11. Afavel

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Paola Kendrick
Rancho Neverland, Los Olivos
25 de junho de 2009, 00:16

 Já acordou em um dia que era para ser normal e pensou, e se eu mudar algo hoje? O cabelo? O jeito que faço as sobrancelhas? A maneira como me comporto com pessoas que não valem meu tempo? Fico pensando, será que em algum momento da vida Michael acordou e pensou; o que mudarei hoje ao meu redor?

 E eu não estou falando do planeta, estou falando da vida dele. Das pessoas com quem ele convive, as pessoas que ele costuma priorizar. Todas as pessoas dependentes, seja de remédios como é o caso dele ou de qualquer outra substância, tende a ser muito aberto a pessoas ruins.

 Isso explica Conrad em sua vida. Não confio nele desde que coloquei meus olhos nele. E agora que sei que ele aplica propofol, algo que é poderosíssimo e sequer tem antídoto e que não dá pra reverter? Me deixou apavorada.

— Vem, deite-se aqui — bato levemente em meu ombro. Ele faz uma cara engraçada e logo após sobe na cama. Estamos no quarto dele. O plano é o ninar até ele dormir, como se ele fosse uma criança de dez anos. Quero que ele se sinta protegido e que consiga relaxar.

 Tratarei Michael como trato meu filho, sei que aos dez devemos ir deixando essas coisas de lado por conta do início da pré-adolescência, mas, não consigo. Sinto que é necessário que Stephan veja o quanto ele é importante. O quanto o amo e que eu sempre vou cuidar dele, mas, é claro que ele sempre terá o espaço dele.

 Não quero ser protetora demais, não quero que meu filho se torne um adulto retraído e com pensamentos arcaicos como eu, que ainda está se desconstruindo.

— Não é estranho pra você, já que é tão puritana? — ele brinca — Parece ser tão inadequado! — ele faz graça ao se deitar ao meu lado direito. Bato levemente duas vezes em meu ombro novamente. Michael se aproxima e deita sua cabeça em cima do meu peito direito. Levo minha mão até seus cabelos e faço um carinho suave em sua costeleta e de vez em quando passo a ponta dos dedos com carinho por sua bochecha. Ele está usando um pijama vermelho de bolinhas pretas. É uma gracinha.

— Alguém já cantou pra você dormir depois que cresceu? — sussurro para ele, que suspira pesadamente. Acho que não. Depois que você cresce, pensam que você é de ferro e o mundo que era tão leve se torna pesado... mas, e no caso de Michael que desde criança seu mundo é pesado? Me lembro de escutar sobre a infância dele e ficar muito triste.

— Feche seus olhos, me dê sua mão, querido
Você sente meu coração batendo?
Você entende?
Você sente o mesmo?
Estou apenas sonhando?
Isto que está queimando é uma chama eterna? — canto Eternal Flame baixinho para Michael que passa seu braço direito por cima de mim e me abraça.

— O que acha de fazermos um check-up geral amanhã? Tenho certeza que não fez nenhum antes de assinar o bendito contrato, não é? — pergunto bem baixinho para ele.

— Não fiz, não pediram, mas meu médico disse a eles que eu estava em forma quando eles questionaram a minha saúde há algumas semanas — suspira.

— Posso te examinar amanhã? Ou você quer outro médico? Tenho vários da minha confiança! — ele levanta a cabeça e me olha com uma carinha de cansado.

— Pode ser você — Michael leva a mão direita até o olho e o esfrega — Me conta sobre você e a sua família — fala baixinho voltando a encostar sua bochecha em cima do meu peito esquerdo.

— Bom, eu vim de uma gestação de trigêmeas, meu pai biológico é Sylvester Pritchett e ele me deu como se eu fosse um filhote indesejado. As minhas outras duas irmãs foram criadas por pessoas diferentes. Pilar ficou com a mulher incrível que nos deu a vida, Mariangel ficou com a mulher nojenta que era amante do meu pai que é uma longa história — Michael suspira pesadamente, mas, ele não está dormindo. Está apenas escutando.

— A minha sorte é que a família que me acolheu, os Kendrick, é extremamente amorosa e eu tive uma boa criação com milhares de privilégios — passo meu dedo indicador perto dos seus lábios lhe fazendo cosquinha, ele abre um breve sorriso.

— E eu tenho mais três irmãs filhas do meu pai, Pietra Stone, Petra Pritchett e Patrice! E dessa família maravilhosa que já estava esperando por mim, o John, ele é um doce e sempre cuidou de mim! É o meu irmãozinho ciumento!

— Você tem um exército e tanto com você — ele ri — Se dá bem com todos eles ou tem algum que você nem fala direito?

— Não, eu e os meus irmãos somos nós por nós sempre! Nunca ficamos brigados por mais de um dia! — encosto meu nariz em seu cabelo. Tem uma falha bem no meio, mas, quase não se nota graças aos fios em cima. É cheiroso, bem cheiroso.

— Isso é bom — balbucia — Criei meus filhos para serem assim — Michael me aperta um pouco mais em seus braços e pressiona sua bochecha mais fortemente contra mim — Minhas costas e meus dedos estão doendo — diz baixinho — Dói bastante — ele afunda seu nariz em minha pele.

— Tente levar seus pensamentos para longe, isso muitas vezes nos afasta das dores físicas! — levo a ponta do dedo indicador até a ponta de seu nariz e faço um carinho. Michael fecha seus olhos e suspira enquanto recebe esse carinho.

— Seu celular está tocando — Michael balbucia ainda de olhos fechados e com uma fala lenta. Olho para a mesinha lateral e realmente, está tocando. Como eu não me dei conta? Ele está tirando toda a minha atenção.

Pego meu celular e o trago para perto. É Daniel. Será que aconteceu algo? Ele não costuma ligar a essa hora da noite.

— Sim, Dan! — atendo.

— Só quero saber se está bem, se está tudo bem — escuto vozes e colher batendo em panelas... ele está cozinhando para sem tetos da região como em todas as noites — Me preocupo! — Dan fala baixinho. Seu tom realmente é de preocupação.

— Estou bem meu anjinho, o dia foi incrível e ele mais ainda, agora estou tentando o ajudar a dormir! — falo baixo enquanto olho para cada detalhe dele.

— Que bom, fico feliz e aliviado! — ele realmente soa mais tranquilo — Traz seu namoradinho para a minha casa amanhã. Anely e Joana vem pra casa e a família estará reunida. Vamos almoçar juntos!

— Amanhã? — por que tão em cima? — Tudo bem, amanhã pergunto se ele gostaria de conhecer o meu cunhado e a minha irmã!

— Coitado, logo de chegada conhecendo a família — ele ri — Vai ser bom pra ele ter mais amigos, eu acho — suspira — Me liga se ele quiser aparecer por aqui, tá? Tchau!

— Tudo bem, até depois. Tchau! — sussurro. Michael acaba de entreabrir os lábios, solta um suspiro bem pesado e profundo. Ele dormiu! DORMIU!

Best Of Joy | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora