Capítulo 39

0 0 0
                                    

Era como ver um ciborgue dando de beber, mas Sáskia esperava que fosse menos sutil, mais robótico. Solandis levou a poção aos lábios de Asta, acariciando os cabelos azuis dela com a mão não biônica.

A garota abriu os olhos lentamente e se recostou na parede, ofegante.

— Andis?

— Calma, não levanta. Você ficou sem Eternano.

Ele levou as mãos ao bolso pegando uma bolinha azul e levando a boca, engolindo-a. O braço metálico tremeu um pouco quando ele se levantou, se voltando para uma Sáskia de braços cruzados que o fitou de volta.

— Você deve ser a...

— Ela é a Guardiã — começou Asta. — Foi ela que-

— Ela tava com eles e tudo o mais, Andis! — exclamou Aris. — Os dois deuses e a marca!

— Não é bem o encontro com você que eu esperava, Solandis. Tava envolvido com essa mági, aí?

— Eu tenho nome!

— Podíamos ter morrido por sua causa. — Sáskia mostrou o rosto vermelho. — Tomei um soco no seu lugar, não tá vendo?

Zillah levantou os braços em desdém.

— Queria que eu apanhasse por me defender, era isso?

— Amor, por favor...

Um silêncio constrangedor caiu entre os cinco até ser quebrado por uma risada abafada de Sáskia.

— “Amor”.

— Você tem namorada?! — berrou Asta.

— Andis, você não tava com aquela ferreira?

— Ferreira?! — disse Zillah, se voltando para o feérico. — Que história é essa Solandis?!

Sáskia só pôde rir da cara de pastel do príncipe tentando conter a discussão como um cordeiro jogado aos leões. Sua diversão acabou assim que ele se desvencilhou do agarre nada amoroso de Zillah e veio na sua direção, mais sério do que esperava.

— Você é mesmo ela? Sáskia?

Um baque veio de cima deles, e um rosto velho de uma senhora surgiu de uma das janelas.

— Seus moleques! Que barulheira é essa?! — gritou, bradando uma bengala. — Príncipe Solandis?

Solandis cobriu-se com o capuz e o sobretudo, saindo do beco, murmurando:

— Vamos, aqui não é lugar pra conversar.

— O palco do Casos de Família é mais adequado mesmo.

Talvez por medo de caguetar a identidade do príncipe ou apenas por já estar sem garganta para discutir, mas Zillah permaneceu calada durante todo trajeto até o Templo dos Oito. O ombro de Sáskia já estava bem agradecido por Asta estar de pé, e a curiosidade da sem raça também.

Parou diante da grande estátua que se erguia do templo. Uma mulher de longos cabelos negros e semblante confiante permanecia no centro dos oito, de mãos na cintura, erguendo uma espada ao céu. Era linda, majestosa, quase...

— Sáskia. — O chamado de Asta às suas costas a despertou do transe. — Ah, ela...é a senhora Olímpia.

Ao lado dela, Atalanta mirava com seu arco, do outro, um rapaz de cabelos loiro e face fina erguia uma espada em formato de relâmpago. Eram oito ao todo. Rostos tão familiares, mas tão esquecidos na névoa que eram as memórias de Atalanta.

— Uma louvadora da falsa Divindade? — Perguntou Zillah, chegando ao seu lado. — Nem é humana e tá pagando pau pra essa aí?

— Você não devia tá mais preocupada com a sua própria pele? Ou com sua barraca ferrada?

Sáskia e os Caçadores de Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora