CAPÍTULO VII

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Pouco menos de um dia para o casamento.

Aquela contagem regressiva reverberava na cabeça de Lisbela como o prelúdio de uma tragédia.

Não sabia muito bem o motivo, mas o pensamento de que, no próximo dia, naquele mesmo horário, dividiria o leito com Romeo lhe deixava absolutamente desconcertada.

Parecia impossível pregar os olhos naquela noite.

A cada vez que suas pálpebras se fechavam, uma série de suposições sobre as coisas que aconteceriam depois que lhe desse o seu sim bombardeavam sua mente de uma maneira que a fazia rolar sob os lençóis.

Não conseguiria dormir tão cedo — aliás, duvidava até mesmo se conseguiria cinco minutos de descanso naquela madrugada.

Foi então que, em um instante de coragem, saltou para fora da cama e cobriu seus braços com um fino manto de seda acobreada.

Era inadmissível que continuasse se torturando com aqueles pensamentos daquela maneira.

Precisava de qualquer distração que fosse — mesmo que aquilo se resumisse a caminhar sem rumo pelos corredores do castelo.

Quem sabe não poderia encontrar qualquer lugar que lhe parecesse interessante?

Lisbela empurrou a porta pesada de madeira, que rangeu em resposta muito mais alto do que pretendia. Ela retrocedeu um passo, até ter certeza de que ninguém mais ali havia escutado aquele murmúrio, e voltou a caminhar na escuridão do corredor, onde a sua única fonte de luz era a pequena chama do candeeiro que levava entre os dedos.

O silêncio que pairava naquele cômodo alongado era acalentador. Pela primeira vez em todo o dia, conseguia ouvir o único som de sua respiração, que seguia em um ritmo calmo e contrastante com o caos interno que vivenciava.

Lisbela caminhou mais alguns passos entre a penumbra, sem ter ao certo um destino traçado em sua mente. Poderia ir à biblioteca, à grande torre ou aos jardins privativos se assim desejasse, contanto que fosse capaz de adivinhar o caminho que a levaria até eles naquele grande labirinto que configurava as dependências do castelo.

Mas, por mais que fosse provável que não chegasse a lugar algum, ainda preferia perambular pelo castelo do que permanecer presa naquele quarto enquanto um frenesi contínuo tomava posse de sua racionalidade.

Não havia nenhuma alma viva por ali naquela hora da noite. Pelas grandes janelas que se abriam do chão ao teto no corredor, Lisbela conseguia observar que a Lua já ocupava o ponto mais alto do céu e, provavelmente, qualquer pessoa com o mínimo de discernimento moral aproveitava aquela madrugada para descansar, diante do longo dia que os esperavam.

Ou, pelo menos, aquilo era o que pensava, até a sua cintura ser envolvida por um braço comprido, enquanto uma mão larga se encarregou de cobrir-lhe a boca.

Lisbela tentou gritar enquanto se debatia, mas a silhueta robusta que encobria a sua era grande demais para ser afastada tão facilmente.

— Lenora, pare com isso! — sussurrou uma voz masculina, rouca e grave contra o seu ouvido. A menina não obedeceu, e continuou estapeando o peitoral rígido daquele homem que a continha como se fosse a mais indefesa das criaturas. — Sou eu, inferno! Jorgian!

Lisbela engoliu em seco. Poderia ter ciência da genealogia de Lenora, de seus traços de personalidade e até mesmo sua cor de vestido favorita. Mas, nem mesmo se tentasse, conseguiria desvendar os seus segredos, por mais que precisasse assumi-los junto às suas consequências.

— E-eu... — gaguejou, em uma tentativa falha de encontrar qualquer desculpa que a livrasse daquele estranho.

— Sabe, eu a procurei como um louco desde quando soube que estaria aqui... — murmurou, mais próximo do que Lisbela gostaria. — Nossas últimas cartas, nossa promessa... Como senti sua falta, minha princesa.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora