CAPÍTUO XXI

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Diferente dos outros dias, naquela manhã a claridade não incomodou os olhos de Lisbela quando o Sol ergueu-se no horizonte e transpassou a fina barreira da cortina que cobria os vitrais de seus aposentos com o brilho irradiante em um tom alaranjado especialmente acolhedor.

Havia sido impossível pregar os olhos naquela noite, e a rainha testemunhara cada lento movimento das estrelas no céu noturno do alto de sua cama, ainda friamente vazia.

Romeo deveria estar ali.

Se soubesse o quanto esperaria por dividir a cama com o marido — não da forma que fizeram antes, com toda aquela distância cruelmente precautória, mas da maneira afetuosa que deveria ser — certamente não haveria lhe reservado o sofá em suas noites juntos.

Embora houvesse naquela época tanto receio que Lisbela sequer era capaz de encará-lo diretamente por mais que cinco segundos, agora era capaz de compreender que aquele sentimento não era medo, insegurança ou qualquer tipo de hesitação.

Era paixão.

Apaixonara-se de uma forma tão intensa por Romeo que era incapaz de confrontar qualquer possibilidade de negação por parte dele.

Tinha medo que, ao mirá-lo, encontrasse frieza, desprezo ou repreensão no lugar do fulgor habitual de seus olhos.

Aqueles olhos.

Um par de íris coloridas no tom mais suntuoso de azul, com salpicos de bronze em seu lado esquerdo que o tornavam absolutamente único.

Lisbela seria capaz de reconhecê-los mesmo que estivessem camuflados em um milhão de outros pares.

E agora, mais que nunca, precisava fitá-lo de perto.

Precisava também sentir seu cheiro de sândalo umedecido que arrancava-lhe os mais cândidos suspiros, suas mãos habilidosas que pareciam predestinadas a tocá-la da forma mais congruente que podia acontecer e o sabor adocicado de seus lábios.

Lisbela remexeu-se na cama, inquieta.

Nem sequer era capaz de controlar os próprios instintos com aquele pensamento.

Não importava mais quão cedo era, se Romeo havia se recuperado da última noite ou se o castelo ainda dormia.

Precisava fazê-lo, naquele exato momento.

A jovem saltou do colchão largo e caminhou até um dos cantos do quarto, onde um de seus vestidos pendia em um suporte metálico.

Não era o seu favorito e não havia nenhum detalhe que o tornasse inesquecível, mas, certamente, havia coisas muito mais urgentes a serem resolvidas do que um traje notável.

Embora não se vestisse sozinha há um bom tempo, Lisbela recordava-se perfeitamente das artimanhas que aprendera, ainda menina, para costurar os laços de seu espartilho sem a ajuda de qualquer pessoa.

A rainha não se preocupou em dar um contorno adequado ao cabelo. Uma breve escovada nas madeixas onduladas era mais que suficiente para estar adequadamente apresentável. Além disso, recordava-se bem de como ter os cachos soltos agradava Romeo.

Não havia nenhuma necessidade de prendê-lo para o que pretendiam fazer naquela manhã.

— Três borrifadas de água de rosas no pescoço, duas sobre o colo, uma em cada cotovelo e cinco na parte de dentro da saia do vestido — recitou Lisbela, recordando-se do mantra que sua criada sempre anunciava quando ia perfumá-la, enquanto permitia que o líquido aromático impregnasse sobre a sua pele. — É o suficiente para que o rei seja enfeitiçado pelo meu perfume?

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora