Capítulo XXX

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A alvorada ainda ensaiava a sua chegada quando todo o exército se reuniu novamente no pátio da Estalagem Sul, depois de uma noite de sono tormentosa e repleta de pesadelos.

Não havia espaço para mais um cavaleiro sequer ali: os três exércitos, juntos, haviam preenchido toda a extensão dos muros que protegiam a instalação principal e também a planície do pátio. Tudo o que se ouvia naquela manhã ainda prematura eram os sussurros frenéticos dos soldados e os comandos dos generais que apressavam a partida daquela tropa.

Depois do banquete da última noite, Romeo havia se reunido com seus principais conselheiros e todos haviam concordado que o melhor a se fazer era partir o mais cedo que fosse possível para os montes que dividiam a fronteira de Verdela e Jasgônia. Tinham a dádiva da distância e da cartografia ao seu favor e seria tolice desperdiçar a chance de obter a vantagem do espaço na batalha que estava por vir.

O Rei tomou para si um lugar na pequena varanda que se abria à frente do prédio principal, elevada em cerca de dois metros em relação ao restante do pátio. Dali, certamente poderia ser ouvido.

O arauto soprou a trombeta, que ressoou por todo o pátio, e todo o resto se calou.

Romeo coçou a garganta, antes de vociferar tão alto quanto podia:

— Caros companheiros, a primeira batalha se aproxima! Para muitos aqui, o que irá se suceder não é nada de novo. Muitos dos bravos homens que aqui estão lutaram pelo meu pai, na última guerra de nosso reino, e agora novamente aqui estão, dispostos a perder mais sangue em prol de nosso reino! Para outros muitos, todavia, esta será a primeira batalha. A primeira de muitas, devo dizer! Independente de nossas origens e de nossas experiências, estamos aqui por uma única razão e é a ela que iremos defender. Traremos de volta ao nosso reino a nossa honra, nossas glórias e a nossa Rainha! Não esqueçam, senhores, de que somos um reino de guerreiros. Em todo o mundo, tudo o que se diz sobre Verdela é acerca da bravura de nosso povo. De todas as canções de glória, quantos ídolos de nossa terra não são entoados? Lutem, senhores, lutem! Defendam suas terras, suas famílias, a nossa Coroa! — Romeo ergueu sua espada e todos os soldados o acompanharam. Os levantadores ergueram seus estandartes e um primeiro som fez-se ouvir dos tambores.

Um reino de ouro, de prata e marfim! — bradou Romeo.

Avante, Verdela, avante! — o restante respondeu em uníssono, em um coro tão alto e eloquente que fez as pedras daquela construção vibrarem.

— No mar, nas montanhas, lutar até o fim !

— Avante, Verdela, Avante!

— Avante, Verdela, avante, sobre os inimigos no campo nossa espada triunfará! E quando no horizonte o Sol raiar, nossa bandeira resplandecerá! — tanto o Rei quanto os seus soldados entoaram juntos o verso, exaurindo seus pulmões com todo o fôlego que havia guardado neles.

— Quando o sangue jorrar e a noite chegar...

— Avante, Verdela, avante!

— Com a bravura de um povo que sabe lutar!

— Avante, Verdela, avante!

— Avante, Verdela, avante, sobre os inimigos no mar nossos navios se erguerão! E quando a costa nossa frota alcançar, imperará o nosso brasão!

Conforme entoavam o glorioso hino de Verdela, todos os homens se organizaram em fileiras e esquadrões, que deixaram gradativamente os pátios seguros da Estalagem Sul para ganharem a Estrada Real, rumo ao campo de batalha.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora