No calor escaldante do Rio, Sáskia esperava que a tia desapegaase o mínimo da jaqueta e do gorro já quase míticos, mas eram “sagrados” como ela dizia. Menos sagrado era o jeito quase suicida que ela dirigia aquele carro o que já dava a Sáskia uma ideia de como tinha sido expulsa da bienal.
— Sério, tia? Por causa de um livro “não exato”?! — começou Sáskia, enquanto passava batom no espelho do carro.
— Digamos só que eu entrei numa discussão com um historiador lá.
— Descer a porrada no homem não parece uma discussãozinha.
— O babaca teimou e teimou com a data errada da construção das pirâmides! O que queria que eu fizesse?
Poucas foram as vezes que Sáskia esteve numa bienal em lançamentos, mas sabia que a ideia louca de tentar passar pelos seguranças numa manhã de sábado já era demais para os malabarismo da tia. A fila no sol de rachar já fazia Sáskia suar mesmo usando aquela camisa sem mangas.
— Como consegue usar esse treco aqui? — perguntou, dando um gole na garrafinha de água.
— Depois de te obrigarem a usar algo por tanto tempo você meio que se acostuma.
Sáskia a fitou de cima a baixo.
— Mamãe também tem essa mania. É de família?
— Sua mãe é... — Sabrina suspirou, de braços cruzados. — Sua mãe não tem coragem para fazer o necessário.
A vez das duas chegaram, e o guarda da fila as encarou cerrando o cenho para uma sorridente Sabrina que já enrolava o braço de forma carinhosa ao redor do pescoço da “filha”.
— Ela não pôde vir com o resto da escola, sabe? Vim trazer ela.
— Senhora, hoje é sábado. Além disso, — Ele apontou para o pescoço de Sáskia. — Cosplayers precisam de credenciais para o evento.
— Do que você me cham-
— Uma criança, senhor — começou tia Sabrina, já com lágrimas de crocodilo banhando entre olhos. — Uma aspirante a escritora com um sonho, e esse sonho pode ser parado por você, ou...você pode ser o herói que vai colocar um sorriso na cara dela.
Um outro guarda apontou para as duas.
— Espera aí, você é aquela maluca de ontem!
— Não sei do que está falando.
Tia Sabrina puxou Sáskia aproximando-se, sussurrando:
— Me diz que essas perninhas já podem correr.
— Eu me curo rápido, tia. — murmurou. — Mas não tão rápido assim!
— É agora ou nunca...
Tia Sabrina já erguia o braço apontando para a multidão, tentando usar o truque mais velho do mundo para distrair os guardas. Mas antes que pudesse arrastar Sáskia pelo vão entre o homem e a barreira, uma voz feminina soou vinda de um estande.
— Oxente! Major Joana?
Uma mulher alta, de semblante grosso e uniforme se aproximou fazendo o guarda que já segurava o colarinho de Sabrina a soltar e se voltar para ela.
— Dona, a senhora conhece essa mulher?
— Oxi, se eu conheço?! Major Joana é umas mulher de respeito, rapaz! Solte ela!
O guarda fitou tia Sabrina por um instante. Tia nunca esteve no Nordeste até onde Sáskia sabia, mas o sotaque que ela puxou ao se dirigir a mulher soava tão similar que podia muito bem se passar por uma nordestina.
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Sáskia e os Caçadores de Deuses
Viễn tưởngSáskia seria uma garota de dezesseis anos comum se não fosse pelos seus olhos de águia, dentes de tubarão e orelhas pontudas. Helena, sua mãe e uma fanática por mitologia, dizia usar a aparência da filha como inspiração para as raças do seu mais nov...