Capítulo 13

4 2 0
                                    

— Ora, que bom ver vocês!

    Prometeu caminhou até a pequena mesa com os braços já abertos. Helena se levantou, o abraçando forte, quase como se não estivesse prestes a entregar a cabeça dele a dois deuses a espreita no quarto ao lado.

    Sáskia se sentou ao lado de tia Saga que já colocava o leite em pó nas xícaras de café. Prometeu se sentou ao lado dela, dando um grande suspiro e abrindo os braços numa saudação calorosa demais para alguém com um revólver escondido na cintura.

    — Quando foi a última vez? Dez, quinze anos atrás?

    — Dezesseis anos, moleque esquecido! — Tia Saga lançou um olhar nostálgico a Sáskia. — O tempo voa mesmo.

    Sáskia apertou os lábios tentando conter a perna que teimava em balançar debaixo da mesa. Fitou além da mesa, para o pequeno quarto escuro onde uma mecha de cabelos vermelhos pendia da esquina da porta entre a escuridão.

    — Admito que gostei do novo estilo de cabelo — disse Prometeu apontando para as duas. — Deve ter sido um pé no saco pintar isso todo dia, mesmo assim.

    — Pelo menos a gente fez algum trabalho duro pra se mesclar, não é? O mínimo que você podia fazer era aprender português. — Provocou Helena. — Aposto que as pessoas te chamam de mastiga-mastiga até hoje.

    Prometeu sorriu entre o chiclete na boca.

    — Na firma dizem ser o meu charme e bem, um velho alquimista tem que manter os seus hábitos intactos, não é? — Ele se virou para Sáskia, a fitando. — Ela cresceu bastante. Sua mãe me disse que sabe atirar com um arco e flecha, garota!

    Sáskia engoliu em seco. Os olhos de Amaterasu já espiavam pelo canto da porta, diretamente cravados nas costas expostas do homem.

    Mencionou dizer algo quando a Deusa saiu do seu esconderijo. Caminhou junto a Exu de peito estufado, tão lenta quanto podia, quase como aproveitando o momento. Prometeu se virou para ela com a mão já no revólver, e sorrindo, disse:

    — Esqueceu de colocar mais duas xícaras de café, velhota. Que má educação.

    Tia Saga encarou Prometeu de braços cruzados enquanto Helena se precipitou se levantando e indo até Sáskia. Ela a levantou gentilmente, a puxando para longe da mesa, se colocando entre ela e o Deus dos mortais.

    — Exu, você deveria saber como conter a fúria de sua mulher — continuou Prometeu.

    O elfo conteve um sorriso mórbido.

    — Sabe como elas são, Prometeu. Quando colocam algo na cabeça, não tiram de jeito, nenhu-

    — Valeu a pena? — perguntou Amaterasu, quase cuspindo as palavras. — Viver mascando goma de Linguagem Infinita, dia e noite. Sangrar. Sentir dor. Valeu a pena?

    — Você se acostuma com o sabor depois de um tempo. Não é a melhor coisa do mundo, admito, mas fica bem...

— Por todo o sangue que derramou, valeu a pena, Prometeu?! — Naquele momento já estava gritando. — Seus próprios irmãos, suas próprias-

Prometeu puxou o revólver entre uma gargalhada que ecoou por toda a sala. Apontou para eles após se conter entre os risos, um agarre frouxo, como se não estivesse diante de dois seres divinos.

— Irmãos! Irmãos! — riu, depois fitando ela. — Asu, você não pode ser tão ingênua. Ainda acredita na baboseira que essa idiota aqui conta?

Tia Saga desviou o olhar, se encolhendo na cadeira.

Sáskia e os Caçadores de Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora