Com os grupos de busca de Berenice frustrados, João Alves dá continuidade ao interrogatório no escritório chamando o vizinho Luiz da Silva.
- O senhor conhecia Laura há quanto tempo?
- Foi numa festa no centro de Campos do Jordão. Dois anos depois da Laura ter comprado essa casa.
- E o senhor...
- Espera aí, delegado. Qual é a sua proposta? Isso aqui está ficando um tédio – diz ele brincando e utilizando linguagem peculiar de cineasta.
- Bem, voltando a falar sério – interrompe o delegado – Na época que conheceu Laura, o senhor trabalhava no quê?
- Eu estava terminando o meu segundo filme.
- Eu percebi um olhar diferente por parte do senhor no momento em que observava o corpo de Laura. O senhor sentia algo a mais por ela?
- Sim, eu a amava.
- Vocês tinham um caso?
- Não. Eu nunca me declarei para ela.
- Por quê?
- No começo porque eu ainda estava casado. Mas cheguei até a me separar da minha última mulher para depois me declarar.
- Última? Quantas vezes já foi casado?
- Dez vezes.
- Nossa! Um pouco instável, não é?
- Sou, mas o que se pode fazer. Com Laura eu sentia que era muito sério. Muito mais sério que todas as anteriores.
- Você achava que ela sentia o mesmo por você?
- Isso eu nunca mais saberei, delegado – fala Luiz num tom triste.
- Está certo. Qualquer coisa eu volto a chamá-lo. Chicão, chame a mulher do médico, por favor. Logo após Dona Tereza entrar e se acomodar no escritório, João Alves fala:
- Como vai senhora...
- Tereza.
- Isso. Tereza. Estava quase me lembrando. Podemos iniciar?
- Lógico, delegado.
- Suponho que a senhora chegou a conhecer Laura, não é?
- Sim. Eu a conhecia. Mas na realidade eu só falei com ela três vezes.
- E nessas conversas, o que você pode falar sobre o comportamento dela?
- Parecia a pessoa mais comum de todas. Eventualmente um pouco mais séria, mas nada de mais.
- A senhora sabia que seu marido tinha uma parte da herança de Laura?
- Na realidade eu só soube hoje.
- Eu fiquei sabendo pelo doutor Jairo que a Medicina está muito ruim. Será que uma herança para ele nesse momento não iria bem?
- Primeiramente, eu nunca fui de heranças. Sobre a Medicina... é verdade. Ela está uma porcaria.
- Tem certeza?
- Pare com isto! O que o senhor pensa que eu sou!?
- Mas nem eventualmente?
- Não! E vamos parar por aqui!
- Desculpe se a ofendi, Dona Tereza – diz o delegado – Eu só estou fazendo o meu trabalho.
- É. Eu sei – replica ela.
- Pode ir agora. Muito obrigado.
Então o delegado chama mais um. É a senhora Nylza Almeida Prado. Já acomodados, ele pergunta:
- Tudo bem?
- Tudo.
- Onde a senhora conheceu Laura?
- Foi em uma festa no centro. Lá estavam os Albuquerque Figueira e os Arruda Sampaio, além do Luiz, é claro.
- Por acaso, a senhora tem uma queda pelo senhor Luiz?
- Sim, há tempos. Desde a época que passava meus finais de semana em Jaú.
- Tem família lá?
- Eu nasci lá.
- Já se declarou ao Luiz?
- Não diretamente, mas...
- Por que não o fez definitivamente?
- Ah... por dois motivos. O primeiro e o mais importante é que me falta coragem. O outro é o sobrenome dele. Silva. Já pensou... Nylza Prado da Silva!? Que horror!!!
- E a senhora certamente sabia do sentimento de Luiz por Laura.
- Sabia e não gostava.
- E não a mataria por isso?
- Nossa! Eu sou incapaz de matar uma mosca!
- Tudo bem. Eu já tenho o que preciso. Obrigado, senhora. Pode voltar para a sala – fala o delegado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Simplesmente uma morte?
Mystery / ThrillerInspirado nos livros da Agatha Christie. Uma morte em um casarão isolado em Campos do Jordão. Vários suspeitos. Um romance policial instigante feito com um toque de humor. Quem irá descobrir o assassino primeiro??