Capítulo 14

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A escuridão da maior floresta do planeta trazia consigo barulhos estranhos, sombras que passavam, criando em Sáskia a noção de que podiam muito bem já estar em outro mundo. Caminharam durante mais tempo do que achava possível, seguindo tia Saga pelas árvores, torcendo a cada piscada das lanternas dos telefones para a bateria durar mais um pouco.

— Tem certeza que esse é o caminho certo, velhota? — perguntou Prometeu lá do fim da fila.

Exu estalou a língua. Lançou um olhar afiado por cima do ombro para o homem.

— Ela precisa descansar.

Sáskia desviou os olhos para a mulher ao lado dele. Amaterasu suava, gemendo de dor a cada passo, mas ainda assim sem deixar de guiar Esther pela selva. A menina  se aproximou dela deixando o espaço no meio da fila com a mãe.

Sáskia puxou as paçocas do bolso da calça. O vício de Tia Saga em doces pelo menos serviu de algo.

Ofereceu duas a ambos, esticando a mão.

A elfa apenas virou o rosto.

— Se não comer, pode morrer de cansaço.

— Não preciso da sua comida.

Um ronco seco ecoou da barriga do rapaz ao lado dela. Sáskia se aproximou dele, tomando suas mãos e depositando as quatro paçocas já abertas. Ele deu a primeira mordida com cautela, mas a seguinte foi de uma vez só. Em instantes já tinha devorado todas e abria um sorriso estendo a mão por mais.

— Acabou, não tem.

Esther disse algo para a mãe que respondeu com um resmungo entre a respiração ofegante.

— Sabrina — chamou Helena. — Saga...tem certeza que não estamos perto?

— Eu atravessei essa coisa primeiro, Helena. Confia em mim!

— Vamos apelar para alguém com uma memória um pouco mais fresca, que tal? — Prometeu apontou a arma para Exu. — Onde está árvore?

— Minha esposa precisa do devido descanso, Prometeu. Lhe direi tudo assim que ela o tiver.

Amaterasu riu entre a tosse de sangue.

— Como se fôssemos decorar um caminho por uma maldita selva em uma única ida.

— Desculpe, como chegaram aqui exatamente? Ah, sim atravessando Éden!

— Aonde fomos não precisamos cruzar a selva maldita de Éden. Pra que perder tempo atrás de uma maldita árvore de esconde-esconde, não é-

Seu corpo balançou e o seus olhos se fecharam deixando todo seu peso cair em cima de Sáskia. Ela a segurou, empurrando, até Esther a ajudar a deitar a elfa no chão da floresta.

— Ela necessita de um curandeiro!

— E vamos conseguir um, assim que nos mostrar o caminho pra maldita árvore!

— Encontrei!

Tia Saga acenou de cima de uma grande raiz.

— A tome pelo seu lado, jovem.

Sáskia fez como lhe foi pedido, puxando Amaterasu do chão e passando o braço dela sobre o seu pescoço. Exu encarou sua mãe por um instante, e desviou o olhar para Esther já parado ao lado deles.

— Por favor.

Helena ponderou por um momento, mas enfim tomou o jovem elfo pelo braço o guiando raiz acima. Sáskia passou com os dois Deuses pela raiz, tomando cuidado onde pisava, sentindo a respiração quente de Amaterasu contra o seu rosto. Ela murmurou algo no seu ouvido, quase tão baixinho quanto podia ouvir, mas tinha certeza do que era:

— Eu ainda vou te matar — disse. — E sua mãe, e o maldito Promet-

A deixou aos braços de Exu, apertando os lábios. Ignorou os murmúrios de delírio da ela e voltou os olhos para a duas grandes árvores à sua frente em formato de arco. Eram exatamente como no livro, talvez até maiores.

— Agora liga — ordenou Prometeu.

Tia Saga riu entre o cabelo que grudava ao rosto suado.

— Não é uma lâmpada.

Ele grunhiu baixinho.

— Velhota, disse que foi um presentinho do nosso querido Supremo, não é? Toda aquela baboseira de ser a favorita e ainda não sabe usar o brinquedinho. Não vem com essa pra cima de mim.

— Em primeiro lugar: Pode debochar Dele o quanto quiser. Sua falta de crença, não vai ajudar a abrir a Ygdrassil. Em segundo... — Ela encostou no galho. — Árvores entre mundos não vêm exatamente com um manual de instruções. Acho que se esqueceu que essa coisa foi feita pra só ser usada só UMA VEZ!

Prometeu estalou a língua e xingou alto. Caminhou até Sáskia, passando por ela e indo até Exu que já acariciava a cabeça da esposa sobre o seu colo.

— Desembucha.

— Desembucha?! Que ato vil! Até mesmo de você Prometeu. Não está vendo que ela precisa de ajuda?

— Éden é onde a árvore se esconde, e ainda assim, sua namoradinha psicótica aqui disse que não atravessaram por lá. Então como e onde conseguiram?!

Um baque e a luz brilhou. Sáskia fitou o arco das duas árvores, boquiaberta. A luz vermelha tomava conta de todos os arredores iluminando o rosto de uma gloriosa tia Saga que já dava socos no ar.

— Ha! Eu sabia!

Helena desceu da grande raiz junto a Esther e se aproximou de Sáskia. Segurou levemente o seu braço, olhando para ela e de volta para a árvore entre mundos.

— É quente. — Observou Sáskia. — Mas, diferente...

— Muito bem, todos em fila!

Prometeu apontou a arma para Exu e acenou com a cabeça para Sáskia. Ela foi até a elfa ao chão a erguendo novamente e encarando a luz vermelha, perguntou:

— Onde isso vai dar?

— Com alguma quantidade de sorte, perto de algum assentamento Caipora. O máximo de civilização que se pode encontrar em Éden. — Explicou Exu, entre grunhidos de esforço.

Prometeu apontou a arma para ambos.

— Andando.

Helena se aproximou de Sáskia ficando lado a lado com ela.  Ambas de frente para a árvore entre mundos.

— Vai ficar tudo bem, filha. Só mantenha... — Ela hesitou por um momento. — Segure ela bem. A chegada pode ser turbulenta e as feridas podem se abrir.

Saga e Prometeu se juntaram a eles, lado a lado. Sáskia suspirou fundo, lentamente tentando conter o coração que já palpitava rápido. O suor já escorria da sua testa quando perguntou:

— E ele?

Helena apertou Esther perto ao seu corpo, segurando-o. Ele disse algo, incompreensível, que ela respondeu num tom melancólico. O elfo de cabeça raspada apertou mais o braço dela e abaixou a cabeça em um princípio de choro.

— O quê disse pra ele?

Ela desviou o olhar para Amaterasu.

— A verdade.

— Chega de papinho emocionante. — disse Prometeu. — Vamos, atravessem.

— E vai ficar por aqui, por acaso? — Debochou Tia Saga.

— Eu tô bem atrás de vocês, velhota. Não se preocupe.

Sáskia apertou bem as costas de Amaterasu a deixando firme sobre seu agarre. Sua mãe a lançou o mesmo olhar reconfortante que tanto ansiava e acenou para o portal.

— Vamos.

Sáskia e os Caçadores de Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora