Capítulo 42

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Alguém correu da multidão, gritando pelo nome de Sáskia em um bom e velho português. Tia Saga subiu pelos degraus pela lateral, chegando até ela.

— Vamos, temos que-

— SÁSKIA!

O grito ecoou por seus ouvidos mandando calafrios por todo o seu corpo. Sáskia olhou por cima do ombro da tia para a mulher que a encarava lá embaixo, encontrando o olhar penetrante dela. Um sorriso surgiu em seus lábios negros, quase tão sórdido quanto suas longas unhas quando apontou para ela, gritando mais alguma coisa que Tia Saga não ousou traduzir.

Ela começou a caminhar a passos lentos na sua direção, arrastando o vestido arroxeado pelo chão empoeirado. As mechas negras caiam em frente ao rosto, mais bagunçadas que um ninho de Harpia.

Sáskia deu passos para trás, sem tirar os olhos daquela monstruosidade. Os gritos de Asta e Aris eram altos enquanto os dois corriam pelos degraus na sua direção.

Os olhos da mulher se desviaram dos seus, mirando no anão descontrolado que brandia o machado na sua direção.

Desviou do primeiro golpe dele com um leve, quase elegante passo de lado, deixando-o acertar o chão e lançar um tremor pelo lugar inteiro. O Caçador seguiu, puxando a arma, tentando acertar um único golpe na mulher. Mas cada vez que tentava apenas encontrava o ar e era recebido com um riso mórbido.

— Ela tá brincando com ele... — murmurou Sáskia.

Asta e Aris chegaram, cercando-a, tentando a empurrar para o fundo. Sáskia mal podia ver o pátio da batalha, mas um som seco e rápido ecoou pelo catedral antes de algo subir ao ar e voar na sua direção.

Piscou e já estava ao chão, com o peso de Asta sobre suas costelas.

Ela puxou algo do bolso e enfiou na sua boca de uma vez só. Sáskia mastigou, não tirando os olhos daquela face aquática.

— Você está bem?!

— O quê foi aquilo?!

Asta se pôs de pé e estendeu a mão, a levantando. Um gemido de dor pesado vinha às suas costas, e Sáskia tomou coragem o suficiente para se virar.

Mal era possível ver as pernas e braços entre as rochas que desabaram da parede. O corpo do Anão mal se mexia, mas seus gemidos de dor dilacerantes ainda ecoavam na mente de Sáskia a trazendo as memórias daquele maldita floresta.

Algo vermelho ergueu do corpo dele, se arrastando entre os escombros. Duas pequenas Chamas atravessaram o ar na direção de Sáskia.

Foram para o seu braço esquerdo, entrando de uma só vez e percorrendo todo o seu corpo. Em instantes já tinha a visão do golpe da mulher, das costas se chocando contra a parede, dos escombros a esmagando.

Sáskia abriu os olhos. Se desvencilhou do agarre de Asta e Saga, ignorou os gritos de alerta de Aris e correu para a beira dos altos degraus. Parou diante deles, deixando o olhar cair sobre a imagem da deusa no pátio cercada de Caçadores.

— Qual o problema, Sáskia?! — provocou ela, limpando o punho sujo de sangue nas roupas de um cadáver. — Ao invés de descer aqui, manda seus Caçadores? Que vergonha.

— Quem é você pra falar de honra, Morrígan?! — Tia Saga gritou. — Você nã-

— Que droga! O que você estão fazendo?! — berrou Sáskia. — Ela é só uma! Se juntarem todos, vocês conseguem!

Morrigan abriu um sorriso numa gargalhada que tomou conta de todo o templo. Os poucos que ainda tentavam escapar por entre as grandes portas de mármore, se calaram no seu desespero e alguns até se encolheram em si mesmos, como se ouvissem o próprio riso da discórdia.

Sáskia e os Caçadores de Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora