Capítulo 6 - A ARMAÇÃO

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Enquanto o velório segue, o delegado João Alves e Chicão apenas continuam observando as pessoas. Ele busca no olhar, nos gestos, na conversa de cada um, algo que possa comprometer um dos presentes. Todos ali podem ter assassinado Laura. Então após um longo tempo, o delegado pergunta em voz baixa para Chicão:

- Chicão, quem você sugere como assassino?

- Ih, chefe! Está difícil, mas eu sugiro o mordomo. Afinal, o mordomo é sempre o culpado.

- Não caia no comum, meu colega. Isso nem sempre funciona assim. Repare só a forma como Guto e Berenice conversam. Ali tem, no mínimo, algo estranho.

- Olha, delegado!

- O que, Chicão?

- Aquelas duas perto caixão! – diz ele se referindo a Thais e a Renata – Parece que elas estão contentes ao ver o corpo da vítima.

- É. Pode ser. Mas também aquele Rogério não me engana – conclui o delegado.

Já são oito da noite e a ventania aumenta. Os primeiros trovões já fazem estrondos. As portas começam a bater com o vento. Todos se assustam. Um clima mais pesado toma conta da casa. O telefone toca. Uma pessoa se utilizando da segunda linha da casa tenta fazer com que João Alves vá embora. Rogério atende e se vira para o delegado:

- Estão lhe procurando, delegado. Parece que é urgente.

O delegado atende e diz preocupado:

- Como??? Já estou indo para aí!

- O que aconteceu? – pergunta Rogério.

- Parece que houve um assalto em um restaurante no centro. Terei que ajudar. Vamos Chicão!

- Já vai, delegado? – pergunta James.

João Alves não responde. Ele e Chicão se despedem de todos e entram no carro. James só fecha a porta quando a luz do carro desaparece.

No carro:

- Delegado, o que está acontecendo na cidade?

- Eu também não sei direito, mas me disseram que estão precisando de toda a força policial disponível. Parece que há vários reféns no restaurante.

- Mas como aconteceu isso?

- Não sei. Só saberemos quando chegarmos lá. De qualquer maneira, é muito estranho. Nunca aconteceu isso na cidade. Mas mudando de assunto, eu estava pensando em qual teria sido o motivo do crime da Laura. Será que foi por dinheiro, por amor ou por inveja?

- Poderia ter sido também por vingança – completa Chicão.

- É. Você tem razão, Chicão.

- Se foi por dinheiro, quem estaria interessado na herança?

- Certamente os filhos e os citados no testamento.

Lá fora os primeiro pingos de chuva caem e os raios estão cada vez mais fortes. Está ficando mais perigoso dirigir a cada segundo. A conversa entre o delegado e Chicão continua no carro:

- Já deu para perceber que aquele vizinho Luiz tinha um sentimento muito forte por Laura – diz o delegado.

- Será que ele foi rejeitado?

De repente os dois ouvem um estrondo muito próximo. É uma árvore que caiu cinquenta metros à frente interrompendo a pequena estrada. O delegado ainda tenta controlar o carro na pista de terra, mas não consegue evitar o choque. Após alguns segundos, o delegado pergunta:

- Tudo bem com você, Chicão?

- Tudo.

- Por favor, vá até a frente do carro e veja se há algo danificado no carro e se há a possibilidade de retirarmos a árvore.

No carro, apenas um farol quebrado. Entretanto a árvore era pesada demais para se tentar liberar a estrada naquele momento. Restou-lhes, assim, uma única alternativa: voltar para a mansão.

Simplesmente uma morte?Onde histórias criam vida. Descubra agora