4. Observador

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Paola Kendrick
22 de junho de 2009, 05:19
Mansão Kendrick, Upper West Side (NY)

 Ele ainda está me encarando como se quisesse eternizar meus traços em sua memória. A respiração de Michael é quase imperceptível. Seu olhar se desvia do meu ocasionalmente e desce até minha boca. Seu olhar fica mais tempo concentrado na minha boca do que em meus olhos. Percebi que ele desceu seu olhar algumas vezes para os meus seios, mas, como não tem o que olhar porque sou despeitada, ele volta seu olhar para o meu. Está assim há muitos minutos. Ele é o tipo que gosta de apreciar. Se parece com uma criança arteira que precisa tocar para ter certeza que existe, mas, no nosso caso aqui, ele gosta só de ver. É como se eu fosse uma obra de arte bem cara que ele prefere apenas olhar.

— Você é muito bonita, Paola — ele sussurra enquanto desce seu olhar para a minha boca. Eu nem sei o que responder. Acredito que não existe resposta, eu não sei ganhar elogios.

— Você também, eu gosto do seu queixo — ele pisca um par de vezes e volta seu olhar para meus olhos. Um meio sorriso se desenha em seu rosto.

— Obrigado — ele começa a rir, está sem graça? — De verdade não teve nada com ninguém durante esses anos todos? — não são tantos anos assim.

— Sim, e eu não me importo de ficar sozinha — ele tomba a cabeça para o lado direito. Se senta de lado e continua me encarando com sua curiosidade mais aguçada do que nunca.

— Então, por exemplo — ele limpa a garganta e olha para seu lado direito — Se seu namorado fica um ou três meses fora sem ligar, você é o tipo que dá bronca quando o vê ou só fica feliz por ver ele? — que pergunta é essa?

— Gosto de espaço, não é muito a minha praia esse negócio de ficar correndo atrás, sabe? Eu gosto, mas, prefiro que cada um tenha seu espaço! E eu gosto de ficar na minha, não admito cobrança nem que seja de atenção! — seus olhos parecem brilhar só de ouvir que não sou do tipo de fica no pé — Porém, é bom ter notícias de quem se ama e é claro que gosto de atenção. Gosto de ser mimada e mesmo que eu não precise, gosto de ser cuidada e gosto de cuidar!

— Isso é fascinante — fala entre suspiros — E o que você faz agora que não trabalha mais? — ele leva a mão até o queixo e passa a ponta de seu dedo indicador pela covinha que tem em seu queixo.

— Vejo filmes, sou apaixonada por filmes! — abro um sorriso para ele que suspira — Aqui tem um cinema maravilhoso no terceiro e último andar! Mandei construir quando meu marido morreu, lá era uma sala cheia de estátuas caras. As coloquei em outra sala no andar de baixo e transformei o enorme andar em um cinema!

— Deve ter ficado incrível! — morde o lábio com tanta força que seus lábios rapidamente vão de rosados a branco, mas, logo muda para sua cor.

— Quer conhecer? Podemos ver algum filme! — me levanto e ando até a porta. Michael se levanta e começo a escutar seus sapatos batendo levemente no chão. Olho de relance para trás. Ele está com às duas mãos nos bolsos de sua calça preta. Caminho um pouco até a parede do corredor. Me posiciono em frente a um dos vários quadros.

— Esse quadro é muito bonito — ele fala enquanto cruza a porta e para em minha frente. Atrás de mim, tem um quadro. É um quadro meu pintado a mão — É você? — pergunta surpreso. Aceno positivamente — Espetacular! — entusiasmado ele se aproxima mais — A riqueza de detalhes — sussurra.

— É, bem bonito mesmo — suspiro enquanto olho para seu pomo de adão que está bem perto. Ele deve ter quase a minha altura. Tenho 1.72, ele deve ter uns 1.75, bonito. Bem cheiroso também. Sua barba está começando a nascer novamente. Ele é bem atraente e não se parece tanto com o que se estampa nas revistas mundo afora.

— Agora que notei — fala bem empolgado — Todos os quadros! São retratos seus! — abre um enorme sorriso — Seu marido era louco por você! — ele tira a mão direita do bolso e posiciona seu dedo indicador entre seus lábios.

— É, eu era um belo troféu! Um troféu que ele adorava exibir aos amigos da alta sociedade, mas, um jantar romântico em um restaurante qualquer era algo bem distante! — falo baixinho. Michael volta a olhar para mim. Ele pisca lentamente.

— Você não gostava? — pergunta mais seriamente. Dou de ombros. Era interessante ver a cara de todos e claro, ver ele todo bobo se gabando por eu estar ao lado dele. Era um dos poucos momentos em que eu me sentia "amada" por ele em seus últimos anos — A sensação de ter você ao lado para se exibir, deve ser impagável — seguro um sorriso repentino que quer a todo custo invadir.

— Hoje não tenho mais a beleza estonteante que costumava ter! — suspiro — Vamos? — volto a andar pelo corredor em direção ao elevador que fica do hall de entrada. Chamo o elevador que não demora nada a abrir suas portas.

— Você é uma mulher estonteante, Paola — Michael fala ao entrar no elevador e me encara de um jeito diferente. Entro e me posiciono ao seu lado. Ele coloca às duas mãos para trás e com sua postura reta olha para as portas que estão se fechando.

— Obrigada Michael! — ele vai ficar me elogiando assim até quando? — O que a gente vai assistir? — pergunto a ele — Estou pensando em assistirmos "O Pecado Mora ao Lado" de Marilyn Monroe — seu semblante se ilumina.

— Ótima ideia! — as portas se abrem. Saio e ele vem logo após. Logo na entrada tem uma máquina de pipocas, refrigerante, algumas vitrines com chocolates e todos os tipos de doces. Na porta há uns vinte passos é a entrada para a sala com uma tela que vai de um lado a outro da sala.

— Nessas vitrines refrigeradas tem todos os tipos de doces, chocolates, etc. Tem pipocas ali! Refrigerantes ali! — vou apontando enquanto ando pela sala que é bem iluminada. Vou até à porta e espero por Michael, que está mexendo na máquina de pipocas. Parece que ele vai pegar uma pipoca de chocolate.

— Esse lugar é o paraíso! — ele brinca enquanto pega sua pipoca e vem até mim — Você fez um ótimo trabalho aqui! — fala com um sorriso lindo desenhado em seu rosto — Vamos dividir a pipoca? Então pegue um refrigerante para dividirmos também! — fala antes que eu responda sua pergunta. Aceno positivamente para ele e vou até à máquina de refrigerantes. É tão bom ter companhia.

Best Of Joy | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora