Simplesmente uma morte?

Capítulo 5 - OS AMIGOS CHEGAM

A espera dos amigos, o delegado João Alves que já havia chegado ao velório, está sentado no canto da sala de estar. Ele olha para as pessoas ali presentes. Começa admirando a beleza de Berenice. A moça tem dezenove anos e estava trabalhando na casa há pouco mais de seis meses. Ela tinha um grau de instrução alto para uma empregada, tendo conseguido acabar o ginásio. Seu pai havia morrido quando ela tinha três anos. Alguns dizem que ele era traficante de drogas e foi baleado num tiroteio com a polícia. Sua mãe era uma boa mulher. Também era empregada. Sempre honesta, trabalhava muito para garantir o mínimo necessário para sua filha Berenice. Em vida, foi uma ótima empregada. Ela morreu havia oito meses. Costumava dizer que Berenice tinha puxado o seu pai. Depois da morte da mãe, Berenice vai para São Paulo onde consegue um emprego na casa de Thais de Souza Lima, amiga de Laura. Numa conversa entre as duas amigas, Thais oferece os serviços de Berenice para Laura. Esta aceita e a traz para a sua casa na montanha em Campos do Jordão. Logo na primeira vez que Guto vem para a casa de Campos, ele se interessa pela beleza de Berenice e consegue seduzi-la. Assim, toda a vez que ele vinha, ele praticamente usava Berenice. Ela sempre concordava por acreditar que esta seria a sua única oportunidade de ser rica um dia.

Ao lado de Berenice estava Guto. Logo o delegado se concentra nele. Gustavo Salles Ladsman sempre foi considerado um garoto rebelde. Ele sofreu muito com a separação de seus pais. Isso aconteceu quando ele tinha seis anos. Aos dezoito, foge de casa, passando a morar com seu pai. Um ano mais tarde foge outra vez. Desta vez, foi preso por ocasionar uma briga num bar de São Paulo. Atualmente ele faz cursinho pela terceira vez. Já com vinte anos, ele tenta cursar uma faculdade de Direito, por influência do seu pai.

João Alves agora olha para a Aninha que estava ao lado do caixão. Ela também sofreu bastante com a separação. Ela sempre foi uma menina calma, porém demasiadamente introspectiva. Com isso, nunca se sabe realmente o que ela é capaz de fazer. Ana Paula Salles Ladsman fez vários cursos de teatro e pretende se tornar atriz profissional. Hoje ela tem 15 anos e está atuando no grupo teatral do seu colégio. Tanto ela, quanto Guto, nunca acompanhavam a mãe em suas viagens, mas desta vez ambos vieram para Campos do Jordão.

 E então o delegado se entusiasma com a conversa de Hélio e Rogério, que estão perto dele. Hélio de Alcântara Salles tem vinte e dois anos e estuda Medicina na Faculdade de Sorocaba. Ele pretende se especializar em Ortopedia. Mais especificamente em ombros. Estava passando uma temporada com sua tia Laura em Campos. Laura era irmã do pai de Hélio, mas o tratava como se fosse um filho. Ela chegou a dar até uma viagem para ele. Dizem que Laura teria separado parte dos seus bens para Hélio. Ele nasceu em São Paulo, em uma família de classe média, estudou em um tradicional colégio da capital e seu pai era um médico à moda antiga. Já Rogério foi um "boa vida" em sua época. Seu pai era um grande industrial, porém perdeu todos os bens no jogo. Rogério, então com vinte anos, teve que mudar radicalmente seu estilo de vida, precisando até trabalhar para terminar sua faculdade de Direito. Sua mãe era uma boa pessoa, que ficou ao lado de seu marido nos piores momentos de sua vida. Aos vinte e oito anos, Rogério perde o emprego em um escritório de advocacia. Seis meses depois, casa-se com Laura. Ela monta um escritório para ele. Nos primeiros anos de casados, os dois se entendiam muito bem. Eles e Guto, ainda bebê, formavam uma família exemplar. Entretanto, com o passar dos anos, a relação entre os dois foi se deteriorando. As brigas passaram a ser diárias, pois ambos tinham temperamento forte e já não se aceitavam mais. Depois da separação, eles só se encontravam quando Rogério vinha visitar os filhos e o relacionamento dos dois era muito formal. Entretanto, dessa vez, atendendo a pedidos dos filhos, Laura o convida para ficar em sua casa.

Perto da escadaria, se encontravam os empregados James, Conceição, Antônio e Mário. Todos pareciam meio assustados. Mário, o jardineiro, era empregado de Laura desde a compra da casa de Campos do Jordão. Laura gostava muito de flores e de um gramado impecável. Além disso, Mário também cuidava da piscina. Mário nasceu em Campos do Jordão e como seu pai, também era jardineiro. Ele apenas deu continuidade à profissão na família. Muito simples e honesto, ele sempre fazia o melhor que podia com as flores. Mas esse melhor era, por muitas vezes, pouco para a perfeição de Laura. Na véspera do crime, Laura teria brigado mais uma vez com ele.