Capítulo 30

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Magnus Bane

6 meses atrás...

As ruas de Xangai estão uma loucura. Os mundanos se preparavam para o ano novo chines e a Concessão do Submundo não estava diferente. O lugar era uma pilha eclética da história da cidade toda construída sobre si mesmo, parecia Xangai em miniatura. Tradicionais telhados chineses curvos se projetavam contra prédios de estilo ocidental. E todos naquele lugar eram seres do Submundo.

Aquele era o lugar para onde as pessoas iam quando queriam descrição em seus negócios; era muito fácil se esconder entre os lobisomens, fadas e feiticeiros. Com a roupa adequada e o feitiço certo, qualquer um poderia se tornar invisível no meio daquela multidão.

O que certamente não era o meu caso.

-Eu nunca vi um fugitivo abusar tanto de azul turquesa como você. Em nome dos sete infernos Magnus, como pode andar tão tranquilo? - perguntou meu amigo Rangor.

-Da mesma forma que tenho andado a vinte anos Ragnor. Cabeça erguida, terno sob medida, com unhas e cabelos feitos.- digo pegando um punhado de presas caninas.- Se eu viver me escondendo em qualquer buraco do mundo, eu não vou ganhar o tanto de dinheiro que eu ganho e não vou viver como eu vivo.

-Só acho que está abusando muito da sorte.- resmungou pegando um livro de magia.

-Catarina não parece reclamar.- retruquei.

-Por que ela é outra que perdeu o senso de descrição.- murmurou.

-Não é por que você esconde seus sentimentos que ela tem que fazer o mesmo, meu caro amigo. E não é por que você gosta de se esconder que nós deveriamos fazer o mesmo.

Há cinquenta anos eu tenho fugido de um canto do mundo para outro, já vi impérios caindo, dinheiro sumindo, pessoas se desesperando e guerras surgindo mais vezes do que consigo contar no dedo. O que é normal para a minha espécie. Estamos acostumados a fugir e nos esconder de pessoas que abominam nosso dom.

Um feiticeiro não é só alguém que consegue manipular magia, somos conhecidos também pela imortalidade e o fígado de aço. Para que um bruxinho nasça, geralmente, é necessário que um demônio se deite com um hospedeiro, ou seja, a humana que lhe agrade da melhor forma possível.

Mas não é o meu caso.

Em quase todos os cenários, o pai não fica nem na primeira semana de gestação e quando nasce, a criança por possuir sua marca de feiticeiro é facilmente reconhecido como algo anormal e jogado em qualquer orfanato. Como aconteceu com Ragnor e Catarina.

Nós três nos conhecemos desde muito jovens, Ragnor Fell foi meu mentor e me ensinou tudo o que eu sei sobre o Submundo, filho de um dos homens do cara que se diz meu pai, ele nasceu com quatro marcas de feiticeiro: a pele verde, os cabelos brancos, chifres pontiagudos e juntas extras nas mãos. É um homem alto e forte de cabelos brancos encaracolados. Não é o mais bem humorado do trio, mas definitivamente, é leal a nossa pequena família e secretamente, uma das pessoas que mais admiro no mundo.

Catarina Loss é uma feiticeira excepcional, desde muito cedo soube o seu apreço pela medicina, talvez seu dom de cura tenha afetado em sua escolha, mas ela se sente feliz  sendo a primeira mulher negra a se formar em medicina. A marca de feiticeira dela é a pele azulada e os cabelos brancos como a neve, fazendo com que ela suspeita-se que era filha do rei gelado das fadas do sul, mas quando usa seu glamour ela assume a fisionomia de uma mulher negra, de olhos castanhos e cabelos cacheados.

Nos conhecemos no ínicio de 1600, quando ela viajou para Leonberg para tratar a peste. Catarina foi pega usando seus poderes para curar um paciente e foi jogada em Steinhaus para ser lançada para a fogueira. Eu a vi pelo glamour e soube logo de cara que era uma das nossas. Eu ouvi seus gritos antes de ser executada e a tirei de lá o mais rápido que pude.

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