Capítulo 11 - O BILHETE

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Enquanto todos vão ver os estragos pela janela da saleta da piscina, James que tinha se separado do grupo, ilumina o bilhete com uma vela:

 

"Eu sinto que sou malquista por todos. Eu estou com muito medo..."


Só há um pedaço do bilhete, mas James logo vê que se trata da letra de Laura, ou pelo menos, uma letra muito parecida com a da colunável. Então quando volta a si, percebe que está na copa e não há ninguém mais lá. Ele vai à procura das pessoas, mas antes, esconde novamente o bilhete. Desta vez, no bolso da camisa. Ao encontrá-los na saleta da piscina, ele pergunta:

- O que aconteceu?

- Um raio atingiu uma árvore e ela caiu no jardim – responde Mário – E você, onde estava?

- Eu? Estava... no banheiro – responde James.

Todos voltam para a sala de estar e o delegado dá continuidade ao interrogatório. Desta vez com Hélio. O delegado diz:

- Hélio, por favor me acompanhe até escritório.

Hélio, Chicão e João Alves somem no corredor em direção ao escritório. Já acomodados no escritório, o delegado pergunta para Hélio:

- O senhor sabia que foi mencionado no testamento de Laura?

- Já. Já sabia. Minha tia me contou.

- Sua relação com Laura era intensa demais como dizem. Por quê?

- Não sei. Talvez uma maior afinidade.

- Quando você soube da participação na herança?

- Faz um ano.

- E nesse tempo, nunca sentiu necessidade de dinheiro rápido?

- É lógico que dinheiro, todos nós queremos. Mas não mataria Laura só por isso. Como eu já disse, gostava muito dela.

- Está bom. Eu só queria saber disso. Pode ir agora, Hélio – diz o delegado.

Depois que Hélio saiu:

- Não, definitivamente não foi ele – comenta João Alves para Chicão.

- Mas o senhor mesmo não disse que o que parece não é?

- Cale-se, Chicão – diz o delegado brincando.

Enquanto isso, perto da lareira, Tereza e Luiz conversam:

- Fiquei sabendo que o senhor toca piano – diz Tereza.

- É. Eu arranho um pouco, Dona Tereza.

- Oh, Luiz! Não seja modesto – interrompe Nylza – Aliás, essa nunca foi sua qualidade forte.

Tereza pergunta:

- O senhor podia tocar para a gente, não é?

- Boa ideia – completa Nylza – Vamos então para a sala de música?

Os três acompanhados de Thais e Renata vão para a sala de música. Luiz começa a tocar várias composições próprias durante vinte minutos. Depois disso, ele diz:

- Agora é para finalizar. Essa aqui é de Chopin e vai em homenagem à...

Nylza se entusiasma:

- À Laura – completa ele.

Nylza vira-se, vai embora e bate a porta.

- Acho que ela não gosta de Chopin – diz Luiz – mas continuaremos a tocar então.

Na sala de estar, Dr. Jairo, que continuava reclamando da Medicina, é chamado por Chicão para ir depor no escritório.

- Como vai, doutor? – pergunta o delegado já no escritório.

- Vou bem, delegado.

- O senhor sempre foi médico de Laura?

- Sempre.

- Ultimamente ela apresentou algum tipo de anomalia?

- Não. Ela tinha uma saúde de ferro.

- Onde ela costumava ir quando ficava doente?

- No meu consultório, porque no hospital onde trabalho as condições estão calamitosas. Não há medicamentos, nem mesmo os instrumentos necessários. Para onde este mundo vai? A Medicina está falida!

- Doutor, por favor, não me interessa no momento saber o estado da Medicina atual. Basta saber quem é o assassino.

- Não, delegado. Só quero concluir. Eu só espero que Hélio pegue uma situação melhor no futuro.

- Podemos voltar agora, doutor? – insiste o delegado.

- Sim, lógico.

- Logo que o senhor chegou na noite do crime, lembra-se de algo diferente?

- É... – o doutor tem dificuldade de memorizar os fatos – É, não. Eu acho que não. Só as pessoas que estavam muito calmas demais para aquela situação.

- Por que o senhor fala tão mal da Medicina?

- Porque a situação está ruim.

- Então, o senhor está passando por algumas dificuldades financeiras?

- É, mais ou menos isso.

- O senhor, a fim de estabilizar sua situação não poderia ter matado Laura para receber sua parte na herança?

- Delegado! O senhor está me insultando!

Nesse momento, James entra no escritório trazendo café.

- Os senhores aceitam? – pergunta James.

- Sim, por favor – responde o delegado.

No instante que James se inclina, cai de seu bolso o bilhete indo parar ao lado da mão de João Alves. O delegado, ao ler seu conteúdo, exclama:

- O que significa isso, James?

- É... bem... eu ia lhe mostrar, delegado.

- Não precisa ser um gênio para saber que é um bilhete escrito pela Laura, não é?

- Sim. Eu não posso afirmar com total certeza, mas parece que é mesmo.

- O que o senhor fazia com isto no bolso? – pergunta o delegado apostando que o bilhete era realmente da falecida.

- Eu o achei quando procurávamos a arma.

- E por que não me mostrou na hora?

- Porque pensei que era lixo. Eu só li mais tarde, delegado.

- Senhor James, isso complica bastante a sua vida, sabia?

- Mas eu iria mostrar ao senhor.

- Quer dizer então que Laura estava com medo de morrer. E o resto do bilhete, onde está. Aqui só tem esse pedaço.

- Não sei. Já estava rasgado quando eu o encontrei.

- Está certo, James. Deixe o café aí e saia, por favor. Dr. Jairo, o senhor também já pode ir.

Faz-se uma longa pausa e o delegado volta a falar:

- Chicão, Chicão. Este caso está cada vez mais complicado.


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