estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, de olhos fechados, enquanto acariciava a sua bochecha com os dedos.

Lisbela sorriu fraco. Sentia-se grata por ter alguém que se preocupasse com ela, sentia-se grata por estar viva naquele momento. E sentiu algo que não conseguia nomear quando descobriu que quem implorava por sua vida era Romeo.

Estava fraca ainda. A boca estava seca e mal conseguia se mexer, mas se obrigou a reunir forças para falar:

— E quem disse que eu vou morrer, insolente?

— Lisbela! — Romeo despertou de imediato, abrindo seus olhos ao mesmo tempo em que sua mão escorregou até a lateral do rosto da esposa, segurando-o como se precisasse senti-la verdadeiramente para atestar que aquilo não era só mais um devaneio. — Lisbela, Deus do céu, você... Mestre Daemon. Eu preciso chamá-lo, querida, aguarde só...

— Romeo, não, espere! — pediu, e como se aquele fosse o mais urgente dos pedidos, Romeo recolheu-se novamente na poltrona e aguardou que Lisbela prosseguisse. Naquelas circunstâncias, qualquer pedido que saísse pela sua boca soaria, sem dúvidas, como uma ordem irrecusável. — Eu só... Deus. Como dói. — Lisbela levou uma das mãos até a própria fronte, onde uma dor latejante tomava conta de toda a região, massageando-a em uma tentativa falha de aliviar aquele incômodo.

— Lisbela, pelo amor de Deus. Não seja teimosa justamente agora. Chamarei Mestre Daemon — anunciou Romeo novamente, e, daquela vez, Lisbela não pode contê-lo. Em poucos instantes, o marido estava de volta, trazendo consigo o curandeiro do castelo e mais três de seus aprendizes. Ambos se curvaram em uma vênia apressada antes de se aglomerarem ao redor da cama, analisando-a com os quatro pares de olhos curiosos.

— A Rainha não está tão bem, é claro, mas também não corre mais perigo... — murmurou o velho, com a voz arrastada. — Precisa de descanso, um chá de erva-da-floresta e láudano para a dor — continuou, enquanto pescava um frasco tampado por uma rolha envelhecida do seu cinto de utilidades, que carregava tantas coisas a ponto de desafiar a gravidade ao manter-se preso à bainha da longa túnica que o mestre vestia. — Isso daqui, Majestade, isso daqui... Faça com que beba a cada vez que o astro no céu completar um quarto de sua trajetória. Se o chá de erva-da-floresta não for suficiente para trazer de volta o seu sangue até a próxima noite, faremos uma sangria, sim? As sangrias, elas sempre... — Mestre Daemon não terminou a frase. Seus olhos se perderam no teto do quarto junto aos seus pensamentos e o silêncio perdurou no quarto até que o rei se manifestou:

— É claro — concordou Romeo, erguendo a poção até a altura de seus olhos. A luz que atravessou o recipiente revelou um líquido turvo e acobreado, com sedimentos que o rei nem mesmo ousaria tentar adivinhar a origem precipitados no fundo da embalagem.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora