CAPÍTULO X

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— Eu espero que sua mãe tenha lhe falado sobre seus compromissos conjugais quando soube que iria se casar — falou Constance, enquanto bebericava o vinho veranil que preenchia seu cálice, doce e terrivelmente ineficaz. — Eu detestaria ter que lhe explicar sobre esse tipo de coisa. Não que a senhorita seja uma pessoa de difícil comunicação, mas a grande dádiva de ter tido um único filho homem foi ter sido poupada desse tipo de situação embaraçosa.

Lisbela assentiu.

Era uma falácia.

Sua mãe nem sequer mencionara a noite de núpcias quando conversaram sobre a proposta — embora não fosse exatamente a sua culpa. Ela não havia feito por mal, estava em uma situação tão deplorável que quase não podia raciocinar sobre a própria condição, tampouco conseguiria pensar muito além daquilo.

— Ótimo, querida. Você está... encantadora! — elogiou, escorregando suas mãos finas e pálidas pelos braços bronzeados de Lisbela, descobertos naquele modelo de chemise, que lhe parecia um tanto mais revelador do que deveria.

O tecido branco de musseline, coberto por uma fina e delicada renda, cobria suas pernas até pouco acima de seus joelhos, revelando seu par de coxas em uma proporção maior do que julgava ser prudente. Na silhueta, embora não houvesse nenhum espartilho, o tecido estruturado se afunilava em um largo decote que comprimia seus seios em um estranho convite.

O simples pensamento de que seria vista por Romeo daquela forma a fazia corar.

Mas ele era o seu marido, não era?

Embora houvessem jurado mil coisas um ao outro mais cedo, Lisbela não tinha a mínima pretensão de efetivá-las — ou, pelo menos, era aquilo que tentava se convencer a todo o tempo.

— Se está tudo certo com a senhorita... — Constance correu os olhos pelo quarto, iluminado apenas pela luz amarelada bruxuleante das velas que estavam distribuídas em opulentos castiçais dourados por todos os cantos. Absolutamente tudo que precisavam estava perfeitamente adequado: os trajes da rainha, o vinho sobre a mesa de centro e a cama espaçosa o suficiente para que ambos a compartilhassem pelos próximos quarenta dias. Em um dos cantos, sua criada pessoal aguardava para se retirar. Todas as empregadas que a acompanharam depois que deixou o salão de festas lhe distribuíam risinhos e insinuações — e Lisbela sentia seu estômago reclamar a cada um deles. — Receio que meus encargos por aqui terminaram, sim? O que acontecerá agora depende de você e do rei.

Lisbela concordou, acenando com a cabeça, enquanto engolia em seco.

— Tenha uma próspera noite, querida. — Constance afagou a mandíbula de Lisbela, em um gesto quase maternal. — Que a senhorita seja tão fértil quanto eu não fui.

Noite. Fertilidade. Romeo. Cama. Núpcias.

Aquelas cinco palavras ecoaram em um frenesi inquietante dentro da cabeça de Lisbela quando ela se viu sozinha naquele quarto.

O que aconteceria agora?

Como Romeo poderia fazê-la engravidar?

Tudo aquilo tinha a ver com as sensações que sentia quando estavam próximos?

Romeo era um libertino. Qual tipo de coisa os libertinos faziam com suas esposas quando estavam a sós?

Lisbela tomou o cálice de vinho abandonado por Constance sobre a mesa e o virou em sua garganta sem hesitar.

O líquido excessivamente doce, com um fundo alcoólico inebriante, desceu pelas suas vísceras em um trajeto turbulento que parecia prestes a fazê-la expelir tudo aquilo em um instante.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora