45. Suspeita

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Paola Kendrick
Recanto Kendrick-Jackson, Londres
15 de julho de 2009, 08:19

 Preguiçosamente me espreguiço. Ao abrir os olhos sinto uma sensação enorme de paz, porém, ao mesmo tempo, sinto um cansaço enorme. É como se eu houvesse feito uma longa caminhada na noite anterior. As janelas estão abertas e uma brisa leve entra pelo quarto. O sol lá fora está fraco, mas, ilumina muito bem o enorme e luxuoso quarto de decoração moderna misturada com vitoriana. Arrasto meu braço direito pela cama procurando por Michael, mas ele não está aqui. Me sento na cama e olho para o lado dele da cama. Michael muitas vezes acorda muito depois de mim, o que aconteceu hoje?

 Ele está chateado por algo que acabei dizendo ontem sem pensar? Não sei ainda como ele é após uma briga. Sou o tipo que briga hoje e amanhã estou leve, não carrego nada que me falam em uma discussão. O que falo e falam para mim em uma discussão fica na discussão. Não trago para o futuro como uma bomba para jogar na cara da pessoa depois.

 Gosto de levar minha vida assim, com leveza. Deixar as coisas no passado é uma das minhas virtudes. Outra que também tenho muito orgulho é minha facilidade em perdoar. Eu já perdoei Thommy, o perdoei enquanto ele estava em seu leito de morte, porém, claro que muita coisa ainda dói. Mas, estou a um passo de deixar tudo isso para trás e agarrar mais firme do que nunca meu futuro com Michael.

 Michael parece ser um homem que só chora quando algo realmente machuca, como ele mesmo gosta de falar, ele tem "pele de rinoceronte" e ontem ele chorou. Chorou e me pediu perdão. Isso é novo para mim, foi bom ver que estou investindo tudo de mim em um relacionamento que realmente dará em algo. Que sorte a minha apostar tudo logo em Michael.

 Ontem a noite foi tão importante para nosso relacionamento. Michael é um homem que ouve e só então fala, ele não é o tipo que tenta se justificar, ele apenas reconhece o erro e pede desculpas. Tenho a impressão de que quando ele não está errado, isso não acontece. Foi bom prestar atenção nisso porque, se futuramente brigarmos de novo e ele tiver uma reação contrária a de ontem, já vou entender que sou a errada da história e recuarei. Deixarei ele falar e então, vamos nos entender.

 O diálogo e paciência fazem parte do meu âmago desde que cheguei nesse mundo. Toda a ira e sangue no olho que minhas irmãs têm, falta em mim. Não foram apenas os nutrientes que aquelas duas roubaram de mim, me roubaram uma possível Paola barraqueira. Seria interessante ter um lado desse. Talvez eu até tenha, um dia eu adoraria sair do sério a ponto de avançar em alguém.

 Claro que eu apanharia, mas, seria interessante experimentar um pouco de fúria e em vez de correr para sufocar o sentimento eu apenas dar um belo tapa na pessoa e a olhar firmemente com um olhar de soberana, mas, sem dúvida por dentro vou estar morrendo de dó por ter batido em alguém. Não consigo me imaginar fazendo algo assim.

 Acho que nunca fiz isso antes, bem, tirando a vez que acertei meu irmão John com meu tamanco sem querer e chorei por meia hora após ter visto sua testa sangrar. Ele tentando parar o sangramento com a palma de sua pequena mão enquanto tentava me consolar. Ele era quem precisava de consolo, estava apavorado. Não apavorado pelo sangue ou pela dor que lhe causei, mas, por eu estar chorando. Nada enfurece mais John do que saber que chorei. Me lembro quando ele descobriu a última traição de Thommy, John acabou com ele.

 Me levanto da cama e em passos lentos ando até o banheiro. Fecho a porta logo atrás de mim, vou tirando a roupa e deixando as peças pelo caminho até nosso chuveiro duplo. Normalmente venho, paro em frente ao espelho, escovo os dentes e cuido da minha pele. Hoje eu só quero um banho morno. Me direciono ao chuveiro esquerdo e o ligo. Ajusto a água do chuveiro e entro. Está na medida certa.

— Quero que minha esposa possa tomar café da manhã à vontade sem ser vista, mas, quero que ela tenha uma bela vista do jardim! — Michael fala em um tom calmo e, ao mesmo tempo, autoritário para alguém que está com ele, na verdade, parece que tem algumas pessoas com ele. Escuto alguns passos pesados e sinto os passos dele. Os passos de Michael são tão leves quanto sua presença. Espera... Ele falou que sou esposa dele? Que amor.

 Tudo sempre fica mais bonito e leve quando Michael está presente. Por isso tantas pessoas querem estar com ele e a atenção dele, por isso essa ânsia de muitas em querer sentar nele!

— Obrigado, muito obrigado! Deus os abençoe! — fala com sua voz tão doce e calma enquanto seus passos se afastam — Ali! — fala em um tom mais alto — Quero que posicione no centro! NÃO! Tem que ser no centro! Ali! Coloque ali! NÃO! Com carinho! Faça com amor! Não é necessário ter pressa! Tenha amor! — ele parece bravo, mas, ao mesmo tempo, tão amoroso. O que ele está aprontando?

 Depois de alguns berros e palavras doces, finalmente as coisas lá fora ficam silenciosas. Durante esse momento de manda e desmanda de Michael o escutei sendo rude com Nona, não é bem do feitio dele ser assim até onde sei. O que deve ter acontecido?

— Não me importa sua opinião, quero que saia do meu quarto agora mesmo! — fala firmemente como nunca vi antes. O que está acontecendo lá fora? O que Nona fez a Michael? Porque ele está tão chateado, ele não me parece ser o tipo que fica assim com ninguém. Ele com todos é sempre muito amoroso, gentil e de fala adocicada. O ver tratando uma mulher assim, dessa forma tão rude e grosseira é estranho. Não quero ser o tipo que fica contra a mulher e a favor do "coitadinho" do marido, mas, sinto que tem coisa aí e que Michael não é o errado na história.

Best Of Joy | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora