21. Inferno

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Paola Kendrick
Rancho Neverland, Los Olivos
30 de junho de 2009, 10:26

 Em pé ao lado da mesa do jardim, eu arrumo tudo para o lanche dos meus amores. Fiz um bolo seco e o outro com cobertura de chocolate. Percebi que Michael gosta de comer algumas coisas acompanhado de café, então, fiz o bolo seco e deixei do lado uma garrafa térmica com café. E claro, fiz um suco de amoras para os pequenos.

 Me sento em uma das seis cadeiras da mesa do jardim, a mesa é bem grandinha e é muito bonita. Ela é de ferro na cor preta, seus detalhes são lindos. Ela é toda floral e as cadeiras também estão nessa mesma linha. É simplesmente lindo o conjunto de mesa e cadeiras. Pego o jornal que o motorista me entregou e deixo perto das xícaras e da garrafa térmica. Lerei um pouco antes de Michael e as crianças aparecerem para o lanche, quero dar minha total atenção para eles enquanto estiverem aqui.

 Gosto de estar presente, é importante estar presente. Futuramente a criança ou o adulto que você fez questão de dar atenção vai se lembrar do momento que você se fez presente. Estar presente é dar total atenção à pessoa. Nada de distrações, apenas pura atenção. Vale tanto a pena e faz com que as pessoas se sintam bem com você. Melhor que uma pessoa que sabe dar conselhos é uma pessoa que sabe ouvir e apreciar sua presença.

 E eu sou uma pessoa que aprecia. Sempre demoro mais do que o comum para terminar uma refeição porque quero degustar com calma. Vinho e sucos bebo muito calmamente aproveitando cada segundo. Talvez eu tenha isso enraizado dentro de mim devido a todas as pessoas que vi falecerem perto de mim ou graças às minhas mãos enquanto eu trabalhava como cirurgiã geral. Isso faz qualquer pessoa apreciar mais a vida.

— Nossa! — Michael fala ao longe. Ele andando em passos rápidos e com um sorriso lindo se aproxima da mesa — Que lindo! — fala ofegante, ele se vira para ver onde as crianças estão e então, ao notar que estão concentradas em seus mundos, ele se inclina em minha direção e me dá um selinho. Nesse momento sinto um gostinho de namoro escondido.

— Como você está se sentindo, meu bem? — pergunto meio sem graça. Olho para baixo e seguro um sorriso. Fico sem jeito com esse tratamento porque para mim ele não me parecia ser amoroso assim.

 Se bem que, isso é o mínimo. Para ficar comigo, tem que ser muito amoroso, calmo e gentil. Michael cobre todos os requisitos, mas, eu adoraria que ele fosse um pouquinho mais. Bem, até começarmos algo oficialmente consigo dizer isso a ele!

— Vou pedir para Dan trazer Stephan pra cá amanhã, tudo bem? — Michael com um sorriso enorme acena positivamente — Ótimo, então, assim que terminarmos o lanche vou falar com ele! — Michael assente com um aceno e então, ele começa a se servir. Corta um pedaço do bolo seco e coloca um pouco de café em uma das xícaras.

— Sabe algo que notei? Sua irmã que veio aqui naquele dia, a Petra. Ela não gosta de mim, deu pra vê na cara dela! — fala enquanto leva um pouco de seu bolo até a boca.

— Ela gostou, sim, mas, ela sempre guarda para ela. A infância e vida dela é muito solitária, ela criou essa casca toda durona e mal-educada para se proteger. Quando ela era apenas uma garotinha de 6 anos e descobriram que ela era um super gênio, pararam de a tratar como uma criança que era o que ela era. Acreditavam que por ela ser um super gênio, ela não precisava de amor e carinho. Pensavam que ela já era adulta e que amor e carinho eram coisas de criança, sabe? Dá para acreditar? — Michael desce seu olhar.

— Eu nunca poderia imaginar — suspira — Por isso Patrice é o completo oposto dela? — pergunta baixinho. Aceno positivamente com a cabeça para ele.

— A Petra foi emancipada com 9 anos, fez faculdade de medicina e depois direito. Ela terminou tudo isso muito novinha, então, imagina, só coisa de adultos. Chegamos perto dos 30 já sentindo que fizemos tudo o que poderíamos ter feito, bate aquele vazio e ficamos por um tempo sem rumo. Imagina ela que aos 20 já era uma das maiores advogadas do país? — Michael arregala os olhos para mim.

— Então, ela é aquela criança super inteligente que os jornais viviam falando nos anos 70? — pergunta abismado — Deve ter sido tão difícil, tanta responsabilidade — desce seu olhar novamente.

— Por isso sempre que posso lembro a todos que Petra é assim mais fechada e ríspida porque nunca a acolheram. Nunca levaram as dores dela em consideração. Minha irmã leva um tiro no trabalho dela e continua trabalhando como se nada tivesse acontecido, em casa, sem anestesia ela tira a bala e costura o lugar. Petra não é mal-educada como apontam, ela só aprendeu que as pessoas não ficam para sempre e isso a machuca muito. Por isso ela não foi te cumprimentar. Ela sempre pensa que as pessoas vão embora e que vão a deixar — suspiro — Essa é a Petra, é a minha irmãzinha mais nova e a pessoa que mais amo no mundo!

— Te ouvindo falar dela assim me deixa feliz, você é uma pessoa incrível Lola — Michael fala entre suspiros — E você diz isso a ela?

— Eu queria tanto que ela tivesse mais carinho com ela mesma, que ela entendesse que não precisa ser forte o tempo todo! E sim, eu sempre digo isso a ela! — suspiro — Tudo bem que agora ela é chefe da segurança nacional, mas, não precisa estar sempre alerta!

— Mas, você ainda a vê como uma criança — ele ri — É bom que você dê esse acolhimento para ela, eu fico muito feliz em saber que você é desse jeitinho lindo com todos! — tombo a cabeça para o lado e sorrio para ele feito uma boba.

 Desvio meu olhar de Michael e direciono meu olhar para as crianças que estão brincando perto da ponte de pedras. Eles são tão lindos e estão tão felizes. Bigi que é a cópia de Michael está entre os gritos. A risada dele é tão alta quanto a de Prince e Michael.

— Mas que porra é essa? — Michael fala firmemente me tirando desse momento fofo. Olho para ele que está encarando o jornal, que está posicionado ao lado esquerdo de sua xícara de café... Olho para o jornal, tem uma foto de Michael e seus filhos com seus rostos cobertos e em destaque; "sei tudo sobre o histórico biológico dos três, inclusive a identidade da mãe do Blanket", diz Conrad Murray para o jornal e logo embaixo Lisa Presley "Fui 'sugada' pela personalidade de 'coitado' de Michael e assumi a responsabilidade de tentar mudar sua vida".

Best Of Joy | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora