CAPÍTULO XV

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Naquela noite, Lisbela optou por jantar na única companhia de suas damas da corte. Não costumava ser rancorosa em relação a qualquer coisa, mas era esperta o suficiente para entender que suas ações teriam consequências. Além disso, não havia clima qualquer para que pudesse se juntar aos outros lordes, que, naquele momento, provavelmente discutiam sobre a sua sanidade e a legitimação das suas ações.

Recolher-se em seus aposentos enquanto não podia contar com os conselhos de Romeo — que ainda caçava quando a Lua nasceu no céu escuro — e muito menos os da Rainha-Mãe — que havia se recolhido em uma conversa que durou o dia todo com o seu conselheiro pessoal — lhe parecia a mais prudente das alternativas.

E, ainda que fosse a ação mais correta, aquilo não significava que era a mais fácil. Durante todo o banquete, Aurelle, Myrna e Belline a pulverizaram com questionamentos infindáveis sobre sua noite de núpcias e os primeiros momentos do seu casamento. Lisbela fez questão de se esvair de cada uma delas — não porque tinha vergonha ou qualquer outra desculpa sugerida por Myrna quando ela sorrateiramente alternava o rumo da conversa, mas porque não sabia ao certo como as coisas aconteciam dentro daquelas quatro paredes.

É claro que tinha alguma noção — não era tão tola, afinal. Mas era incapaz de descrever com todos os detalhes que lhe eram solicitados o que acontecia depois que as luzes das velas eram apagadas.

O jantar terminou não muito tarde — a luz celestial ainda não havia iluminado um quarto da abóbada noturna quando o trio se despediu da sala restrita de seus aposentos, entre risadas melodiosas e votos de um bom descanso.

A única companhia que havia lhe restado para aquela noite era Pimpom.

Romeo não apareceu — nem mesmo quando as velas terminaram de queimar e cessaram suas chamas, deixando o quarto imerso em uma escuridão absoluta. E, embora o cansaço daquele longo dia houvesse obrigado Lisbela a adormecer antes que pudesse receber qualquer sinal de vida do marido, era incontestável o vazio que havia pairado sobre o quarto naquela noite. 

— Ah, Pimpom, bom dia! Eu já despertei, saia já daí! — Lisbela resmungou, enquanto o cãozinho saltava sem delicadeza sobre a sua barriga e lambia seu rosto sem qualquer discrição

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— Ah, Pimpom, bom dia! Eu já despertei, saia já daí! — Lisbela resmungou, enquanto o cãozinho saltava sem delicadeza sobre a sua barriga e lambia seu rosto sem qualquer discrição. Nem mesmo a ordem da dona foi suficiente para pará-lo, e o pequeno animal só se contentou quando a rainha sentou-se sobre o colchão, espreguiçando-se em um longo bocejo. — Você é um cachorrinho terrível, sim? Quase tão pior quanto...

Os olhos de Lisbela varreram o quarto, sem sucesso na busca pelo que procuravam.

O sofá estava vazio, não havia nenhuma roupa ou sapato jogados pelo chão e o jarro de vinho ainda estava cheio.

Romeo não estivera ali pela noite.

Lisbela sentiu uma pontada aprofundar-se em seu peito, como uma das sensações que tinha sempre que algo estava errado.

Antes que sua mente geniosa pudesse arquitetar qualquer realidade desconexa para justificar o que havia acontecido na última noite, Pimpom saltou da cama e correu apressadamente até o cabideiro, na extremidade oposta do quarto, onde um vestido bordô ondulava conforme o fluxo do vento que invadia o espaço por uma das janelas, suspenso por um gancho.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora