Capítulo 14 - MAIS DEPOIMENTOS

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Com os grupos de busca de Berenice frustrados, João Alves dá continuidade ao interrogatório no escritório chamando o vizinho Luiz da Silva.

- O senhor conhecia Laura há quanto tempo?

- Foi numa festa no centro de Campos do Jordão. Dois anos depois da Laura ter comprado essa casa.

- E o senhor...

- Espera aí, delegado. Qual é a sua proposta? Isso aqui está ficando um tédio – diz ele brincando e utilizando linguagem peculiar de cineasta.

- Bem, voltando a falar sério – interrompe o delegado – Na época que conheceu Laura, o senhor trabalhava no quê?

- Eu estava terminando o meu segundo filme.

- Eu percebi um olhar diferente por parte do senhor no momento em que observava o corpo de Laura. O senhor sentia algo a mais por ela?

- Sim, eu a amava.

- Vocês tinham um caso?

- Não. Eu nunca me declarei para ela.

- Por quê?

- No começo porque eu ainda estava casado. Mas cheguei até a me separar da minha última mulher para depois me declarar.

- Última? Quantas vezes já foi casado?

- Dez vezes.

- Nossa! Um pouco instável, não é?

- Sou, mas o que se pode fazer. Com Laura eu sentia que era muito sério. Muito mais sério que todas as anteriores.

- Você achava que ela sentia o mesmo por você?

- Isso eu nunca mais saberei, delegado – fala Luiz num tom triste.

- Está certo. Qualquer coisa eu volto a chamá-lo. Chicão, chame a mulher do médico, por favor. Logo após Dona Tereza entrar e se acomodar no escritório, João Alves fala:

- Como vai senhora...

- Tereza.

- Isso. Tereza. Estava quase me lembrando. Podemos iniciar?

- Lógico, delegado.

- Suponho que a senhora chegou a conhecer Laura, não é?

- Sim. Eu a conhecia. Mas na realidade eu só falei com ela três vezes.

- E nessas conversas, o que você pode falar sobre o comportamento dela?

- Parecia a pessoa mais comum de todas. Eventualmente um pouco mais séria, mas nada de mais.

- A senhora sabia que seu marido tinha uma parte da herança de Laura?

- Na realidade eu só soube hoje.

- Eu fiquei sabendo pelo doutor Jairo que a Medicina está muito ruim. Será que uma herança para ele nesse momento não iria bem?

- Primeiramente, eu nunca fui de heranças. Sobre a Medicina... é verdade. Ela está uma porcaria.

- Tem certeza?

- Pare com isto! O que o senhor pensa que eu sou!?

- Mas nem eventualmente?

- Não! E vamos parar por aqui!

- Desculpe se a ofendi, Dona Tereza – diz o delegado – Eu só estou fazendo o meu trabalho.

- É. Eu sei – replica ela.

- Pode ir agora. Muito obrigado.

Então o delegado chama mais um. É a senhora Nylza Almeida Prado. Já acomodados, ele pergunta:

- Tudo bem?

- Tudo.

- Onde a senhora conheceu Laura?

- Foi em uma festa no centro. Lá estavam os Albuquerque Figueira e os Arruda Sampaio, além do Luiz, é claro.

- Por acaso, a senhora tem uma queda pelo senhor Luiz?

- Sim, há tempos. Desde a época que passava meus finais de semana em Jaú.

- Tem família lá?

- Eu nasci lá.

- Já se declarou ao Luiz?

- Não diretamente, mas...

- Por que não o fez definitivamente?

- Ah... por dois motivos. O primeiro e o mais importante é que me falta coragem. O outro é o sobrenome dele. Silva. Já pensou... Nylza Prado da Silva!? Que horror!!!

- E a senhora certamente sabia do sentimento de Luiz por Laura.

- Sabia e não gostava.

- E não a mataria por isso?

- Nossa! Eu sou incapaz de matar uma mosca!

- Tudo bem. Eu já tenho o que preciso. Obrigado, senhora. Pode voltar para a sala – fala o delegado.

Simplesmente uma morte?Onde histórias criam vida. Descubra agora