CAPÍTULO VI

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Dois dias para o casamento.

Aquele era o tempo que lhe restava até o dia em que subiria no altar para trocar seus votos com o príncipe.

Quatro dias depois do sepultamento do antigo Rei, não havia mais espaço para luto na corte e a rainha supôs que o tempo era perfeitamente adequado para que Lisbela — ou, nesse caso, Lenora — fosse apresentada oficialmente à corte, em um baile restrito à alta nobreza.

— Três borrifadas de água de rosas no pescoço, duas sobre o colo, uma em cada cotovelo e cinco na parte interna da saia do vestido — anunciou a sua criada pessoal, enquanto pressionava o borrifador do perfumeiro, expelindo seu líquido fresco e adocicado contra Lisbela. — É o suficiente para que o príncipe seja enfeitiçado pelo seu perfume.

A jovem torceu o nariz, repelindo aquele tipo de pensamento.

De todas as coisas que desejava, ter Romeo enfeitiçado por ela era a última delas. Na verdade, adoraria que acontecesse justamente o contrário, então jamais teria que se preocupar com o príncipe quando seu período de núpcias terminasse.

— Está pronta. E magnífica, se me permite dizer, Alteza — elogiou a mulher, que fez questão de rodopiar Lisbela com uma das mãos, permitindo que a musseline translúcida que arquitetava aquele vestido em várias camadas azuláceas, tão finas que pareciam ser feitas de pequenos fragmentos de um céu matutino, planasse no ar com a delicadeza de uma pena. — Não havia escolha melhor para a vossa apresentação oficial à corte. Tenho certeza de que será muito bem sucedida em Verdela.

— Agradeço, minha senhora — Lisbela sorriu, apertando a mão da mulher entre as suas.

— Deixe-me apenas verificar se está firme o suficiente... — a mulher pressionou os dedos gentilmente sobre os cachos que se uniam em um exuberante coque próximo à nuca de Lisbela, preso por tantos grampos que até mesmo a menina desistiu de contá-los. — Está perfeito. A senhorita deve ir, o príncipe está à sua espera há um bom tempo.

— O príncipe me espera?

— É claro, criança! Se quer saber, desde quando comecei a aprontá-la. Vossa Alteza realmente pensa que ele perderia a oportunidade de ter a companhia de uma noiva tão bonita e majestosa? É claro que não! Vamos, vamos... — a criada praticamente a empurrou até a porta, enquanto seus pés ainda resistiam à possibilidade de caminhar. Lisbela não entendia com clareza o motivo, mas sempre que estava prestes a dividir o ambiente com o príncipe, sentia a barriga doer e o suor ameaçar cair pela testa.

— Certo — Lisbela respirou fundo e, em um lapso de coragem, girou a maçaneta dourada que mantinha a porta fechada até então. A estrutura de madeira abriu-se em um trajeto lento e angustiante, rangendo a cada centímetro que caminhava sobre o chão marmorizado. A menina desceu os olhos até os pés, sem coragem suficiente para encará-lo diretamente.

Sabia que estava ali: sua respiração pesada destacava-se no silêncio do corredor e a jovem era capaz de sentir o peso de seu olhar sob a sua silhueta. Mesmo sem mirá-lo diretamente, sua bochecha queimava em uma traição ao próprio corpo, e, ciente de seu azar, certamente também estava mais vermelha do que o simples toque do rouge permitia.

O príncipe coçou a garganta, aproximando-se um pouco além.

— Milady — Sua voz rouca rompeu a quietude ao seu redor em um convite irrecusável para que Lisbela, finalmente, erguesse os olhos até encará-lo. Romeo estava tão belo quanto das outras vezes que o vira. O traje aveludado, em um tom de azul-escuro que se confundia com o preto em seu hemi corpo tomado pela penumbra que as sombras das velas faziam, lhe caía majestosamente bem.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora