CAPÍTULO XXVI

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No dia seguinte, o Sol nasceu no horizonte da mesma forma que sempre fazia e nenhuma badalada do sino interrompeu o descanso da capital. 

Ainda estavam em paz - e aquilo era muito mais do que poderiam desejar nos últimos tempos. 

Assim como a rainha Elara havia requisitado, Constance, Lisbela e Romeo acompanharam-na em um desjejum privativo, que, para o alívio dos três, não envolveu nada além de uma conversa sobre os acordos futuros que poderiam ser estabelecidos entre os dois reinos e, eventualmente, algum comentário despretensioso sobre como Lenora havia se adaptado bem ao trono e qual era a sua opinião sobre um acontecimento ou outro em Jasgônia. 

Lisbela, por sua vez, respondeu cada um com tanta destreza como se houvesse, de fato, nascido naquele reino. 

Tampouco a refeição matinal terminou, Romeo alegou que uma reunião restrita ao seu conselho requisitava a presença da Rainha e livrou-lhes do encargo de suportar mais longos minutos naquele estado constante de tensão que pairava sobre o ar sempre que estavam próximos da comitiva do reino vizinho. 

Da reunião - que, de fato, aconteceu, embora a presença de Lisbela fosse um tanto desprezível entre os lordes que pouco a ouviam - os dois monarcas partiram para o quarto e fizeram questão de manterem-se ocupados por tantas horas em suas conversas íntimas que nenhum criado ousou interrompê-los para o banquete de almoço que foi servido em ocasião da visita especial de Jasgônia. Aquilo era um verdadeiro ultraje às normas de hospitalidade da côrte, mas quem poderia se importar com uma possível má impressão quando a cortesia de um banquete poderia arruinar todo o reino?

Ainda assim, Constance, como a verdadeira líder articulada que era, sugeriu em meia dúzia de palavras à Elara que aquele comportamento descortês havia se tornado bastante comum para os reis e convenceu-lhe de que ninguém ali deveria julgar um casal recém-casado dedicado a gerar um herdeiro para o trono de Verdela. 

Depois da refeição, as duas permaneceram juntas por tanto tempo que foi possível - era óbvio para qualquer um dos três que ter Constance na companhia de Elara era uma opção muito mais desejável do que deixar-lhe espaço para buscar outra vez pela filha. 

E foi justamente em um passeio das duas monarcas pelos jardins privativos do castelo que surgiu a ideia de um baile. 

Que evento poderia ser melhor para mantê-la entretida com os lordes em busca de negociações, as mães em busca de um possível casamento com o príncipe mais novo de Jasgônia e os músicos com seus instrumentos que permitiriam a todo o instante a preferência por uma dança animada à uma conversa repleta de apreensão? Absolutamente nenhum outro. 

Assim, no final da tarde, estava estabelecido: haveria um baile no castelo naquela noite. E, como era de se esperar, não demorou mais que poucos minutos até que a notícia se espalhasse, os corredores se enchessem de criados correndo apressados para trocarem a seda das cortinas, prepararem os banhos em cada aposento, acenderem as velas que balançavam junto ao vento que embalava os candelabros e levarem os vestidos luxuosos até o quarto de cada senhora da côrte. 

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— É uma verdadeira dádiva estarmos todos vivos e em paz até agora — comemorou Constance, enquanto bebericava um cálice de vinho de ameixas — afinal, o baile não é um evento tão fútil assim. 

— Não sei por quanto tempo mais as coisas permanecerão assim — defendeu Lisbela, enquanto acariciava os pelos rebeldes da cabeça de Pimpom, acomodado entre seus braços. — Mentir não é algo tão intuitivo quando estou sobre essas circunstâncias.

— Você está fazendo o seu melhor e é o suficiente. Continue assim até que tudo esteja, de fato, resolvido. 

— Por quanto tempo mais permanecerão aqui?

A ascensão da Rainha | Livro I | Trilogia Declarações de Amor e GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora