Capítulo 32

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Um lugar chamado Éden era um bom lugar de descanso, ou pelo menos era o que Sáskia queria acreditar. Ao pé da lápide negra, cravava com a flecha cada letra dos dois nomes. Escolher apenas um não parecia certo.

O bate pé rápido de Nesrin foi logo silenciado por Atalanta em um Animalesca que pouco entendia. Não queria aprender. Não precisava. Não iria.

Uma árvore desabou ao seu lado enquanto três homens e mais um par deles a arrastava floresta a dentro, abrindo mais a clareira.

— Um desperdício de pessoal — resmungou Nesrin já mascando uma goma. — Tudo por um corpo.

— Cala a boca.

— Essas pessoas aqui. Elas perderam outros também. Amigos, irmãos, filhas. Não se ache a mais importante só porque é Senhora agor-

— Eu mandei calar a boca!

O grito saiu de sua garganta mais alto do que queria, afastando Nesrin.

— Nesrin, vai! — disse Atalanta, empurrando ele. — Volta pro acampamento logo!

Ele a fitou cerrando o cenho antes de estalar a língua e dar as costas caminhando até os cavalos.

Atalanta se agachou ao seu lado, tomando outra flecha da aljava e começando o H.

— Helena, não é?

Sáskia engoliu em seco.

— Sáskia?

— Nem sei a quanto tempo não ouço alguém...dizer o nome dela.

Atalanta suspirou e começou a talhar a pedra. As mãos finas e habilidosas dela já tinham terminado quando Sáskia colocava a última letra da mensagem abaixo do nome.

— A língua da terra de onde vieram. — observou Atalanta, entre um sorriso. — Sua tia me ensinou algumas palavras.

— O português que Nesrin tanto odeia, é.

— Eu acho bonito. Quando você fala, quando ela falava.

“Aqui jaz Helena/Olímpia, guerreira, escritora e a melhor mãe que uma filha poderia ter”

Sáskia tomou a arma divina em mãos se apoiando nela, se pondo de pé. Encarou a lápide, tentando conter o princípio de um choro, sentindo o abraço quente de Atalanta.

— Vamo. Ela tá vendo o céu como você queria. Ela tá vendo ele.

Retornaram ao acampamento, apenas para encontrar Ícaro devidamente lançado e com a sela colocada. Sáskia estalou a língua, pouco se importando com a multidão de Falco ao redor dos dois, gritando, berrando. “Sobe”.

Caiu na primeira tentativa, dando com a cara na terra batida, cuspindo sangue no chão. Esperaria risadas, mas era apenas o silêncio que reinava.

— De novo! — gritou Nesrin, e outra vez Sáskia caiu.

Já era de noite, e mal conseguia segurar os lençóis com as mãos quase em pele viva. As rédeas podiam ser menos ásperas, foi o que reclamou para Atalanta enquanto bebiam ao redor da fogueira.

— É pra controlar o bicho — disse ela dando um gole. — Cavaleiro e animal devem sentir a mesma dor se vão voar juntos.

Sáskia encarou as mãos. A carne dilacerada se juntava aos poucos, quase invisível a olho nu, mas estava lá, se remando, curando.

— Que ideia idiota.

Atalanta a fitou de cima a baixo, talvez observando o jeito que batia o pé constantemente, ou como coçava os cabelos em coque.

Sáskia e os Caçadores de Deuses Onde histórias criam vida. Descubra agora