Capítulo 16

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Capítulo Luriel

-Azriel você não vai acreditar em quem eu... - a porta do escritório foi aberta por uma figura ruiva sorridente que logo se calou.

Gwyn olhava a cena com espanto, o escritório estava uma bagunça. Papéis espalhados pelo chão, porcelana quebrada pelo tapete branco agora manchado por um líquido quente e morno.Se não estivesse tão longe do litoral teria certeza que um ciclone havia passado por aquela sala.

Mas não foi isso que assutou a valkiria, e sim o que estava a no canto da sala.

O mestre espião se encontrava curvado no chão com as veias do pescoço saltando e o rosto ficando azul, suas sombras rodeavam seu corpo como uma muralha, pareciam densas demais, assim como o clima frio que se instalou ali.

-Azriel! - a ninfa correu em sua direção, mal notando como as sombras escuras abriram caminho de maneira desesperada e saudosa a ela.Suas mãos pousaram nos braços fortes do illyriano na tentativa de ajudá-lo a se sentar. - Fique em pé, tente respirar com o nariz e soltar o ar pela boca, assim. - a ruiva de olhos azuis demonstrava o gesto.

Azriel tentava, tentava mas seus pulmões pareciam secos, seu peito ardia e a cabeça girava, tentava manter-se acordado mas o mundo parecia perder o brilho.

Ele se sentia cansado.

Aterrorizado.

-Não, não pode dormir encandador de sombras. Se fizer isso direi a todo mundo como te derrubei antes mesmo de completar meu treinamento. - A ruiva mantia os olhos atentos ao macho, colocando sua mão em seu coração usando todo seu poder de cura para ajuda-lo.

O mestre espião sentia sua ardencia sumir aos poucos, sua visão estava embraçada mas aos poucos foi ficando límpida. E só quando conseguiu se acalmar um pouco percebeu.

Os cabelos em um tom ruivo claro da ex sacerdotiza escapavam em seu rosto, as sardas pintavam seus olhos destacando ainda mais os olhos cerceta da Vvalquíria, era como se perder em um mar de águas calmas, tão limpo quanto um cristal transparente.

Foi ali, em meio a respirações curtas e pesadas que o illyriano sentiu.

O clique de uma porta se abrindo em sua mente.

A conecção passando em seus olhos.

O calor enchendo seu peito.

Ali, sentado no chão frio de seu escritório ele encontrou o que tanto havia sonhado em sua juventude, aquilo que seus irmãos um dia sentiram.

E mesmo com o calor da fecilidade brotando em seu peito ele se culpou. Sabia o que aquilo significava, a linha encandecente e quase invisivel desenhando seu dedo anelar em cima da mão de Gwyn, onde uma linha semelhante se formava.

Naquele momento Azriel não pode se expressar, não sabia o que sentir.

Sabia apenas que ele havia sido presenteado com o que tanto pedia, e a única coisa que pode ouvir em sua mente foi a voz daquele que agora fazia seu coração bater com pesar e acompanhado da voz, a lembrança de um momento intimo:

"Cuidado com o que deseja, não pelo fato de não conseguir, mas pelo fato de não desejar mais quando o tiver."

-Parece um pensamento eloquente.- digo acariciando seus cabelos deitados em meu ombro.

Estavamos passando as férias no litoral, as crianças tinham saido com Holly para mostrar uma loja no centro da diruna, o casal curtia a paz na companhia um do outro sentados em uma rede, presente de Ayla alegando ser a cura para o estresse, enquanto o sol ao horizonte a frente se escondia.

Lucien apenas levantou seu olhar e o fitou com intensidade, seus olhos dourados brilhavam com espectativa, antes de dizer:

-Mas não deixa de ser verdade, quando vamos pedir algo temos que pensar duas vezes antes de fazer o pedido, más decisões geralmente nascem em situações desesperadas.

Desespero.

Era isso que Azriel sentia.

O desespero de não saber o que vem a seguir, ou o que está por vir.

✵✵✵✵✵✵✵✵✵✵✵✵✵✵

Mais tarde no apartamento do casal, Lucien andava de um lado para o outro na cozinha, ensaiando o que vai dizer e como dizer. Havia pensado em tudo durante o banho, enquanto colocava roupas limpas e amarrava o cabelo. 

Mas no fim, a ansiedade acabou fazendo dele um refém.

O ruivo nunca fizera uma proposta dessas, não precisou fazer antes ,não sabia como começar ou o que falar. E se Azriel disser não? E se o clima entre eles ficasse estranho? O que ele faria se a resposta fosse negativa? Ignoraria a vontade e os sentimentos até que não existissem mais?

Parecia uma boa idea.

Bom pelo menos agora Lucien tinha um plano B.

Ele parou de andar quando ouviu o clique da porta se abrindo, não sabia se deveria estar na sala, no quarto ou algo do tipo, então apenas ficou parado no meio da cozinha.

O semblante de seu marido era ansioso sério e perdido, parecia aéreo e sem vida, o coração de Lucien acelerou e aquilo despertou curiosidade no rei.

-Preciso contar uma coisa. – disseram juntos.

-Diga você primeiro.- Lucien sorriu para o marido o incentivando a continuar.

Mas o Illyriano apenas parou onde estava, tentava dizer as palavras que queria dizer, mas não sai som algum de sua boca. Tentou várias vezes até respirar fundo e dizer:

- Eu...eu encontrei minha parceira.- Azriel diz as palavras em um sussurro quase mudo, mas altas o suficiente para quebrarem o coração de Lucien e tirar o sorriso afetuoso do seu rosto.

- Oh...-foi tudo o que conseguiu dizer em minutos de silêncio.

O mundo o ruivo parou, achou ter ouvido errado. Seu subconcicente gritava "Não pode ser, não tem como isso ter acontecido, não pode sertar certo!", ele sentiu seu coração pesar e sua mente ficar nublada. Ele não sabia o que dizer, não conseguia ao menos se mexer. O mundo havia parado para ele naquele momento.

- Oh...-foi tudo o que conseguiu dizer em minutos de silêncio.

Lucien andou até o marido que desabou assim que recebeu o abraço : – Está tudo bem Az... Sabiamos que isso iria acontecer.

As sombras do mestre espião acaricivam o casal com pesar, sentiam o desespero e a agonia do coração de seu mestre, mas viveram tempo suficiente para saber quando seu companheiro precisava de um ombro amigo.

Ali naquela cozinha, um misto de sentimentos colidiram uns com os outros, a dor da perda, o medo do futuro, o carinho e a tristeza. Um laço de parceria não era qualquer coisa em sua cultura, valeria muito mais que uma união comum como o casamento. Algo que se acha uma vez em um milhão, algo raro e valioso.

Lucien não sabia o que fazer, algo lhe dizia para ficar furioso? Mas por que?Qal seria o sentido disso?

Ele passou por algo pior que a raiva, algo pior que a pena, Lucien foi rejeitado e humilhado por aquela que deveria ser sua igual, não desejaria esse sentimento nem ao seu pior inimigo, muito menos ao seu marido.

Mas seria ignorância sua despresar o medo em seu coração, não queria ser um impecilho para a felicidade de Azriel, mas não deixava de pensar como doeria não acordar ao lado do macho todos os dias.

O que fazer?

Ele não sabia, nenhum dos dois sabia.

E Azriel não dormiu em casa naquela noite.

Corte da IrmandadeOnde histórias criam vida. Descubra agora