32. Protegida

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Paola Kendrick
Recanto Kendrick-Jackson, Londres
3 de julho de 2009, 23:01

— Fale comigo Pãozinha, me diga o que você está sentindo agora. Fale tudo o que você quiser, estou aqui como amiga, não como profissional! — Kate diz com sua voz calma do outro lado da linha para mim. Aqui na sala me deito no sofá de três lugares e levo meu celular para a outra orelha. Michael já está no nosso quarto e as crianças na cama como eu já esperava.

— Você me conhece, sabe que não sou do tipo insegura, mas, por alguma razão, essa sementinha da insegurança tem se desenvolvido assustadoramente dentro de mim! — mordo o lábio inferior com força — Estou sentindo uma insegurança enorme porque eles tiveram uma história e é fato que ele ainda sente alguma coisa por ela, sei que não é amor, mas, é pior... é mágoa. E a mágoa te faz lembrar sempre da pessoa. É o mesmo que tenho por Thommy e ele nunca sai dos meus pensamentos. E alguém habitar em nossos pensamentos é muito perigoso!

— Ai, calma Paola. Você nem sabe se ele realmente pensa nela. Se ele pensasse nela, estaria atrás dela agora e não com você, sua esquisita! — Kate fala em um tom cômico — Vocês dois estão morando juntos em uma casa nova. Construindo tudo com muito carinho, não tem porque ficar insegura. Sei que não é esse tipo de conselho que eu como profissional devia te dar, até porque, não é tão fácil assim se livrar de inseguranças! — ela ri.

— Se fosse fácil eu teria feito durante a minha adolescência — digo entre risos para ela. Minha adolescência foi uma bagunça emocional. Eu nunca estava 100% feliz e sempre estava entediada. Nunca nada estava bom e o mundo tinha que sempre estar de acordo com tudo o que eu pensava ser o certo. Sem contar as inúmeras vezes que fiquei com raiva por achar que o mundo me odiava só porque as coisas não aconteciam como eu queria.

— Pensa comigo Pãozinha. O cara está solteiro há anos, nunca levou nenhuma mulher para apresentar aos filhos e você em menos de uma semana foi apresentada como namorada para os filhos dele. Em menos de duas semanas ele te pediu em casamento, compraram uma casa e estão morando juntos e até dormindo juntos. Levando vida de casados e tudo. Pense bem, olhe ao redor, você está enxergando ela? Não, né? É porque ela não tem chance alguma! Conte sim a ele sobre a ligação, sobre as flores. Dependendo do que ele disser, você já vai saber o que fazer.

23:52

 Em passos lentos saio do banheiro e ando em direção a nossa cama. O cobertor é floral de fundo branco. Michael está sentado na cama com as costas encostadas na cabeceira estofada de veludo na cor bege. A cama é box king size porque Michael tem medo de dormir em camas antigas e alguma coisa que vive lá puxar o é dele. Tive que trocar a cama de Stephan em Nova York pelo mesmo motivo.

 Ele e meu filho tem isso em comum, medo de coisas irreais, mas, eu não julgo. Ao contrário. Assim como sempre abracei e consolei Stephan quando ele chorou por medo de algo embaixo de sua cama, farei o mesmo com Michael. É importante abraçar a dor do próximo, mesmo que você não entenda bem o porquê que dói tanto. Você não tem ideia, não passou por isso. Na dúvida, abrace e fique em silêncio.

— Hoje chegaram umas flores aqui, girassóis — falo ao me posicionar ao lado direito da cama. Michael, que está sentado lendo seu livro, apenas olha para mim por cima de seus óculos de leitura — No cartão que amassei de raiva e pisei várias vezes dizia "Para Paola Kendrick, as flores favoritas de Michael. Sei que você foi seu girassol na tempestade e eu sou grata por alguém ter cuidado dele quando eu desisti, quando todos desistiram. Se precisar de ajuda com o funeral me avise. Assinado; LMP." — Michael fecha seu livro sobre guerra persa, tira seus óculos e coloca seu livro e óculos em cima da mesinha lateral ao seu lado.

— Parece até que o casamento acabou há 1 ano e não há 14 anos — diz com estranheza enquanto se levanta da cama. Ele abre os botões de sua camisa de pijama e o tira, em seguida abaixa suas calças e as tira também. Coloca seu pijama em cima de uma poltrona perto da janela e apenas de cueca volta para cama, pronto para dormir. Parece que ele vai começar a dormir assim. Ele Se senta e me encara bem tranquilo. E eu finjo que o ato de ele tirar a roupa e andar de cueca não me afeta.

— Quando eu li isso até comentei com a Fiona que estava ao meu lado, esse trecho onde ela fala "quando eu desisti" como se ela estivesse se envolvendo com você e então, eu apareci e ferrou tudo. Se lembra que ela costumava ligar para você antes de você trocar de número? Uma vez ela ligou e você não atendeu — olho para o outro lado e suspiro — E aí Fiona me lembrou de algo que contei a ela sobre você ter me dito que conversaram pela última vez em 2005 enquanto você estava passando pelo tribunal — desço meu olhar.

— E então Fiona comentou algo interessante sobre a visão dela desse trecho que é quase que um "obrigada por me substituir" e isso fez meus pensamentos irem longe, mas aí, pensei melhor e decidi ligar para agradecer as flores e esclarecer as coisas! — respiro profundamente — Me identifiquei como sua noiva, agradeci pelas flores, esclareci sobre a notícia falsa e contei que você estava dormindo bem tranquilamente em nosso quarto! — olho para cima.

— E então, ela ficou aliviada e falou "pede pra ele me ligar por favor" e eu disse que sim — faço um bico involuntário. Meus olhos se enchem. Ele desce da cama e caminha até mim se posicionando em minha frente — Eu queria ter dito não — uma das lágrimas escapa abrindo caminho para toda uma enxurrada de lágrimas descer junto.

— Querida — ele me puxa para seus braços posicionando sua mão direita atrás da minha cabeça e sua mão esquerda em minhas costas — Está tudo bem, já foi — sussurra ao meu ouvido — Não precisa ficar com medo de nada, eu não sou aquele maldito do Thommy. Cuidarei de você e do nosso amor como venho prometendo, se eu já não tinha contato com ela antes, agora então já era. De boas intenções o inferno está cheio, e para mim foi claro que o cartão não foi com uma boa intenção, foi para plantar dúvidas na sua cabeça!

— Fiona também teve essa impressão — falo com um pouco de esforço porque quase não sai. Parece que estou com um nó na garganta por causa do choro. Como odeio não conseguir engolir o choro.

— Vou conquistar a sua confiança pouco a pouco, serei merecedor de tudo o que vem fazendo por nós, eu juro. Agora essa atitude dela, nunca vou a perdoar por fazer a minha garota chorar — ele apoia seu queixo em minha cabeça e começa a cantarolar algo doce e tão gostoso de se ouvir. Aos poucos vou me acalmando e as lágrimas vão indo embora. É bom ouvir isso, é maravilhoso. Me dá uma paz, uma confiança fora do comum.

Best Of Joy | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora