Capítulo XXIX

1 0 0
                                    


O Rei galopava na frente do grupo, deixando até mesmo os levantadores dos estandartes para trás. Precisava de privacidade para discutir com o seu seleto grupo de conselheiros o que traçariam de estratégia dali em diante.

Na maior parte do tempo, as suas conversas se resumiam à guerra. Não havia mais tempo para discutir sobre os jogos da corte, os escândalos da nobreza ou qualquer outra coisa que não envolvesse cartas, declarações e táticas. Até mesmo durante a noite, quando o exército montava seu grande acampamento em torno de uma fogueira, onde assavam os animais que haviam sido caçados durante o dia, a pauta final era sempre aquela, até que adormeciam com a esperança de que no outro dia seria diferente.

Nos primeiros dias, a única coisa que controlava a mente do Rei era a necessidade quase visceral de recuperar a Rainha, como se houvesse dentro de si uma bússola com um grande L no lugar do N. É claro que aquela ânsia continuava presente dentro de si, fazendo seu coração palpitar cada vez que se recordava de um detalhe de sua amada Lisbela, mas após cavalgar por tantas semanas e ter tempo de sobra para refletir sobre todas as circunstâncias, havia concluído que não conseguiria concretizar seu plano se não fosse tão racional quanto o cenário requisitava.

— Majestade, nossos espiões informaram que há uma tropa de Jasgônia marchando em nossa direção, comandada pelo jovem Oberic. Penso que a opção mais prudente que temos é permanecer entre os limites da Floresta da Perdição e aguardar até que venham até nós. As terras à Sul são traiçoeiras e diminuem em muito a nossa possibilidade de vitória. Se conseguirmos enfrentá-los nas planícies, teremos a dádiva da topografia a nosso favor, já que nenhum exército é capaz de atravessar a floresta com tudo o que sabemos que há escondido nela. Nenhum deles será capaz de invadir Verdela enquanto mantivermos bons homens na Estalagem Sul — disse lorde Belron, com tanta convicção que parecia ter sido ele próprio a desenhar os limites do território da Península, até ser interrompido por um senhor mais velho.

— É o caminho mais óbvio, mas não podemos nos esquecer de que existe o Rio das Lágrimas — alertou lorde Lancelot, que montava um cavalo cinza de postura elegante e pelos escovados, tão refinado quanto a própria montaria do Rei.

— Eu duvido que aquele bando de camponeses tenha coragem suficiente para se aventurar no Rio das Lágrimas — caçoou Romeo, com uma risada nasalada. — Aliás, me impressiona a audácia dos jasgonienses em nos desafiarem. Deveriam reconhecer que fazem parte de um reino rural e estão travando uma batalha com um reino de guerreiros.

— São um bando de caipiras, isso é fato. Mas não devemos subestimá-los. Um bando de caipiras com desejo de vingança pela sua princesa pode ser mais forte do que imaginamos que seja — defendeu novamente lorde Lancelot, que era, de longe, o mais velho — e o mais prudente — de todos ali.

— Temos soldados a perder de vista e ainda teremos muitos outros quando as casas de Calasar e Lince juntarem-se ao exército na Estalagem Sul. Não vejo necessidade alguma em empenharmos todos esses homens em uma fronteira de tão poucas milhas. Deveríamos enviar uma porção de arqueiros e espiões para o topo da Serra Traiçoeira, e então além de protegerem a montanha de qualquer invasão, ainda poderão patrulhar as planícies lá de cima. Devo enviar uma carta ao Porto dos Metais, ordenando que coloquem nossos navios no Rio das Lágrimas. Aliás, os Jasgonienses realmente têm navios ou pretendem subir a correnteza remando um bote?

— Os Jasgonienses possuem apenas uma única boa frota de navios de guerra, Majestade, comandada pelo Arauto do Triunfo, mas receio que possam expandi-la com as frotas de Arendor, que certamente os apoiarão na guerra. São aliados da Rainha Elara — explicou um terceiro homem, que não parecia exatamente estar ali para guerrear, embora esbanjasse na bainha uma longa espada com o símbolo da Coroa. — Nesse caso, existem algumas rotas previsíveis. Podem partir do Porto da Boa Viagem ao mar aberto até alcançarem a Fortaleza Azul, onde poderão atacar a capital e tomar a Rainha como refém. Também podem seguir para o Sul, contornar a península e, caso forem corajosos o suficiente, subirem até o Cinturão Aurífero para tentar tomar o controle da produção mineral. Podem ainda contornar o porto de Sahir para guarnecer a parte Sul da capital de Jasgônia, o que é bastante improvável, já que não existe possibilidade de enviarmos nossas frotas por essa rota. A opção menos favorável é que contornem a península e subam pelo Rio das Lágrimas, mas então demorariam tanto que, quando alcançassem o estreito, nossos navios já estariam posicionados, prontos para os receberem com catapultas de ferro e chumbo.

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora